Dois passos
Enquanto não temos um ministério da Fazenda, tampouco uma definição para o Banco Central, quem faz as vezes de porta-voz econômico é o chefe da Casa Civil.
Nesta quarta-feira, Mercadante deu um passo importante, reconhecendo a necessidade de ajuste fiscal. Vai contra o discurso de campanha, e ainda carece de medidas práticas, mas o reconhecimento, inédito, é positivo. Outra coisa é ser crível... Outro ponto importante, a Comissão Mista de Orçamento aprovou a alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), permitindo que o governo “feche” as contas do ano (ou, que registre déficit como superávit).
O(s) problema(s)?
Não basta a comissão mista, há outras instâncias que prometem uma briga ainda maior para passar a canetada.
E do lado real das contas, as despesas seguem a todo vapor, enquanto a cada dia a situação das receitas fica mais e mais difícil...
Honra ao Mantega
Fique claro, em tese Mantega ainda é o ministro da Fazenda, mas um ministro cumprindo tabela. Sua situação parece a mais definida de todas...
Ano(s) sabático(s)?
Que nada, Mantega foi indicado para ser presidente do Conselho de Administração do Banco dos BRICs, talvez um reconhecimento pelos excelentes serviços prestados como presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Menos mal que é o banco dos BRICs. Ou, um não-evento.
O tamanho do rombo - e o risco sistêmico
Ainda é difícil tentar mensurar o tamanho do rombo na Petrobras, sem a abertura do teor das investigações e completamente no escuro em relação aos balanços da estatal.
Sabe como é, cabeça vazia, casa do diabo.
Ou, adaptando à realidade dos mercados, melhor um risco conhecido do que uma ameaça oculta.
No mercado, já fala-se em R$ 21 bi de perdas para a companhia. O que vier precisará ser reconhecido nos balanços...
Mesmo sem grande luminosidade, já podemos tirar algumas conclusões inequívocas, e não limitadas ao escopo da estatal.
Independentemente do valor, se confirmando o prognóstico de baixa contábil (alguma baixa relevante virá) o Tesouro Nacional, que vinha sistematicamente usando dividendos das estatais para elevar o superávit primário, perderá mais uma fonte importante de recursos para inflar as contas públicas.
Porta da esperança
Com a iminente baixa nos resultados, ausência de informações e falhas graves de governança escancaradas, fica praticamente certo o rebaixamento das notas de classificação de risco da Petro.
Ontem a agência Moody’s reduziu as notas de OAS e Mendes Júnior, empreiteiras fornecedoras da Petrobras, justamente por estarem envolvidas no escândalo de corrupção.
A benevolência com a Petro não deve (e nem pode) durar muito tempo...
No mercado internacional já começou o processo de rebaixamento mais agudo da Petrobras, com notável fuga de capitais dos títulos da estatal.
O mercado naturalmente cobra um prêmio de risco ainda maior para investir na estatal, que, por sua vez, precisa do mercado (do dinheiro do mercado) para atender suas necessidades de financiamento.
Essas, diga-se de passagem, gigantescas... Fechar as portas para novas captações definitivamente não é um bom negócio, ainda mais para a companhia com a maior dívida corporativa do mundo combinada ao maior plano de investimentos do mundo.
Se a fonte secar ou encarecer, os desdobramentos são óbvios: (i) dificuldade ainda maior em cumprir as (já não cumpridas) metas operacionais, e (ii) risco de “bola de neve” na estrutura de capitais, com deterioração adicional dos índices de alavancagem.
Ruim para PMEs...
As análises de crédito mais atualizadas do Banco Central mostram deterioração adicional do segmento de PMEs (Pequenas e Médias Empresas).
O avanço do crédito nesse nicho não só está limitado a um dígito, mas fica inclusive abaixo da inflação.
A notícia é preocupante, pois as PMEs são tidas como um dos termômetros clássicos da economia real.
... pior para os bancos médios
Deterioração de pequenas e médias é especialmente ruim para bancos médios, com exceção de ABC Brasil (ABCB4).
Os bancos grandes deixam de empresar para PMEs e se aprofundam no consignado ou no imobiliário. Mas os bancos médios não possuem tamanha flexibilidade...
Não é à toa que os chinas obrigaram BicBanco (BICB) a fazer provisões monstras antes de fecharem a compra da instituição...