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Quem se Deixa Cegar com Otimismo Rejeita Visão Contrária

Publicado 26.01.2017, 15:49
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O céu é o limite?

Voltando após feriado local, o dia é de Bolsa brasileira em alta, com predominância de nomes domésticos. Com agenda econômica fraca, mercado de juros reage ao cenário externo.

Lá fora, dia de pouca oscilação após rompante de otimismo ontem, com Dow superando a marca histórica dos 20 mil pontos na esteira de anúncios de Trump (sobre os quais falo mais abaixo).

“O céu é o limite”, dizem os mais atrevidos.

(Suspiro)

Condição humana

Lidar com o otimismo é sempre mais difícil do que com o medo: quem se deixa cegar pelo primeiro rejeita qualquer visão que contrarie a sua; se rende a uma ampla gama de vieses cognitivos. Em bull market, todo mundo é gênio.

Já nos momentos de estresse, há sempre uma parcela dos consternados que querem acreditar que a situação vai virar.

Somos empurrados, tanto por limitações inerentes a nossa condição humana quanto por estímulos externos — a indústria de corretagem é prolífica nisso —, a acreditar que todo movimento de alta dura para sempre e toda queda é momentânea.

Minha sina

Quando nasci, um anjo torto — desses que vivem na sombra — disse: vai, Ricardo! ser gauche na vida.

Há muitos anos compreendi (e aceitei) minha sina: estou fadado a, em meio à alegria da festa, ser o sujeito desagradável que alerta que nem tudo é tão bonito quanto parece. Não consigo me contagiar pelo otimismo generalizado. Estou fadado a, a cada bull market, ser visto como pessimista, conservador demais. Não raro, ser alvo de escárnio por manter uma postura parcimoniosa.

Ontem, enquanto estávamos fora por aqui, o Dow Jones atingiu a tão esperada marca dos 20 mil pontos. Foi a resposta do mercado aos anúncios de Trump, que — dentre outras coisas — assinou a executive order para construção do famigerado muro.

De repente, todos voltaram a acreditar que Donald fará tudo que disse — e todo o resto que, embora não tenha dito, lhe foi imputado: tal qual a natureza tem horror ao vácuo, temos todos a propensão de preencher as lacunas com alguma coisa, mesmo que puro wishful thinking.

De repente, todos deixaram de lado um punhado de constatações: a economia americana já roda em ritmo que cheira a pleno emprego. A situação fiscal do país dá menos margem de manobra do que Donald gostaria (insisto, como na terça, que logo voltará a conversa em torno do debt ceiling). Juros — e, consequentemente, custo de oportunidade do capital — aumentarão.

E isso tudo coexiste com S&P 500 no topo do valuation histórico. Até onde vai o Trade Trump?

Estraga-prazeres

Sigo em meu papel de estraga-prazeres e alerto que, a isso tudo, se somam outros riscos que parecem momentaneamente menosprezados.

Com todas as atenções voltadas para os Estados Unidos, tem sido mínima a atenção dispensada à Europa. Me causa estranheza a mudez com relação aos bancos italianos (e, antes de dizer que problemas na Itália não fariam tanto barulho assim, lembre-se de Grécia…). Da mesma forma, é ensurdecedor o silêncio com relação aos cenários eleitorais à frente para França e Alemanha.

No extremo oriente, por sua vez, temos China (que, até pouco tempo atrás, era tida como the only game in town) impondo restrições adicionais à saída de capitais, em sua queda de braço com o restante do mundo pela taxa do renminbi… e orientando bancos a restringirem novas concessões de crédito, atacando mercados como o imobiliário.

Boas novas

A boa notícia é que, em meio a isso tudo, seguimos bem em direção ao Novo Brasil.

É alvissareiro ver cogitada a recuperação do grau de investimento em 2018 e, com BC colhendo bons frutos na lavoura das expectativas de inflação, perceber que mais gente começa a considerar a possibilidade de a meta de 4,50 ser reduzida mais à frente.

(Leitores do M5M PRO hão de lembrar, aliás, que levantei essa possibilidade em minhas recentes reflexões sobre as LTNs)

A retomada dos trabalhos no Legislativo trará de volta ao foco o avanço da agenda de reformas — primeiro, previdência; depois, trabalhista e tributária. E também viabilizará o saneamento dos governos estaduais que enfrentam maiores dificuldades.

Estamos caminhando para a retomada da atividade e, por conseguinte, inflexão dos resultados corporativos.

Em meio a um cenário externo conturbado, ganhamos cada vez mais atenção do estrangeiro.

Sigamos assim — mas sem excessos, sem descuidar da gestão de riscos, sem avançar desenfreadamente como se fosse a única e última oportunidade. Siga seu plano, mantenha um nível saudável de ceticismo e parcimônia, e você ficará bem.

Ficar ou correr?

Dez anos atrás, presenciei a seguinte cena: estagiário no telefone, atendendo cliente que queria operar (nem sei se isso podia ou pode, só sei que acontecia… ainda acontece?).

Estagiário: Chefe, o cliente me perguntou se é pra comprar ou vender Merposa, e eu não soube o que dizer. Como eu faço da próxima vez?

Chefe: Simples! Você tem que sentir se o cara está mais propício a comprar ou vender. Se ele estiver com um jeitão mais otimista, recomenda comprar. Se ele parecer preocupado, recomenda vender. Tanto compra quanto venda rendem corretagem igual — a banca sempre vence

Não é fruto do acaso a homogeneidade do pessoal de indústria. As respostas vazias, o gestual, a cadência de fala e até mesmo o jeito de olhar de todo esse pessoal é igualzinho. Já percebeu? Aquela foto do trader jovem e bem-sucedido, de porte atlético, mangas arregaçadas e braços cruzados com o trading desk ao fundo. Todos iguais, absolutamente iguais.

E é assim porque funciona. Para a indústria — não necessariamente para o cliente.

Só que quando o jogo vira — e ele inevitavelmente vira, de tempos em tempos — esse pessoal vai para as sombras. Muda o visual, e não raro até passa um tempo fazendo outras coisas (por exemplo, o universo startup foi profícuo para abrigar esse pessoal em anos recentes).

Já eu, quero estar por aqui lhe dizendo — tal qual insisti, logo após a eleição de Trump — que não era hora de correr.

Eles passarão. Eu, passarinho… e você, onde vai querer estar?

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