Na minha opinião, as perspectivas do investimento em ações dependem diretamente de três fatores microeconômicos que são muito importantes: 1) fluxo de investidores estrangeiros; 2) aumento da alocação de fundos de investimento em ações e; 3) crescimento do lucro das empresas.
Eu ainda estou otimista com a Bolsa de Valores, mas é inegável que o ambiente atual é permeado por um maior nível de risco: alta das taxas de juros nos EUA, incerteza quanto às eleições presidenciais e o aumento do risco-país (atualmente em 275 pontos).
Na coluna de hoje irei falar da evolução dos três fatores acima, mas pretendo destacar que os resultados divulgados pelas empresas no segundo trimestre de 2018 trouxeram razões para otimismo, mesmo com os impactos nefastos da greve dos caminhoneiros na economia.
Você quer a boa ou a má notícia?
Começando pelo fluxo de investidores estrangeiros: houve melhora em julho, com entrada de R$ 3,8 bilhões, mas o resultado ainda é negativo no acumulado de 2018: R$ 6,1 bilhões.
Os fundos de investimento em ações tiveram captação líquida negativa em R$ 2,6 bilhões em julho (segundo a Anbima), reflexo da maior incerteza e risco mais alto. Os fundos de ações representavam apenas 5,7% do total de fundos de investimento em julho de 2018.
Copo meio vazio ou meio cheio?
A boa notícia é que parece que estamos no “fundo do poço”, ou seja, as más notícias parecem estar no preço. O risco de piora do cenário (downside) parece ser menor do que o risco de melhora (upside).
No meio do caminho tem uma eleição
Foi dada a largada para as eleições presidenciais de 2018 com 13 candidatos, inclusive uma chapa “triplex” com Lula/Haddad/Manu, o que traz ainda mais incertezas ao pleito que tem como favoritos: Bolsonaro, Alckmin, Ciro e Marina.
Essa eleição está polarizada em três blocos: a favor das reformas, contras as reformas e os “quase reformistas”. O resultado da eleição vai determinar se ainda tem um alçapão no fundo do poço ou se será possível enxergarmos a luz no fim do túnel.
Lucro das empresas está em ascensão
Estamos no final da temporada de resultados do segundo trimestre de 2018 das empresas listadas na Bolsa de Valores. Muitos resultados vieram melhores do que o esperado e tiveram impacto positivo no preço das ações. Eu expliquei a razão desta alta no preço das ações na minha última coluna aqui.
Eu destaco os principais fatores positivos dos resultados das empresas que foram considerados acima das expectativas de mercado e o seu respectivo impacto no preço de fechamento das ações no dia da divulgação do resultado.
1) Petrobras – forte geração de caixa, redução das despesas financeiras e queda no nível de endividamento (PETR4 em alta de 3,4%);
2) Ambev – recuperação de participação de mercado de cerveja, crescimento da receita líquida e melhoria da margem EBITDA (ABEV3 em alta de 5,3%);
3) Banco do Brasil – queda na inadimplência, redução de 15% na previsão de gastos com calotes e aumento de ROE (BBAS3 em alta de 2,8%);
4) Magazine Luiza – forte crescimento das vendas de varejo eletrônico (+66%), crescimento da receita líquida (+37%) e alto ROIC de 29% (MGLU3 em alta de 5,7%);
5) Vale – redução do endividamento líquido, o anúncio de pagamento de dividendos e o programa de recompra de ações (VALE3 em alta de 2,0%);
6) Santander Brasil – recuperação da margem financeira, crescimento do crédito e aumento do ROE para 19,5% (SANB11 alta de 5,2%);
7) Via Varejo - crescimento das vendas mesmas lojas de 5,8%, migração para o Novo Mercado e a possível venda de participação da GPA (SA:PCAR4) (VVAR11 alta de 7,4%).
A greve dos caminhoneiros não foi tão negativa assim
Os resultados da Localiza (SA:RENT3) e da Rumo (SA:RAIL3) mostraram que o impacto da greve dos caminhoneiros foi pontual no mês de maio e não foi tão forte como o mercado esperava.
Nesse caso, os pessimistas de plantão se mostraram equivocados, pois empresas estão mais preparadas, mais eficientes e com menor nível de endividamento - portanto mais preparadas para enfrentar a crise.
Consenso de mercado: crescimento de 20% no lucro das empresas do Ibovespa
A conclusão é que as empresas vão correr atrás do que foi perdido devido à greve e melhorar os seus resultados no segundo semestre de 2018, com impacto positivo na projeção de lucros para 2018 e 2019.