No fim, você é quem paga
Prejú no carry
Quem tomou em dólares ao final de 2014 para aplicar em juros brasileiros acabou com um prejú de -22%.
Trata-se de raridade.
Tradicionalmente, o chamado “carry trade” pautado em Brasil rende lucros substanciais aos gringos.
Como a Selic é gigantesca, só uma invertida muito grande no câmbio pode comprometer esses lucros.
A invertida aconteceu em 2015.
Aconteceria de novo em 2016?
Depende do clima político. Entre os extremos de Terceiro Mandato e Projeto Temer, existem muitas possibilidades.
Medida antiblefe
Por ora, os gringos estão menos interessados em Brasil e mais interessados em seus próprios reguladores.
Autoridades americanas e chinesas estudam seriamente a hipótese de cobrar tarifas de transação também por ordens canceladas.
Que sentido faria isso? Por que se preocupar com ordens canceladas?
Algoritmos de alta frequência enviam toneladas de ordens-blefe às Bolsas de todo o mundo, sem intenção de honrá-las, apenas para atiçar o preço de reserva de outros participantes.
Essa prática - bem descrita no livro Flash Boys - dá margem à manipulação e desestabilização dos mercados.
No verão chinês, um crash da Bolsa medido em US$ 5 trilhões provocou prejuízo a milhares de pessoas físicas sujeitas a ordens-blefe.
O que é bom para a alta frequência pode ser ruim para investidores de baixa frequência.
Ditadura da demanda
O que é bom para a prefeitura de Florianópolis pode ser ruim para o turista.
Depois de fechar exclusividade com a Kirin, Floripa foi obrigada a recuar, liberando todas as marcas de cerveja.
Ninguém gosta de regulação desse tipo.
Uma vez instaurada a polêmica, seria ruim, inclusive, para a própria Kirin.
Quero ter o direito de escolher minha própria breja, pagando mais barato ou mais caro.
Na prática, Ambev (SA:ABEV3) usa sua liderança de mercado para fazer mais ou menos o que a prefeitura de Floripa tentou.
Mas ninguém reclama.
Ambev tem dezenas de marcas no portfólio, para dar a impressão de concorrência e pluralidade.
Não é à toa que ABEV3 se nega a cair na crise, negociando teimosamente a 20x lucros.
Espiral preço-salário
Vamos tomar mais cerveja em 2016?
Mais pão líquido, mais circo.
A regra do Governo decretou um novo salário mínimo de R$ 880, aumento de +11,68% ano contra ano.
Falsa alegria. No exato momento em que o trabalhador estará quase rendido à ilusão de que ganha mais, virá a inflação a galope, roubando todo seu acréscimo, e um pouco mais. Inflação, aliás, causada pelo próprio reajuste do mínimo, entre outras coisas.
Não existe almoço grátis.
Salários não podem subir enquanto a oferta de mão de obra aumenta e a produtividade do trabalho cai.
Ficando bom de conta
Governo Dilma é craque em tentar captar ganhos políticos para si mesmo, socializando as perdas econômicas.
“Eu te dei aumento do mínimo. Então veio a maldosa conjuntura externa e te derrubou. Maldito dólar, maldito anticiclo das commodities!”.
Outro exemplo. Ministério da Fazenda “pagou" as dívidas-pedaladas de 2015 emitindo mais dívida e zerando um fundo emergencial do Tesouro. Você já sabe o que esperar disso: juros maiores contra o seu bolso; parabéns, você é quem vai pagar as pedaladas, mesmo sem saber.
A estratégia de socializar perdas funcionou por um tempo, não funciona mais.
Quando as pessoas percebem que estão sendo enganadas, se revoltam a um múltiplo infinito das perdas provocadas.
Demora um pouco pois exige calcular entre pequeno lucro (evidente, imediato) e gigantesco prejuízo (oculto, postergado).
Melhor na matemática social, o brasileiro está aprendendo a fazer essa conta.
Se você precisar de uma ajuda com a calculadora, estaremos à disposição, também em 2016.