O Brasil não sofre nenhum movimento de fuga de capitais e tem um movimento no mercado à vista absolutamente normal, alternando fluxo cambial com saldos positivos e negativos ao longo do mês, sem que ainda não tenha sido exigida qualquer intervenção recente do BC fornecendo linhas de financiamento em moeda estrangeira para ancorar a demanda à vista e, muito menos, oferta de contratos de swaps para dar suporte a proteção cambial.
Enfim, no câmbio tudo segue dentro da normalidade e o preço do mercado à vista reflete diretamente o comportamento dos detentores de posições “compradas” e “vendidas” no mercado futuro, que tende a apreciar o preço do real, da mesma forma que em momento anterior, quando prevaleceu forte movimento especulativo, a tendência foi de depreciação do preço do real.
O foco é o valor paritário real versus dólar a partir das posições locais, afastando a leitura contumaz de “efeitos externos, etc...”.
O volume de ambas as pontas situa-se em torno de US$ 37,0 Bi, com os estrangeiros predominando como comprados e bancos e fundos como vendidos.
Após o fracasso do movimento especulativo que “orquestrou” de forma insustentável o preço da moeda americana até R$ 4,20, meio do caminho para o “sonho” dos especuladores que era conduzi-lo a R$ 5,00, o que durou pouco mais do que um mês e meio, a derrocada do preço com consistente depreciação do dólar o reconduziu ao seu preço tido tecnicamente como de equilíbrio no entorno de R$ 3,80, exato ponto em que foi deflagrado o movimento especulativo em meados de agosto.
A trajetória ocorrida de R$ 3,30 a R$ 3,80 até meados do ano foi interpretada como normal, efetiva e necessária correção da trajetória do preço, adequando-o à realidade do país no momento e agregando o prêmio que envolvia contextos de riscos que não vinham sendo considerados, como o peso da dívida fiscal brasileira, acirramentos políticos e mais riscos externos, em especial os consequentes dos ajustes da taxa de juro americano.
Neste interregno entre R$ 3,70 e R$ 3,80 o preço passou a flutuar refletindo o embate entre “comprados” e “vendidos” no mercado futuro e este movimento cotidiano é que vinha determinando a volatilidade dentro deste intervalo.
Contudo, aparentemente os “comprados” demonstraram algum desconforto com a tendência do viés de baixa levar o preço mais para próximo de R$ 3,70, e no afã de evitar maiores prejuízos passaram a sistematicamente buscar reverter suas posições e isto é que provocou e provoca a queda do preço a abaixo de R$ 3,70.
Ocorre que os “comprados” embora num momento desfavorável e sentindo os efeitos de seus movimentos de reversão de posições, sempre que o preço cai demasiadamente procurar comprar, ou melhor, recomprar a um nível mais baixo do que reverteram para num movimento estratégico melhorarem o preço médio de seus estoques.
É importante que se observe e acompanhe o comportamento dos “players” neste mercado futuro para que se torne mais fácil o entendimento do comportamento do preço do dólar no mercado.
Os “vendidos” tem sido céticos e ao primeiro sinal de depreciação do preço da moeda americana forçam a intensificação que atende aos seus interesses, levando o preço aos extremos em que nem sempre são consolidados grandes negócios.
Enfim, este movimento envolvendo “comprados” e “vendidos” acaba provocando volatilidade, criando um movimento tipo “gangorra”, agora mais estreito entre R$ 3,70 e R$ 3,75 ao invés de R$ 3,70 a R$ 3,80.
Tudo a ver com razões pontuais e internas e quase nada com o cenário externo neste momento.
Temos posto nosso ponto de vista que o preço da moeda americana abaixo de R$ 3,70 não é sustentável, visto que apesar do país não ter quaisquer riscos no setor cambial, há uma enorme gama de problemas absolutamente desafiadora ao novo governo e que enseja, inicialmente conhecer-se os programas e os gestores e depois a viabilidade de suas implementações, que transformados em risco e prêmio justificam o preço até mesmo em torno de R$ 3,80 nesta fase.
Queremos crer que somente após definido o novo governo, seus programas e planos para reativação da atividade econômica, com foco na superação da crise fiscal, desemprego, renda e consumo, e, evidentemente o nome dos gestores, o preço da moeda americana, se tudo se configurar na linha positiva, terá condições de retroceder a abaixo de R$ 3,70 de forma sustentável.
Na eventualidade de ocorrer apreciação exacerbada do real frente ao dólar fora do momento, ficará o risco de, por insustentável por ser carente de soluções dos relevantes problemas que enfrenta o país, voltar a acontecer a depreciação da moeda nacional frente ao dólar, e isto não seria bom.
A B3 também está dependente da convicção de reativação da economia, porém tem ações de cias que interagem internacionalmente e por isso reflete os problemas de aversão a riscos, etc... A percepção é que tenha espaço para deslanchar atingindo forte alta, mas desde que a economia brasileira ganhe fortalecimento de fundamentos ancorando a reativação da sua atividade. Por enquanto, algo entre 85.000 e 95.000 parece sensato.
Entretanto, é importante que o dólar tenha retomado com sustentabilidade o preço no intervalo de R$ 3,70/3,75, pois isto impactará favoravelmente retrocedendo o ímpeto inflacionário do IPCA e afastando a possibilidade de elevação da SELIC este ano.
A queda do preço do dólar e a ausência de pressões contribuirão também para maior serenidade no comportamento do juro.
Havidos os ajustes no câmbio e no juro, com serenidade no comportamento da B3, é necessário dar-se um tempo para que fique mais clara a estratégia do novo governo.
Após postura eufórica ao início dos primeiros sinais de propensão a eleição de candidato preferido pelo mercado financeiro, o mesmo tem reagido de forma madura ante a propagação demasiada de posts ideológicos e sectários pelos meios de comunicação, mantendo-se acima dos ruídos.
Enquanto isto, sensatez!