Recentemente, li uma matéria que me intrigou muito. O artigo tenta sugerir que a estratégia de Value Investing, por mais que tenha consagrado diversos investidores ao longo dos anos, pode não funcionar mais daqui para frente. Isso me chamou a atenção porque o chamado investimento de valor, aquele que busca empresas atrativas por meio de uma análise de valuation, é a tese que sigo nas minhas aplicações.
Um dos argumentos do texto é que elas performaram pior do que as chamadas empresas de crescimento nos últimos anos e, principalmente, durante esta crise causada pelo coronavírus (covid-19).
Este argumento simplesmente não faz sentido. Primeiramente, analisando os critérios de composição do índice Russell 3000 Value Index, vemos que o mesmo ranqueia as ações, em teoria de valor, com base em baixos múltiplos P/VP e com poucas expectativas de crescimento.
É ignorância pensar que Value Investing se baseia no ato de comprar ações com baixos múltiplos P/L, EV/EBITDA ou qualquer um que seja e, infelizmente, este pensamento está perpetuado na cabeça de milhares de investidores.
Um dos motivos, creio, é a abordagem que Benjamim Graham utilizava, totalmente matemática e quantitativa, sem considerar as especificidades da empresa em que investia. Graham foi um gênio e revolucionou o mundo dos investimentos, pois utilizava a análise de múltiplos quando esta se configurava como uma vantagem competitiva.
No entanto, as coisas mudaram, e o cenário não é mais o mesmo. Como já disse diversas vezes, a análise por múltiplos é condição necessária, mas não suficiente para a avaliação de um investimento. O Value Investing é um conceito simples, mas extremamente difícil de ser aplicado, principalmente por conta do comprometimento com o longo prazo necessário.
Em carta aos acionistas, Warren Buffett e Charlie Munger afirmam que a estratégia de investimentos da Berkshire Hathaway consiste em analisar ações como se estivessem avaliando uma empresa inteira para aquisição. Os investidores querem negócios que: a) estejam em seu círculo de competência; b) tenham perspectivas favoráveis de longo prazo; c) sejam geridos por pessoas honestas e competentes; e d) estejam sendo negociados a preços atrativos, com uma confortável margem de segurança em relação ao seu valor intrínseco.
Separar ações entre valor e crescimento simplesmente não faz sentido pois o crescimento é um componente muito importante para o cálculo do valor. Como você sabe, o valor intrínseco de uma empresa é a soma dos seus fluxos de caixa futuros descontados a valor presente. Dessa forma, quanto maior a taxa de crescimento dos fluxos de caixa, desde que superior ao custo de capital, maior o valor da empresa.
Além disso, Buffett acredita que o termo “Value Investment” é redundante, pois, o que seria uma estratégia de investimento se não o ato de buscar valor para justificar a aquisição de uma determinada empresa? Pagar a mais do que o valor intrínseco de uma empresa na esperança de vender para alguém não é investimento, e sim especulação. O que também não tem problema, desde que você saiba que está especulando e sinta-se confortável com isso.
Dessa forma, toda estratégia de investimento focada em estimar, após uma análise completa, o valor intrínseco de uma companhia deveria ser considerada Value Investing, pois você está adquirindo mais do que está pagando. Não interessa o múltiplo pelo qual a ação está sendo negociada. Se você comprou-a com uma margem de segurança confortável em relação ao seu valor intrínseco, você foi um value investor.