Uma notícia “boa”, outra má
A segunda-feira é atípica pelos resultados da Petro, mas tanto os resultados da companhia como o restante do noticiário econômico são típicos...
O relatório Focus deu continuidade à deterioração das expectativas para a economia.
A mediana das projeções dos agentes de mercado para a inflação oficial subiu mais um pouco, de 8,29% para 8,31%. Considerando o top 5 dos analistas que mais acertam, o IPCA para este ano supera 9% (!).
Nós estamos vigilantes...
A “boa” notícia é que a mediana de projeções para a atividade econômica este ano ficou estável, antevendo queda de 1,2%.
A má notícia é que, com o ajuste fiscal manco, a ameaça de aumento de impostos ganha força, e isso naturalmente pressiona a atividade.
Mãos de tesoura
Esta semana o governo deve anunciar o contingenciamento de gastos no Orçamento deste ano...
O ministro Levy defende um corte de R$ 78 bilhões.
Já Mercadante defende algo mais próximo de R$ 60 bi.
Quem tem mais força hoje?
Seja um ou outro, um corte importante é condição sine qua non para o ajuste fiscal - considerando que a meta de superávit para o ano é de R$ 66 bilhões.
Isso tudo para entregar uma meta de 1,2%, que passa longe de estabilizar a dívida/PIB, de um PIB decrescente.
Dificilmente a meta será entregue e o mercado já se contenta com algo em torno de 0,8%/0,9%.
O mundo dá voltas
Corta despesas de um lado, tenta arrecadar mais de outro...
Após afirmar na semana passada que “as pessoas têm que ter muito cuidado para quando votarem não criarem uma nova necessidade de mais impostos”, agora a coisa fica mais tangível:
Um dos pontos levantados por Levy, segundo as manchetes, recai novamente sobre a taxação dos dividendos.
Dejá vù?
A proposta já havia sido defendida anteriormente em 2004, quando – adivinha – Joaquim Levy era secretário do Tesouro. E não passou.
A proposta, polêmica, não deixa de ser um desincentivo ao investimento em ações, e recai sobre a questão de bitributação (ou não?)...
O debate é caloroso em torno da suposta bitributação. Ora, se os dividendos são pagos com base no lucro líquido, e o lucro líquido vem depois da empresa ter pago os impostos. Essa é a argumentação contrária à medida.
Em contrapartida, outros defendem que um fato gerador é o lucro da pessoa jurídica, e outro fato gerador seria o lucro da pessoa física. Assim, portanto, a medida não representaria bitributação clássica.
Seja como for, as margens de lucro estão já bastante comprimidas e o empresário sofreria bastante com tributo sobre dividendo. Ademais, o argumento de que há tributação de dividendos no resto do mundo esconde o fato de que não há taxação na cabeça (sobre receita) em outros lugares.
Por que a alta de Petro não se sustenta
Não que a Petrobras esteja tão preocupada com isso, até porque não pagou dividendos no último exercício.
Poxa, mas página virada, nova administração, ela gerou R$ 5,3 bilhões de lucro no primeiro trimestre (!).
Os recibos de ações da estatal (ADRs) subiram fortemente no mercado internacional e as PETR abriram esta segunda-feira com valorização.
Agora, por que essa alta não se sustenta?
Pois quem vê lucro (contábil) não vê o coração do resultado.
O motivo da apreciação inicial se dá, grosso modo, porque Petro superou a média de projeções para o lucro. Mas, falamos na sexta, o desvio padrão dessas projeções era gigantesco: desde bancos de investimento apostando em prejuízo de R$ 2 bilhões até lucro de R$ 7 bilhões.
Agora, olhando a sustentabilidade da coisa...
Com todos os astros alinhados, ou, em um trimestre com a possibilidade de arbitragem nas importações, a estatal queimou R$ 4,9 bilhões de caixa. Fluxo de caixa líquido, o sobra de fato (caixa) para a empresa.
Com isso, ela agregou mais um tento e agora acumula apenas 4 trimestres de fluxo de caixa líquido positivo nos últimos 29 trimestres (!!!!).
Novamente: as contas da estatal simplesmente não fecham. A geração de caixa operacional (R$ 21,5 B) novamente não foi suficiente para fazer frente aos investimentos (capex de R$ 17,8 B) mais o resultado financeiro (negativo em R$ 5,6 bilhões), que, juntos somam R$ 23,4 bilhões.
Note, em um trimestre que já aparecem os esforços de redução de investimentos da companhia.
A dívida bruta foi a R$ 400 bilhões. A dívida líquida de caixa foi a R$ 332 bilhões. A alavancagem a 52% dívida líquida/patrimônio líquido, contra limite de 35% do plano de negócios...
Por isso o resultado foi típico, infelizmente. Típico de quem precisa fazer aumento de capital.