Publicado originalmente em inglês em 10/03/2021
No interior de algumas das terras mais férteis da América do Sul pode estar surgindo uma ameaça ao bom momento que vive a soja nos EUA.
Os estados brasileiros do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná já respondem por quase 35% da soja fornecida pelo segundo maior país produtor do grão no mundo, que deve registrar uma safra recorde este ano.
Analistas do setor agrícola que vinham se debruçando sobre os números produção desses estados nas últimas semanas afirmam que, quando essa enorme safra chegar ao mercado, pode arrefecer a negociação de contratos futuros nos EUA, que estão em seu ponto mais alto nos últimos setes anos na CBOT.
Embora a soja futura na CBOT tenha atingido as máximas de meados de 2014 a quase US$ 14,60 por bushel na terça-feira, rapidamente recuou por causa da preocupação com a produção brasileira, segundo Jack Scoville, que supervisiona a pesquisa dos mercados agrícolas do Price Futures Group, em Chicago.
“Safra brasileira será arrebatadora”
Scoville disse ainda:
“As vendas começaram por causa da previsão de uma safra arrebatadora no Brasil que pode varrer a demanda da soja americana”.
“A oferta do grão no Brasil está atrasada devido a problemas no plantio. O clima seco chegou mais cedo. E agora as precipitações dificultaram as colheitas e geraram alguns problemas de qualidade. As chuvas estão cessando em algumas regiões, o que explica a melhora da safra, mas, no geral, o ritmo ainda é bem lento”.
Apesar de tudo isso, a safra que vem aí deve ser recorde.
Luiz Roque, analista do agronegócio brasileiro na consultoria Safras & Mercado, diz que os produtores locais devem colocar no mercado pelo menos 130 milhões de toneladas em 2021.
Em janeiro, a Safras & Mercado prevê que a produção brasileira de soja será de 133,1 milhões de toneladas. Mas reduziu essa quantidade nos últimos dias por causa das chuvas que prejudicaram a qualidade e os rendimentos dos estados do Centro-Oeste.
A Reuters relatou que os agricultores brasileiros haviam colhido cerca de 35% da área plantada de soja até a última quinta-feira, o ritmo mais lento em uma década em meio às precipitações de março. No mesmo período do ano passado, a colheita já havia sido feita em 49% da área no Brasil.
A AgRural, consultoria do setor em São Paulo, afirmou que, devido à alta umidade nas últimas semanas, “estão aumentando os problemas de qualidade”.
Apesar disso, no mês passado, a AgRural elevou sua previsão de produção para 133 milhões de toneladas para a atuação temporada 2020/2021, ante 131,7 milhões previstos anteriormente.
A projeção da consultoria já considera rendimentos médios menores na maioria das regiões produtoras no Brasil. Entretanto, se as chuvas persistirem em março, é possível que o rendimento caia ainda mais em alguns estados, em particular no maior produtor do grão no país: o Mato Grosso.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) declarou ao site Agweb.com na quarta-feira que sua expectativa é que as projeções de oferta e consumo da soja doméstica para 2020/21 ficaram praticamente inalteradas em março, nos maiores países produtores do grão.
A produção e exportação americana estavam projetadas em 2,20 e 2,25 bilhões de bushels, respectivamente, segundo o site do USDA. O órgão informou ainda que os estoques finais deveriam permanecer em 120 milhões de bushels, uma queda em relação ao recorde de 405 milhões registrado no ano passado.
Oferta brasileira pode gerar desequilíbrio
Isso significa que a safra recorde do Brasil pode gerar desequilíbrio no mercado global, caso haja qualquer fraqueza na demanda, principalmente da China, maior consumidora mundial do grão, segundo Scoville em nota na terça-feira.
Qualquer desajuste por pesar sobre os preços da soja na Bolsa de Chicago, apesar de os Estados Unidos terem vendido 98% da quantidade prevista para o atual ano de comercialização, segundo Scoville, que disse ainda:
“A China vinha comprando para este ano e o próximo nos EUA, mas agora está importando a maior parte da América do Sul. O espaço para erro é muito pequeno”.
O USDA corrobora as preocupações de Scoville pelo menos quanto ao preço físico.
O preço médio da soja para a estação nos EUA está projetado em US$ 11.15 por bushel, ou seja, estável em relação ao último mês, de acordo com a agência. Embora os preços à vista estejam significativamente mais altos, as cotações recebidas ficaram um pouco acima de US$ 10, refletindo uma precificação menor no futuro, disse o USDA.
Aspectos técnicos sugerem “Forte Compra” na soja da CBOT
A soja da CBOT subiu mais de 9% até agora no ano, a US$ 14,33 por bushel na quarta-feira. O mercado disparou praticamente sem parar desde o fim de maio, valorizando-se no total 70%.
Scoville estima que o contrato de soja com entrega em maio em Chicago pode enfrentar resistência a US$ 14,65, 14,72 e 14,84 e encontrará suporte a US$ 14,33, 14,03 e 13,68.
A Perspectiva Técnica do Investing.com sugere “Forte Compra” na soja de Chicago.
Se o contrato ampliar a tendência de alta, a resistência de três níveis de Fibonacci está a US$ 14,42, 14,47 e 14,54.
De qualquer forma, o ponto de pivô fica a US$ 14,35.
Como em todas as projeções, interprete as visões apresentadas com base nos fundamentos e opere com moderação – sempre que possível.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. Como analista do Investing.com, ele apresenta visões distintas e variantes divergentes de mercado. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.