Eu tenho certeza de que você conhece a Amazon (NASDAQ:AMZN). A gigante do e-commerce oferece um ótimo atendimento ao cliente, preços baratos, prazos de entrega rápidos, uma ampla variedade de produtos e serviços de alta qualidade. Para se ter uma noção da dimensão, o site da empresa possui cerca de 12 milhões de itens - são mais de 300 milhões se você contar os vendidos pelos marketplace. E, em 2018, a companhia auferiu U$232,9 bilhões em receita.
Mas como ela conseguiu atingir esse nível e tornar-se uma das empresas mais poderosas do mundo? Grande parte disso deve-se à qualidade de sua gestão. Para mim, a chave do sucesso da Amazon (NASDAQ:AMZN) foi desenvolver o DNA de sofrer. A empresa passou anos investindo bilhões em tecnologia e infraestrutura – e não reportando lucro líquido – pois sabia que estava aumentando suas vantagens competitivas e seria recompensada por isso no futuro.
E a companhia segue com essa estratégia até hoje. Os clientes “Prime” nos Estados Unidos recebem suas mercadorias em um dia após a compra. Mas como isso é possível? Em parte, porque a Amazon (NASDAQ:AMZN) possui 110 pontos de distribuição estrategicamente localizados pelos EUA. Mas, também, por que a empresa aceita perder $800 milhões de dólares ao ano no curto prazo ao oferecer este serviço, pois sabe que está se tornando cada vez mais forte, e será recompensada no longo prazo.
Em uma de suas entrevistas, o fundador da empresa, Jeff Bezos, disse que as três principais lições que ele aprendeu para o sucesso nos negócios foram: i) pensar em uma escala de tempo diferente dos outros: o longo prazo; ii) colocar o cliente em primeiro lugar sempre e iii) inventar e inovar frequentemente.
Muitas vezes, uma empresa de capital aberto é direcionada pelo curto prazo por conta das pressões exercidas por acionistas e investidores por entregas de resultados constantes.
Pense no seguinte caso: você é o CEO de uma empresa listada na bolsa, e as coisas não estão indo muito bem para o seu negócio. Investidores e acionistas esperam que a companhia reporte, na próxima divulgação de resultados, um lucro líquido de 100 milhões.Algumas semanas depois, você conseguiu atingir esse objetivo, mas, para isso, teve de cortar as despesas com treinamento de funcionários.
Esse exemplo é um guia do que um gestor não deve fazer: comprometer o longo prazo por pequenas conquistas no presente. E Jeff Bezos sabe como ninguém disso, e não deixa que as pressões constantes por resultados interfiram na sua empresa.
Outro pensamento do fundador primordial para o sucesso da empresa é reconhecer que as grandes coisas começam pequenas. Muitas pessoas querem atingir logo os objetivos, mas não querem passar pelo árduo processo necessário para isso.
Os 110 pontos de distribuições da Amazon (NASDAQ:AMZN) pelos EUA não foram construídos da noite para o dia, foi um processo longo e estratégico. No começo, havia apenas uma unidade. Depois, duas, cinco...
O maior carvalho do mundo era apenas uma semente, a Microsoft (NASDAQ:MSFT) era uma pequena startup tocada no porão de Bill Gates, a carteira de ações de Warren Buffett recebeu, por muitos anos, baixas quantias em dividendos. E assim vai.
A frase em latim gradatim ferociter é a favorita de Bezos. Ela significa “passo-a-passo”. Para chegar onde chegou, a Amazon (NASDAQ:AMZN) não pôde pular etapas. No mundo real, diferentemente do universo dos vídeo games, não há atalhos.
Pense naqueles esportistas que praricam slackline (aquele exercício de se equilibrar em uma corda esticada entre dois pontos). Agora, pense que eles estão atravessando o vão entre dois prédios de 20 andares, sem proteção. Mais do que ninguém, o esportista terá de ser extremamente disciplinado e dar um passo de cada vez, colocando um pé na frente do outro diversas vezes até atingir seu objetivo.
Com as empresas é a mesma coisa, qualquer passo em falso – estratégia não seguida à risca – pode ser fatal.
Tome-se como exemplo a penetração da Amazon (NASDAQ:AMZN) no Brasil. Ela não está acontecendo de um dia para o outro, é um processo. A frase do gestor da empresa no país, Alex Szapiro, comprova isso: “Não temos pressa, queremos fazer bem-feito”.
Para terminar, depois de entender a importância de uma boa gestão para o sucesso da empresa, gostaria de compartilhar um conteúdo que vi no blog Safal Niveshak, no qual o autor divide os gestores em três tipos, representados por maçãs: perfeito, imperfeito e o lixo.
O primeiro é apaixonado por trabalhar, honesto, bom alocador de capital, trata todo tipo de stakeholder bem e ama mais sua empresa do que o dinheiro. Esses tipos de gestores são raros. Portanto, quando encontrar um desses, aproveite.
O segundo tipo também é apaixonado por trabalhar. No entanto, não é tão honesto quanto o primeiro, comete alguns erros de alocação de capital e faz o que é preciso para tocar sua empresa, mas não muito mais que isso. No geral, são bons gestores. E, pela escassez dos perfeitos, você terá de possuir alguns deles, mas apenas com uma boa margem de segurança.
Por fim, os “lixos” – como diz o autor – são os que amam apenas o dinheiro, e não a empresa, são constantemente desonestos, adoram se alavancar e contrair dívidas, fazer alocações de capitais agressivas e não muito rentáveis. São viciados em expandir, mesmo que isso não seja benéfico ao acionista. Esse tipo de gestor deve ser evitado de qualquer forma.