O novo arcabouço fiscal divulgado no final do mês, foi o que ditou grande parte do ritmo dos negócios em março de 2023. O texto define que o crescimento anual da despesa estará limitado a 70% da variação da receita primária dos últimos 12 meses. Esse objetivo será combinado com uma meta anual de superávit primário, com um tipo de banda de flutuação, ou seja, um intervalo, de 0,25% p.p. A princípio, o texto foi bem recebido, mas ainda deixa dúvidas sobre o caminho até alcançar os objetivos da proposta e a tramitação dela no Congresso.
No início do mês o mercado local já lidava com o retorno integral da cobrança de impostos federais sobre os combustíveis, ao mesmo tempo em que as críticas do governo ao Banco Central voltaram a ganhar força.
O BCB, manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, em um momento em que ainda estava no escuro sobre o arcabouço fiscal. O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) foi considerado cauteloso, sem sinalização do ciclo de corte e voltando a citar possibilidade de nova alta da Selic. Depois, a ata da reunião, divulgada nesta semana, manteve o tom considerado duro e técnico.
Tivemos a “Super Quarta”, além do Copom, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) divulgou a elevação da taxa dos Fed Funds em 25 pontos-base (pb), para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. No comunicado, a instituição descreveu que “talvez algum” ajuste na taxa de juros se faça necessário, ao invés de “aumentos consecutivos” de juros, como havia descrito no comunicado anterior.
Outro tema que ganhou relevância do meio do mês em diante foi a crise no sistema financeiro dos Estados Unidos, que começou com a quebra do Silicon Valley Bank e do Signature Bank (OTC:SBNY) Desde então houve anúncio de ajuda de grandes bancos aos menores, declarações de instituições governamentais e autoridades monetárias, e muita cautela nos mercados globais. Até porque a turbulência foi sentida por gigantes, como o Credit Suisse (SIX:CSGN) – comprado pelo UBS (NYSE:UBS) – e Deutsche Bank (NYSE:DB).
Na Zona do Euro, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, negou haver qualquer trade-off entre inflação e estabilidade financeira. Foi enfática ao dizer que o sistema bancário é sólido e que, de qualquer forma, o BCE dispõe de instrumentos para prover liquidez se necessário. Seu discurso foi enfático na perseguição da meta de inflação, embora o comunicado tenha retirado o forward guidance que contratava novas altas futuras. Desse modo, sem se amarrar, Lagarde deu toda a sinalização de que a direção de aperto monetário se manteria.
Entre os indicadores domésticos, foram conhecidos dados como o Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2022 (-0,2%), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro (+0,84%), a taxa de desocupação no Brasil no trimestre encerrado em janeiro (8,4%), o IPCA-15 de março (+0,69%) e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de março (+0,05%).
Comportamento dos Ativos
O mês de março de 2023 foi marcado pela extrema volatilidade das Taxas de Juros Globais.
No entanto, as Curvas de Juros brasileiras chegam ao fim do mês em queda. O mercado recebeu bem a proposta do Arcabouço e os riscos advindos de uma Crise de Crédito (quebra do Silicon Valley Bank) foram se dissipando.
Nos EUA volatilidade foi intensa nos Juros. Os Juros americanos vinham uma tendência de alta, advinda de uma expectativa de atuação mais dura do FED. Porém as discussões sobre as consequências de uma crise de crédito americana levaram os mercados a precificar uma recessão iminente na economia e as taxas acabaram fechando bruscamente, mas com oscilações intra diárias recordes.
O mercado corporativo, os títulos de dívida emitidos por empresas ainda tiveram desempenho aquém do CDI, refletindo ainda uma preocupação dos investidores com o Crédito Privado.
Após perder os 100.000 pontos, o Ibovespa recuperou este patamar no final do mês, mas não evitou uma queda no período (-2,91% em março). Com a divulgação do novo arcabouço fiscal, as atenções devem se voltar para o novo pacote de impostos que será divulgado em abril. Diversas empresas deverão ser impactadas em um momento que o volume negociado da bolsa brasileira está muito baixo.
O Real ensaiou uma desvalorização até um pouco mais da metade do mês (R$ 5,29), mas termina o mês valorizado em relação ao Dólar (R$ 5,06), reinaram os mesmos motivos apresentados na Renda Fixa acima, apresentação do Arcabouço Fiscal e suavização da Crise de Crédito americana. Destaca-se ainda que a manutenção da Selic pelo Copom e o discurso duro da ata, mantém as taxas de juros locais atrativas e beneficia o fluxo de dólares para cá.