A realidade e as pressões políticas tornam imperativo o estabelecimento de algum plano emergencial, por parte do governo, para amparar as classes menos favorecidas e que estão sob o risco de pobreza extrema, mas antepondo-se a esta situação está a situação fiscal do país, que não revela fontes de financiamentos imediatas.
A convicção plena é que algum tipo de programa será concedido temporariamente, por inevitável, e causa espécie o governo e até os analistas se surpreenderem com os sinais emitidos pelo índice do varejo em dezembro com queda acima de 6%, já que sabidamente de forma inconteste foi os programas que deram suporte a discreta recuperação da atividade econômica ao longo da pandemia, de vez que eram o sustentáculo do consumo.
Esta verdade inconteste que foi a fonte principal do consumo e é fato tão latente que chega a surpreender o fato da queda ser vista como surpresa, havendo ainda perspectivas de que em janeiro a queda seja maior. Afinal, os programas assistenciais do governo converteram à condição de consumidores um grande contingente de não consumidores.
O paradoxo que causa inquietações aos setores econômicos e ao mercado financeiro é a questão de “gastar sem ter”, por isso esta relação de causa e efeito provocam “frisson” e acentuam incertezas num ambiente em que o país está no limite de sua capacidade financeira o que acentua a perspectiva de agravamento do risco fiscal, com eventual rompimento do teto orçamentário.
Por outro lado, a pandemia acentua seus números de óbitos diários, tornando impositiva a postura preventiva por parte da população até porque o processo de vacinação está lento, e, a imunização em grau satisfatório da população pode avançar para 2022.
A sensação é que o país recebe agora a “fatura” do desleixo com que tratou a gravidade da pandemia e da vacinação, como se este fosse o preço inquestionavelmente a pagar.
Por outro lado, fica cada vez mais evidente que o retardamento das discussões e implementações das reformas, tenham sido quais forem as causas e causadores, também apresenta a sua “fatura” quando ocorre a exaustão dos recursos.
Então, quando IBOVESPA e o dólar, em especial como ativo de segurança, repercute com volatilidade frente ao cenário presente, não é porque “há irritação”, mas porque em economia há a sensibilidade aos indicadores e, principalmente, quando emanam incertezas como no momento atual.
Numa visão mais cética, algumas instituições já começam a rever suas projeções para este ano, situando o preço do dólar em patamar mais elevado do que estimado, juro mais alto e pressionado por inflação mais aquecida, e, sendo reticentes quanto a recuperação do emprego.
Este “sentimento” de que 2021 “já foi” é absolutamente desalentador, por isso urge que o governo e o Congresso acentuem as discussões e aprovações das reformas tributária e administrativa, efetivas prioridades, para que sejam retomadas as perspectivas de recuperação da atividade econômica.