Os últimos meses foram intensos para o bitcoin com a entrada de investidores institucionais e corporações. Diversas empresas passaram a avaliar o Bitcoin como uma estratégia de diversificação e proteção de capital, procurando uma proteção contra uma possível desvalorização das moedas fiduciárias. O resultado é um grande aumento da demanda, impactando consideravelmente em uma apreciação de preço do ativo, que acabou por renovar máximas históricas de preço quase que semanalmente desde o início do ano.
Bitcoin para Corporações
Nos dias 3 e 4 de fevereiro deste ano, a empresa de tecnologia e business intelligence MicroStrategy (NASDAQ:MSTR) realizou um evento chamado “Bitcoin para Corporações” com o objetivo de motivar empresas no mundo todo a entenderem mais sobre o ativo, além de repassar o playbook sobre como eles fizeram pra alocar mais de US$ 2 bilhões do seu caixa em Bitcoins e como outras companhias listadas poderiam fazer o mesmo.
O CEO da empresa, Michael Saylor, vem desde o ano passado sendo um evangelista do Bitcoin, promovendo-o em suas redes sociais e fazendo com que a empresa seja uma das primeiras companhias de capital aberto a alocar parte do caixa no ativo. O principal argumento que ele vem usando é baseado na quantidade expressiva de emissão monetária das moedas fiduciárias nos últimos anos e como essa estratégia de diversificação em um ativo digitalmente escasso poderia proteger o capital dessas companhias.
Michael Saylor: “A solução simples é converter parte desse dinheiro em bitcoin. Nós conseguimos, a Square (NYSE:SQ) conseguiu. Você verá uma avalanche de empresas nos próximos 12 meses também convertendo seus balanços em bitcoin porque é um ativo porto-seguro, digital e escasso.”
O movimento de alocação em bitcoin advém também pelas respostas dos governos frente a pandemia de 2020. Cerca de 30% de toda a moeda circulante do dólar foi emitida somente entre março e dezembro de 2020 e tudo indica que esse movimento ainda continuará com bastante força nos EUA e na Europa.
Essa expansão das moedas fiduciárias fez com que diversos investidores passassem a questionar sobre o real valor dessas moedas, que somados às baixas taxas de juros, levou à um aumento na demanda por ativos alternativos, commodities e metais e, agora, criptomoedas, como forma de se proteger contra uma possível inflação.
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Desde que a MicroStrategy alocou parte do seu caixa em BTC, o preço de suas ações aumentou consideravelmente. Não tenho dúvidas de que o impacto dessa ação aumentou o entusiasmo dos investidores em relação a empresa e a seu futuro.
No gráfico abaixo podemos ver a variação no preço das ações da MicroStrategy (MSTR) Vs a variação do Bitcoin.
Seguindo a mesma estratégia da MicroStrategy de alocar parte do caixa em Bitcoin, a processadora de pagamentos Square, fundada por Jack Dorsey, CEO do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34) e grande entusiasta do Bitcoin adotou a mesma postura no ano passado. No início de fevereiro, a montadora de carros elétricos Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) foi pelo mesmo caminho.
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A Tesla anunciou um investimento de US$ 1,5 bilhões em bitcoin, tornando a montadora a segunda maior detentora do ativo dentre as empresas de capital aberto. A aquisição de bitcoins representou cerca de quase 8% do caixa empresa. Além disso, a montadora anunciou que pode vir a aceitar Bitcoins como forma de pagamento pelos seus veículos:
“Esperamos começar a aceitar Bitcoin como forma de pagamento por nossos produtos em um futuro próximo, sujeito às leis aplicáveis e inicialmente de forma limitada”, disse Tesla em um comunicado.
O impacto que do anúncio da compra da Tesla no preço bitcoin foi enorme... No dia do anúncio, 8 de fevereiro deste ano, o bitcoin foi de US$ 38.100 até a casa dos US$ 44.300 em questão de poucas horas.
Desde o anúncio da Tesla, Ned Segal, CFO do Twitter, comentou que a empresa está considerando realizar esse mesmo movimento.
