Seguro de vida resgatável soa inteligente. Parece aquele combo 2 em 1 perfeito: você garante proteção e ainda consegue resgatar parte do valor no futuro, com rendimento.
Mas essa mistura, que aparenta eficiência, esconde um problema grave. Na prática, você pode estar pagando caro por um seguro… e investindo mal sem perceber.
Vamos direto ao ponto: a função de um seguro de vida é proteger. E proteger bem.
É essencial para quem tem dependentes financeiros, para autônomos que querem resguardar a família em caso de imprevistos, para ajudar no inventário e até no planejamento sucessório. Isso não se discute. Seguro de vida é proteção, ponto final.
O problema começa quando ele é vendido como investimento garantido — e essa confusão pode comprometer seus objetivos financeiros.
O que está por trás do seguro resgatável?
Ao analisar a proposta como um investimento, os pontos de atenção aparecem rápido:
1. Custos embutidos que corroem o retorno
Taxas administrativas e carregamento consomem uma fatia significativa da rentabilidade. Segundo estudos do Proteste.org.br, os custos podem comprometer mais da metade do retorno ao longo do tempo. E lembre-se: essas taxas são deduzidas do rendimento.
2. Rentabilidade abaixo da média de mercado
A “reserva resgatável” costuma oferecer TR + bônus fixo ou IPCA + 2% a 3% ao ano. Parece razoável até você considerar os custos. Após todas as deduções, o rendimento líquido pode cair para menos de 1% real ao ano — o que, em muitos casos, representa rentabilidade real negativa.
3. Baixa liquidez e penalizações no resgate antecipado
O valor só fica acessível após alguns anos, e mesmo assim, muitas apólices penalizam fortemente o resgate antecipado. O investidor só descobre isso quando tenta acessar os recursos — geralmente tarde demais.
E o risco oculto?
O seguro resgatável está entre os produtos mais comissionados do mercado financeiro. Isso significa que, muitas vezes, ele é oferecido não porque é o mais adequado — mas porque é o mais lucrativo para quem vende.
Esse desalinhamento de interesses é o que realmente ameaça o investidor.
A promessa de “investimento com proteção” cria uma falsa sensação de segurança. O resultado? Pessoas bem-intencionadas acreditando que estão construindo patrimônio, quando na prática estão recebendo uma rentabilidade que mal acompanha a inflação.
Como planejadora financeira e consultora independente, acompanho há anos histórias que se repetem: famílias que, ao buscar proteção, acabaram presas a contratos caros, pouco transparentes e com retorno pífio.
O que realmente funciona
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Seguro de vida deve ser usado com seu verdadeiro propósito: proteger financeiramente quem depende de você, especialmente em situações de risco, doença ou morte precoce.
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Investimentos devem cumprir seu papel de multiplicar patrimônio: com produtos que oferecem liquidez, clareza e potencial de crescimento real.
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Um bom planejamento financeiro exige separação de funções, coerência entre produtos e metas claras. Não é sobre conveniência — é sobre estratégia. E estratégia se faz com independência, não com interesses cruzados.
Conclusão
Tentar proteger e investir no mesmo produto pode parecer conveniente. Mas conveniência não é sinônimo de inteligência financeira.
Se você busca segurança real para sua família e crescimento patrimonial de verdade, a melhor escolha continua sendo separar com sabedoria: seguro protege. Investimento multiplica.
E para unir os dois com eficiência, o caminho passa por estratégia, diversificação e — acima de tudo — orientação financeira independente.