Mais uma semana com o Set-23 fechando em baixa. Dessa vez caindo “apenas” -515 pontos, ou -2,81% (mínima /máxima / fechamento respectivamente @ 158,40 / 165,30 / 158,95 centavos de dólar por libra-peso). O R$ trabalhou praticamente inalterado oscilando entre +5,28/+5,21 R$/US$.
O volume médio diário continuou “baixo”, negociando ao redor dos +26.000 lotes/dia. Os fundos + especuladores continuaram vendendo e terminaram o período aumentando a posição “vendida” para -22.657 lotes (segundo último relatório do CFTC*).
A grande “surpresa” para o mercado local foi o início da recuperação dos preços do café tipo robusta. Voltou a negociar acima dos +650 R$/saca. Já o café tipo arábica segue negociando entre +1.000 / +1.150 R$/saca. Rumores onde a indústria estaria “correndo” atrás de lotes competindo com algumas tradings (entraram no mercado e “limparam” as ofertas chegando a pagar um prêmio entre +20/+30 R$/saca) deram sustentação e ânimo para os produtores.
Com muitos produtores retraídos, “sentados em cima” do seu café aguardando por preços melhores, os compradores “vendidos” base “basis*” estão sendo obrigados a pagar preços mais elevados, refletindo diretamente no “basis*”. Há 1-2 meses os compradores estavam originando café com base “basis” @ -35/-30 pontos. nessa semana o “basis*” na originação chegou a ser negociado base “flat”/-07 pontos – refletindo um aumento/desembolso para o comprador/trading ao redor dos +150/+200 R$/saca (aproximadamente +35 US$/saca)! Será que irão conseguir repassar esse aumento para o destino final e/ou renegociar seus contratos? Se não conseguirem os prejuízos para algumas empresas serão enormes!
Nessa semana a consultoria/corretora Hedgepoint e o eng agrônomo/produtor de café sr João Ferrão publicaram novas estimativas para a safra 23/24.
Segundo a Hedgepoint a próxima safra brasileira 23/24 deverá ficar entre +64,90/+68,90 milhões de sacas x +59,00 milhões de sacas na safra 22/23. A produção do café tipo arábica deverá ficar entre +44,40/+46,40 milhões de sacas x +36,00 milhões de sacas na safra 22/23. Já a produção do café tipo robusta deverá ficar entre +20,50/+22,50 milhões de sacas x 23,00 milhões de sacas na safra 22/23.
Já a previsão do sr Ferrão para o café tipo robusta está estimada entre +12,90/+14,30 milhões de sacas.
Como já apresentamos aqui, por enquanto, as estimativas para a próxima safra 23/24 estão oscilando entre +53,00/+68,50 milhões de sacas.
A Cecafé deverá publicar o fechamento dos embarques do mês de novembro-22 na próxima semana. Salvo alguma correção/ajuste, as exportações no mês de novembro-22 ficaram em +3,42 milhões de sacas! Nos primeiros 5 meses da safra 22/23 o Brasil já exportou +15,52 milhões de sacas x +15,75 milhões de sacas durante mesmo período da safra anterior.
No mês de dezembro, até o dia 09 de dezembro, o Brasil havia solicitado autorizações para embarques para apenas +682 mil sacas e embarcado apenas +350 mil sacas – uma redução ao redor -60% comparado ao mês anterior. Qual será o motivo para essa redução drástica nas exportações? Falta de produto, problemas logísticos com as chuvas/quedas de barreiras dos últimos 10 dias, ou apenas efeito “copa do mundo”? Vamos seguir acompanhando para ver como os números irão se comportar nos próximos dias.
Nessa semana a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) publicou um estudo apontando a importância do setor cafeeiro na economia brasileira sugerindo “… ainda há oportunidades para ampliar nossa participação nesses mercados mas, para isso, necessitamos de uma maior rede de acordos tarifários para os produtos beneficiados e elevar a importação de café verde de outras origens para a formação de blends, entre outras ações que permitam que o Brasil exporte mais produtos processados, de maior valor agregado” (negrito e destaque no texto de minha autoria para chamar a atenção dos nossos leitores).
Já falei sobre isso em comentários anteriores, e concordo plenamente com esse estudo! Precisamos quebrar paradigmas, medos, receios referentes ao Brasil voltar a importar café verde de outras origens. Com regras claras e transparentes o Brasil poderá, em curto espaço de tempo, ajustar a indústria local e começar a exportar nossa riqueza em produtos acabados e, principalmente, agregando valor / divisas para o país. Controles fitossanitários, controles de barreiras, controles fiscais podem e devem ser implementados para evitar desvios, roubos, “esquemas de contrabando”. Precisamos de regras claras para impedir a importação de café com baixa qualidade, varreduras, cafés com no mínimo X defeitos e cafés com “peneira mínima X”. Dessa forma, com próprio controle nas alfandegas, com controle nos certificados de origem / qualidade / fitossanitários produtos fora de especificação serão barrados e incinerados.
O governo poderá incentivar “zonas francas” para a instalação de novas industrias, favorecendo a importação de máquinas e equipamentos com redução e/ou isenção nos impostos de importação. Muitos produtores poderiam se unir e verticalizar suas operações. A concorrência saudável no curto prazo irá incomodar os grandes “players” já instalados e os que estão no exterior. Mas com certeza irá favorecer o produtor e a indústria local criando empregos, renda, riquezas para o país.
Os Emirados Árabes Unidos já fizeram essa “zona franca” e está sendo um sucesso. Estão incomodando e competindo diretamente com as indústrias instaladas na Europa. Importam café do Brasil, países africanos, Vietnam, Indonésia! E de lá já estão reexportando para o resto do mundo!
Como já demonstramos aqui, o Brasil exporta 1 saca de café verde de 60 kgs ao redor dos +220/+250 US$/saca resultando em aproximadamente 48.000 gramas de café! 1 saca de café processada produz aproximadamente 4.800 xicaras de café (vide “brainstorming” abaixo! Tem muito dinheiro na cadeia que poderia ser direcionado ao produtor e à indústria local!
Mesmo considerando os custos totais para um empreendedor ao redor dos +65%, mesmo assim ainda resulta em uma margem no meio da cadeia ao redor dos +5.000 US$/saca, ou quase +2.000% por saca !
Fica muito claro na planilha que a “cadeia do café” continua explorando muito os produtores mundiais. “Explorando” pode ser uma palavra / afirmação dura, pesada, mas precisamos ser sinceros e direto ao ponto e “cutucar na ferida”.
Muitas empresas/tradings/destinos estão exigindo certificados, controles, e agora os controles ESG*, “carbono-zero”. Porém querem pagar um “prêmio”, uma “miséria por saca” para os produtores mantendo os lucros/bônus nos bolsos de apenas “alguns poucos escolhidos”. Já passou da hora dos “grandes” começarem a remunerar melhor o produtor. Senão, ou “ou o setor valoriza e apoia o produtor ou em breve vai faltar café”!
O Set-23 fechou novamente abaixo das médias móveis dos +9/+17 dias. Próximos suportes @ +155 / + 150 / +144 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ +159,35 / +163,50 / +174,00 / +190,05 centavos de dólar por libra-peso.
Para o produtor “vendido” (e que acredita que terá problemas com sua safra 23/24) aproveite essas quedas / lateralização do mercado para comprar seguro contra eventual quebra de safra (em função das chuvas/doenças/pragas/geadas durante o próximo inverno maio-agosto-23) analisando e comprando opções de compra “call*” ou estruturas “call-spreads*”.
Como sempre, protejam-se! O mercado sempre será soberano.