Em tempos de Twitter, mensalmente pipocam as mais diversas tabelas com os resultados dos Fundos do mês.
É impressionante como existe uma certa euforia por saber quais foram as estrelas mensais, bem como os que ficaram na lanterninha. Confesso que, com a Bolsa recuando quase 5 por cento em setembro, eu mesmo me dei ao trabalho de fazer um pequeno compilado.
A minha impressão é de que existe uma certa aura por trás desses resultados. Para quem ficou no primeiro quartil, é estendido um tapete vermelho com rosas. Aos últimos da fila, apedrejamento e críticas ferrenhas.
É como se esses resultados dissessem TUDO que o investidor precisa saber para definir se a gestão é boa ou não.
Não poderiam estar mais enganados. Há riscos escondidos que você nunca verá se apenas olhar a performance.
Alguns dirão que eu estou sendo injusto. Para esse grupo, é um tanto quanto óbvio que performances mensais não são suficientes para concluir nada.
A solução seria olhar horizontes de 12, 24, 36 meses. Até concordo em alguns aspectos, mas isso é somente uma parte da equação.
Olhar resultados passados nunca lhe isentará de entrar em uma fria. Vamos a um exemplo simples para ficar mais claro.
Imagine que você está analisando um Fundo para adicioná-lo à sua carteira. O Fundo A (em azul) teve um resultado impressionante em 4 anos, enquanto o outro (em cinza) mal bateu o Ibovespa (amarelo) no período.
Fonte: Economatica
Os resultados do Fundo A parecem incontestavelmente melhores, não há dúvidas disso. Com base nos resultados, imagino que escolheria ele, certo?
Afinal de contas, com esses resultados, bastaria hibernar por 20 anos e acordaria rico. Decida primeiro antes de continuar lendo.
Se você escolheu o A, fique tranquilo, não foi o único. Na verdade, ao longo daqueles anos, o Fundo chegou a captar bons recursos e atingir a marca de 290 milhões de patrimônio – o que era uma boa faixa à época.
Os meses se passaram e logo o mercado foi arrastado pela crise financeira de 2008. O caos tomou conta dos mercados, com resultados drásticos para um deles.
Fonte: Economatica
O Fundo A era o GWI Leverage, um Fundo alavancado que sofreu enormes perdas e fechou as portas. Do outro lado, em cinza, o Fundo B, representado pela famosa IP Capital Partners.
Casos como esse vemos aos montes no mercado. Recentemente ficou famoso o episódio envolvendo o Fundo Ponta Sul, que sofreu algo parecido.
Fica a lição: a performance pode enganá-lo. Boa performance pode ser sinal de loucuras sendo feitas, assim como performance ruim não é indicativo de gestão ruim.
Não estou dizendo para ignorar a performance. Olhe para ela, claro, mas busque conhecer a estratégia do seu gestor. Isso certamente será de muito mais valia.
Tome cuidado com o seu rico dinheirinho.
Nem todos os casos de olhar a performance terminam em tragédia. Há alguns em que a performance passada não é um indicativo do futuro.
Imagine agora que você quer escolher um Fundo Multimercado. Você abre a sua plataforma para investir e se depara com um pop up escrito em letras garrafais: “o lendário Galileo está aberto, 11 anos de história e 172 por cento do CDI acumulado”.
Fonte: Economatica
De fato, o Galileo é lendário na indústria. Por muito tempo foi sinônimo de boa gestão, com retornos consistentes e bastante expressivos. Em um mundo de CDI a dois dígitos, entregar resultados próximos a 200 por cento do CDI é uma proeza para poucos.
Dito isso, parece uma escolha meio óbvia. Não só o Fundo tem resultados fabulosos, como se provou em todo o tipo de crise que existiu.
A pergunta é: quem não gostaria de ter dinheiro lá?
O que o seu assessor, gerente ou a plataforma não vão lhe contar é que o perfil do Fundo mudou bastante nesse período. Até 2015, o gestor do Fundo era o Márcio Appel. Porém, depois, ele saiu para fundar a sua própria gestora – a Adam Capital.
A mudança some em meio aos resultados de longo prazo do Fundo, mas é nítida a diferença quando analisamos os retornos para além do CDI antes e depois desse período:
Fonte: Bloomberg e Nord
A média de retorno de 3 anos que rodava em torno de CDI +18 por cento recuou drasticamente após a mudança de gestão em outubro daquele ano.
Esse não é o primeiro caso no qual mudanças de gestão causam alterações no perfil de resultados do Fundo. A meu ver, a Paineiras caiu no mesmo mal.
Apesar de gostar bastante da turma, fato é que os resultados se tornaram mais fracos conforme os fundadores se afastaram. O fim foi anunciado há alguns meses, com transferência de gestão para a Ventor.
Esses são só dois exemplos, restritos aos multimercados. Em Ações, muda a classificação do Fundo, mas os problemas continuam.
Moral da história: cuidado com a dança das cadeiras na indústria de Fundos. Antes de sair comprando retorno passado como promessa de futuro, verifique se as pessoas que geraram aquela performance de retorno são as mesmas que hoje estão à frente do Fundo.
Eu sei que é tentador avaliar Fundos pela performance, sendo ela um “corta caminho” para definir bons Fundos.
Não faça isso, pois você pode estar colocando seu patrimônio em risco. Cerca de 60 por cento dos Fundos Multimercado do IHFA – uma espécie de médiada classe – saíram do jogo nos últimos 10 anos. Em Fundos de Ações, na última década, 46 por cento também não bateram o Ibovespa.
Como eu busquei mostrar hoje, os resultados de performance que nós vemos na cota são resultantes das tomadas de decisão da gestão.
Então, toda vez que você for aplicar em um Fundo, pergunte-se: quem é esse gestor? Qual o histórico dele? Qual a estratégia do Fundo? É o mesmo time que gerou todos esses resultados?
E, se você precisar de ajuda, eu posso auxiliá-lo. O meu trabalho no é justamente esse, ponderar tudo isso (além de diversas outras coisas) e identificar as pepitas de ouro em meio aos cascalhos.
Não tome atalhos, o seu patrimônio agradece.
Abraços.