Publicado originalmente em inglês em 15/12/2020
Depois de meses de politicagens e empurra-empurra, o Reino Unido e a União Europeia parecem estar falando sério em concluir um acordo comercial de última hora pós-Brexit. Os negociadores prorrogaram várias vezes seus prazos quase sempre unilaterais. De fato, o encerramento do período de transição do Brexit em 31 de dezembro provavelmente foi o único prazo concreto.
Os rendimentos dos títulos públicos dos governos europeus repicaram, na segunda-feira, desde as mínimas da semana passada, diante dos esforços de “ir um passo além” nas tratativas.
Esforços para "ir um passo além" não apagam desconfiança dos mercados
Michel Barnier, negociador-chefe da UE, sugeriu que é possível fechar um acordo nesta semana ou, se não der tempo de o Parlamento Europeu autorizá-lo neste ano, as partes podem selar um consenso provisório sujeito a aprovação no início de 2021.
Os rendimentos dos títulos britânicos subiram de 2 a 5 pontos-base na segunda-feira, e os papéis dos principais membros da UE registraram alta parecida, já que o otimismo com um acordo incentivou os investidores a saírem dos ativos de segurança. (A rentabilidade dos títulos se move no sentido oposto da sua cotação).
O rendimento dos gilts britânicos de 10 anos subiu mais de 5 pb, para cerca de 0,24%. Um analista previu que o rendimento pode disparar além de 0,45% se um acordo for alcançado.
Os bunds de 10 anos da Alemanha, menos sensível a políticas do Brexit, subiu mais de 1,5 pb para cerca de -0,62%.
A Irlanda, mais diretamente afetada pelo Brexit, viu o rendimento dos seus títulos de 10 anos subir mais de 3 pb desde a mínima recorde da semana passada para cerca de -0,31%.
Em outra ponta do espectro dos rendimentos, o rendimento do papel de 10 anos da Itália disparou mais de 0,53%, ante 0,50% na semana anterior, antes de recuar abaixo de 0,51% nas negociações posteriores.
Barnier ficou satisfeito com a concessão do primeiro-ministro Boris Johnson em aceitar a chamada “cláusula de evolução” que permite uma retaliação unilateral através de tarifas se os padrões divergirem muito. Por outro lado, o ex-primeiro-ministro francês acreditava que as tratativas sobre a pesca haviam regressado, já que Johnson aparentemente esperava uma concessão em troca.
O acordo comercial não inclui o setor financeiro, que, evidentemente, é de extrema importância para o Reino Unido, já que Londres é o único centro financeiro global da Europa.
A UE mostrou receio na hora de garantir a equivalência das normas europeias com a regulamentação financeira britânica, embora tenha prontamente concedido esse status aos Estados Unidos, Canadá, Japão e outros grandes parceiros comerciais, com fóruns para discutir possíveis mudanças legislativas que pudessem acarretar a retirada da equivalência.
A libra esterlina ganhou terreno frente ao dólar e o par GBP/EUR em meio ao otimismo. Os mercados estavam indecisos, e os investidores, desconfiados com os riscos negativos. Tanto a UE e o Reino Unido ofuscaram seus comentários otimistas com advertências.
O que ficou claro desde o início é que ambas as partes se beneficiariam com o menor número possível de transtornos às suas relações. Os investidores da UE teriam muito a perder de não tivessem acesso à liquidez dos mercados londrinos.
A profundidade e a amplitude dos mercados da City são resultado de séculos de construção, e seriam necessárias décadas de desenvolvimento para que os centros continentais chegassem a esse patamar. O comércio também é uma via de mão dupla. Tudo funcionou bem antes de o Reino Unido ingressar no bloco e continuará funcionando bem após sua saída. Os políticos só precisam aceitar essa realidade.