O cenário econômico norte-americano enfrenta incertezas desde o início do mandato presidencial, em grande parte devido aos transtornos causados pelos planos tarifários, que ameaçam desencadear uma guerra comercial de proporções globais. O mais surpreendente é que os efeitos negativos até agora foram, em sua maioria, resultado das próprias decisões internas do governo. Choques de política econômica não intencionais são raros, mas o estilo imprevisível de Trump estabelece um novo precedente nesse sentido.
Ainda assim, os dados mais recentes indicam que a economia dos EUA segue em expansão, mas as tarifas propostas pelo presidente podem comprometer a trajetória moderada de crescimento herdada por ele ao assumir o cargo em 20 de janeiro. Relatórios econômicos sempre refletem o passado com algum atraso, e essa defasagem pode ser ainda mais relevante neste momento.
Por ora, há argumentos sólidos para sustentar que a atividade econômica norte-americana continua aquecida. O Índice Semanal de Atividade Econômica (WEI, na sigla em inglês) do Federal Reserve de Dallas aponta para um crescimento moderado, consistente com o histórico recente. Segundo o banco central regional, "o WEI está atualmente em 2,24%, ajustado para o crescimento anualizado do PIB, na semana encerrada em 1º de março, e em 2,43% para 22 de fevereiro. A média móvel de 13 semanas está em 2,46%, comparada com os 2,51% registrados para o crescimento do PIB no quarto trimestre de 2024".
Se o WEI servir como referência, a economia segue em ritmo positivo. No entanto, as manchetes contam outra história. A dúvida central é se o aumento da incerteza e das preocupações em torno das tarifas impostas por Trump terá impacto no crescimento nos próximos meses.
A resposta mais provável é “sim”, mas a grande incógnita envolve a magnitude e o momento desse impacto. O crescimento será apenas reduzido ou sofrerá um choque intenso, levando à recessão? A retração será gradual ou repentina? As projeções dos analistas variam consideravelmente.
A maior parte da incerteza decorre do caráter imprevisível das decisões de Trump. Em termos diretos, ninguém sabe exatamente o que ele dirá a seguir, tampouco a intensidade das mudanças em relação às declarações anteriores. Como consequência, o mercado opera sob constante especulação.
Outro fator de complexidade: prever recessões é uma tarefa extremamente desafiadora. O boletim semanal The US Business Cycle Risk Report (BCRR), do CapitalSpectator.com, projeta tendências macroeconômicas com base em múltiplos indicadores – uma metodologia que, no geral, tem sido confiável. A exceção mais notável foi o choque da pandemia em 2020, um evento exógeno atípico. Normalmente, sinais de recessão se acumulam gradualmente, permitindo detectar alertas precoces. Se uma desaceleração estiver a caminho, a expectativa é que os indicadores voltem a apontar nessa direção.
Por ora, no entanto, os receios de uma recessão baseiam-se mais em previsões do que em dados concretos. Esse quadro pode mudar rapidamente, mas a atual conjuntura ainda indica resiliência. O principal indicador de recessão do BCRR, que compila múltiplos sinais do ciclo econômico, aponta apenas 1% de probabilidade de que uma contração econômica, segundo os critérios do NBER, já tenha começado ou esteja prestes a ocorrer, considerando os dados até 7 de março.
Esses indicadores sempre refletem uma fotografia do passado recente. A preocupação é que os próximos meses revelem um cenário consideravelmente mais frágil. O pior desfecho foi descrito na semana passada por Andrew Wilson, vice-secretário-geral da Câmara de Comércio Internacional:
“Nossa maior preocupação é que isso possa marcar o início de uma espiral descendente que nos leve ao mesmo cenário de guerra comercial dos anos 1930.”
A verdade é que ninguém sabe como o curto prazo se desenrolará, especialmente devido à natureza imprevisível das decisões do presidente dos EUA. Por ora, os números sugerem que a economia norte-americana mantém um grau razoável de resiliência, possivelmente acima do que alguns analistas reconhecem, ainda que sob um céu carregado de incertezas.
Este é um momento delicado para os Estados Unidos e para o cenário global. O risco de mudanças abruptas nas tendências macroeconômicas cresce a cada semana. O lado positivo? Esse risco poderia desaparecer instantaneamente – se, e somente se, uma única pessoa decidir mudar de ideia.
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