A indústria de videogames está pegando fogo. De acordo com um relatório da Newzoo, a expectativa é que o segmento cresça de US$ 137,9 bilhões em 2018 para mais de US$ 180,1 bilhões em 2021. Tudo indica que seja um mercado lucrativo e com potencial de expansão constante, já que a fome dos gamers por novos jogos parece nunca acabar. À primeira vista, não há qualquer sinal de desaceleração no setor.
Mas, na semana passada, os investidores conseguiram ver por baixo do quimono, quando os estúdios de jogos Electronic Arts (NASDAQ:EA) e Take-Two Interactive (NASDAQ:TTWO) divulgaram seus balanços. A EA ficou muito abaixo das expectativas, registrando um lucro por ação de apenas US$ 0,86 sobre uma receita de US$ 1,3 bilhão, contra as estimativas de US$ 1,93 e US$ 1,8 bilhão, respectivamente. A Take Two se saiu melhor. A empresa registrou um lucro por ação de US$ 3,89 sobre uma receita de US$ 1,2 bilhão, em comparação com as estimativas de US$ 2,72 e US$ 1,5 bilhão, respectivamente.
No entanto, as ações de ambas sofreram uma forte queda, desvalorizando-se 13% na última quarta-feira, após a divulgação dos resultados. A queda também puxou as ações da Activision Blizzard (NASDAQ:ATVI), que perdeu 10% diante das preocupações com todo o setor.
A Activision divulgou seu balanço na terça-feira e superou as expectativas de resultados em um centavo por ação. A companhia também anunciou um programa de recompra de ações de US$ 1,5 bilhão, mas complementou que cortaria 800 empregos para focar mais no desenvolvimento de jogos. A notícia fez as ações da ATVI subirem 3% após o horário regular do pregão.
Mas a história ainda não acabou. Nos últimos 12 meses, as ações da Activision, EA e Take Two perderam 40%, 18% e 16% respectivamente, em comparação com o ganho de 4% do S&P 500 no mesmo período.
Algo inesperado parece ter acabado com o entusiasmo pelos estúdios de videogames mais estabelecidos. E, como se não bastasse, parece que os ventos contrários ao setor ficaram mais fortes.
Revolução no segmento; microtransações; regulamentações governamentais
Todo o segmento foi abalado pelo Fortnite, uma oferta de jogos gratuita da empresa privada Epic Games, cujo Battle Royale surpreendeu o mercado. A companhia também lucrou impressionantes US$ 3 bilhões em 2018 com 125 milhões de jogadores registrados.
Esse é o maior risco para esse grupo de empresas de capital aberto. Os órgãos reguladores governamentais, entretanto, também podem ser um problema.
Uma das fontes de receita que os estúdios de games têm usado com sucesso para aumentar os lucros dos jogos existentes são as microtransações, vendas de conteúdos variados dentro dos jogos que permitem aos usuários obter melhorias adicionais por game através de uma moeda fiduciária. É uma prática lucrativa e amplamente aceita: da receita de US$ 1,28 bilhão que a EA registrou em 2018, US$ 480 milhões, ou 37%, vieram de compras adicionais nos jogos. De fato, esse se tornou o maior segmento de receita no balanço da EA. No entanto, há um elemento de surpresa ligado à microtransação, já que os compradores nem sempre sabem exatamente o que vão receber.
Em abril do ano passado, os órgãos reguladores da Holanda e Bélgica declararam que a prática é uma violação criminal da sua legislação de jogos. A EA combateu a norma, mas não teve sucesso. Normas similares sobre jogos eletrônicos ainda não se espalharam por outros países, mas, caso isso aconteça, os estúdios de videogames provavelmente terão um grande problema.
Qualidade e originalidade
Talvez o maior desafio para essas empresas seja o infindável apetite dos jogadores por inovações constantes. Os três estúdios de games possuem portfólios populares, mas muitos títulos são novas iterações de jogos antigos. Os clientes costumam expressar seu tédio crescente com algumas das novas versões de títulos passados.
Por essa razão, acreditamos que a ameaça do Fortnite é apenas temporária. Assim que a febre do Battle Royale terminar – e isso vai acontecer –, os estúdios de jogos de capital aberto com mais experiência no mercado e maior diversidade de títulos estarão em melhores condições de se adaptar à próxima grande tendência. Além disso, todos os grandes estúdios agora têm suas próprias versões do Battle Royale, portanto os dias da Fortnite provavelmente estão contados. De fato, na sexta-feira, a EA informou que sua versão recém-lançada do Battle Royale ganhou 10 milhões de jogadores em três dias, fazendo as ações da companhia dispararem 16% ao final da semana de negociações.
Resumo
Do ponto de vista do preço, as ações da EA são normalmente as mais caras, com cotação de US$ 102,33, em comparação com US$ 89,25 da Take Two e US$ 41,67 da Activision. Entretanto, do ponto de vista do P/L, os papéis da EA e da Take Two estão relativamente baratos, com índices de Preço/Lucro de 21 e 30, respectivamente, enquanto o da Activision é muito maior, de 50. A previsão para o índice P/L, com base nas estimativas para o próximo ano, é de 24 para a EA, 20 para a Take Two e de 17 para a Activision Blizzard. O índice P/L médio para a indústria é de 27, portanto a EA e a Take Two são apostas de crescimento relativamente baratas.
Os números de faturamento nos últimos doze meses são os maiores que as três empresas já obtiveram. A Activision lidera com US$ 7,1 bilhões, a EA é a próxima com US$ 5,3 bilhões; a Take Two vem em seguida com US$ 2,5 bilhões. Quanto ao lucro líquido nos últimos doze meses, a EA está na frente com US$ 1,4 bilhão, seu maior resultado até o momento; a Activision aparece com US$ 577 milhões, após uma queda nos resultados de 50% nos últimos dois anos, e a Take Two está com US$ 367 milhões, perto das máximas históricas.
Como a Electronic Arts é a mais estabelecida entre os três estúdios, com mais jogos, maior orçamento e ações mais baratas no grupo após a recente queda, recomendaríamos a compra dos seus papéis para investidores de longo prazo, que buscam uma boa entrada e certa exposição a uma indústria em crescimento. Da mesma forma, a Take Two é um promissor estúdio de games a um valuation razoável, por isso também recomendaríamos seus papéis.
Embora as ações da Activision sejam as mais baratas em termos nominais, elas são as mais valorizadas do grupo e sofreram as piores quedas no ano passado. Apesar de ser, ainda assim, um possível bom investimento em uma indústria em expansão, não é tão atraente quanto suas concorrentes.