A última semana sem feriado do ano acumulou a pior performance do mercado acionário americano desde 2011.
Para um 2018 que teve a primeira metade com volatilidades baixas, o ultimo trimestre devolveu ao investidor o “respeito” ao risco, ou seja, não se alavancar mais do que o devido.
Fácil falar depois de tantas baixas – olhando para o pico do Nasdaq, as perdas já acumulam mais de 20% em apenas algumas semanas – mas bem ou mal o FED não respondeu aos mal-acostumados em ver o principal banco central do mundo se reclinar aos movimentos voláteis de curto-prazo em um (ainda) ambiente de muita liquidez.
O aumento dos juros, esperados, veio junto com um tom mais cauteloso do crescimento da economia, mas mesmo assim o número de futuros incrementos ao custo do dinheiro foi de três para dois ajustes, divergindo de quem esperava por mais.
Para finalizar o presidente Donald Trump resolveu bater o pé e dizer que o governo terá um shut-down-parcial se o senado não aprovar o orçamento para construir o seu tão sonhado muro na divisa com o México, desencadeando ainda mais nervosismo na sexta-feira pré-Natal.
As commodities afundaram ainda mais, com o CRB negociando abaixo da mínima de julho de 2017 e o café só não fazendo uma nova mínima por meros US$ 0.10 centavos por libra em Nova Iorque e US$ 3 por tonelada em Londres.
A sustentabilidade da cultura para o longo-prazo volta a ser o tema das conversas com os preços negociando nos atuais patamares ao mesmo tempo que o consumo tem se mostrado robusto, com novas ondas e aparentemente o pico de otimização da xícara estar mais próximo.
Um grande alento para as duas principais origens produtoras do arábica neste ano foi a valorização do dólar americano que levou o Real acima de R$ 4.20 e o peso colombiano a COP 3,300. A dúvida é se o movimento continua para atenuar as baixas de Nova Iorque ou se o dólar perde força diante de um cenário de cautela com a normalização monetária.
Para o robusta a situação está sendo amenizada apenas para o Brasil, que mesmo assim não faz do conilon tão remunerador como tem sido há alguns anos e caso Londres mantenha a trajetória de baixa pode afetar os tratos culturais. No Vietnã e Indonésia a situação pode também ficar mais preocupante, o que não indica que a bolsa não possa cair mais, mas pressiona a mola em uma cultura de ciclo mais longo.
Os fundos voltam a vender o café, entretanto parece improvável que voltem a ter uma posição tão grande como a que vimos em setembro e se contarmos com o potencial de compra que existe dos comerciais e mesmo dos especuladores é bem provável encontrarmos um suporte mais forte abaixo dos atuais US$ 100 centavos por libra.
O problema é a liquidez menor nas duas próximas semanas, que terão as mesas de operações mais escassas de profissionais, inclusive dos torradores, enquanto os fundos de sistema e operações controladas por algoritmos ativas, tentando “pintar” suas apostas de baixa com retorno razoável, ao menos para encerrar o ano.
Os estoque americanos cedendo para 6 milhões de sacas, abaixo das 6.7 milhões de um ano atrás, é um sinal positivo, dado que relativamente abastece menos semanas do crescente desaparecimento na américa do norte. Na Europa existe o contra-argumento de estar se mantendo, mas não o suficiente para absorver problemas futuros, ainda que sejam quedas gradativas na produção de todos os outros produtores que já estão vendo os preços abaixo do custo de produção.
Eu, particularmente, acredito que o Real seja mais valorizado em 2019, ajudando o contrato “C” a subir, afugentando as posições baixistas, mas com potencial de alta moderado frente às vendas reprimidas de quem tem café.
Uma boa lição que o setor exportador parece ter absorvido foi não vender diferenciais “baratos” pela simples vaidade de ter vendas nos livros, o que é muito positivo para alinhar as expectativas dos compradores internacionais, que embora paguem diferenciais “caros” comparado com um histórico muito recentes, tem dado a possibilidade de garantir um flat-price mais vantajoso do que programado aos torradores.
Este é o último relatório de 2018. Aproveito para agradecer aos nossos leitores pelos feedbacks e comentários, incluindo os discordantes, os quais por sinal sempre provocam discussões salutares para o melhor entendimento da dinâmica dos mercados.
Desejo um Natal cheio de paz e um 2019 com saúde, alegria e sucesso para todos.