Ned Segal: “Fizemos muitas reflexões iniciais para considerar como poderíamos pagar aos funcionários caso eles pedissem para ser pagos em bitcoin, como poderíamos pagar a um fornecedor se eles pedissem para ser pagos em bitcoin e se precisaríamos ter bitcoin em nosso balanço, no caso disso acontecer.”
A Tesla não será a última grande empresa a ter Bitcoin em seu balanço. As organizações que desejam estar prontas para uma nova onda de disrupção no mercado financeiro já começaram a se preparar.
Diversificação de Caixa
Esse movimento de empresas institucionais colocando bitcoin como uma forma de fazer hedge do seu caixa é uma tendência importante e que está apenas no começo.
Um ponto importante a ser considerado, é que ao passo que essas empresas têm adotado essa estratégia, suas ações tem tido uma valorização acompanhando a alta de preço do Bitcoin, como foi visto no caso da Square e MicroStrategy.
O fato dessas empresas terem capacidade de realizar grandes investimentos impacta também em um grande aumento de demanda, impulsionando mais ainda o movimento e criando quase que um "ciclo virtuoso" de valorização.
Do total de bitcoins emitidos até hoje, que é de cerca de de 18,6 milhões de unidades, cerca de 78% está fora de circulação. Sobrando apenas 4,2 milhões de bitcoins para negociações, equivalente a US$ 226 bilhões no valor de hoje.
Segundo dados do site bitcointreasuries.org, cerca de 6,04% de todos os bitcoins emitidos já são estão sob a custódia de empresas e gestoras de investimento. Sendo quase metade somente do Grayscale Bitcoin Cash Trust (OTC:BCHG), um fundo "ETF-Like" da gestora americana Grayscale.
E elas só irão comprar Bitcoins?
As empresas não precisam necessariamente investir somente na compra do ativo para ter exposição neste mercado. Inclusive, já escrevi um artigo onde acredito que comprar diretamente bitcoins pode não ser a melhor forma para ter exposição e capturar o upside do ativo.
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Como gestora de investimentos, aqui na Wise&Trust investimos em operações de mineração de bitcoins desde 2017 e, mais do que nunca, essa tese tem se mostrado relevante. Além da capacidade de geração de fluxo de caixa, o potencial de valorização (upside) nesse setor é enorme.
O movimento que tenho percebido é que além de alocar parte do caixa em bitcoins, essas empresas poderão passar também a investir em mineração, já que além da geração de caixa, a atividade é que mantém a rede segura. Na prática, seria como ajudar a tornar o cofre dos seus ativos mais forte.
A atividade de mineração requer capital intensivo e, para ser rentável demanda um alto consumo energético... Esse inclusive é um tema polêmico que de tempos em tempos ganha novamente a atenção da mídia.
A tese de mineração faz sentido e fica comprovada ao olharmos para o gráfico abaixo, do Bitcoin em comparação com algumas mineradoras de capital aberto em bolsa.
Enquanto o Bitcoin (em azul) valorizou 302% em dólar em 2020, a Marathon Patent Group (NASDAQ:MARA) valorizou 894.29%, a Riot Blockchain (NASDAQ:RIOT) valorizou 1,292.62 % e a Hut 8 Mining Corp (TSX:HUT_t) 232,38%.
Esse movimento não é isolado e exclusivo de mineradoras de Bitcoin e sim um fato sempre que comparamos o ciclo das commodities Vs o impacto nas ações das produtoras dessas commodities. Os dados mostram que nos ciclos de alta, quem produz tem um upside entre 3 e 7 vezes maior na valorização das ações do que a commodity em si.
De qualquer forma, será interessante ver um número crescente de companhias adotando Bitcoins como forma de diversificação de caixa. O portal The Block anunciou recentemente que a Coinbase, uma das maiores corretoras de cripto do mundo e a maior dos Estados Unidos, possui entre os clientes outras 5 companhias que estão na lista da Fortune 500, que contém as 500 maiores corporações americanas.
Estou ansioso pra ver qual será a próxima a anunciar...