O grupo Madero informou que não há garantias de que consiga honrar suas dívidas de curto prazo antes dos vencimentos. Contudo, a empresa está tentando pagar “alguma coisa”.
Após cancelar os planos de uma oferta pública inicial de ações (IPO), o grupo optou pela emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em mais uma tentativa de socorrer os negócios das dívidas.
O cenário levanta dúvidas substanciais sobre a capacidade de continuidade operacional da companhia.
Agentes autônomos resistem a distribuir CRA do Madero
A recusa em oferecer o CRA se baseia na percepção de que o rendimento oferecido pelo papel está aquém do nível de risco da companhia, cuja dívida financeira líquida soma 764,3 milhões de reais, segundo fontes consultadas pelo Valor.
Ainda de acordo com a reportagem, algumas assessorias argumentam que nem sequer consideraram distribuir o papel porque se trata de um ativo arriscado demais para o perfil dos clientes atendidos.
É, parece que não vai dar…
O nível de endividamento segue preocupante, bem como os preços da carne bovina no mundo.
Preços devem continuar elevados em 2022
Os preços das principais commodities, como petróleo e minério de ferro, negociadas internacionalmente, estão aumentando no ritmo mais acelerado desde 1995. Para se ter uma ideia, as commodities agrícolas (carne de boi, carne de porco, arroz, café e outras commodities negociadas na bolsa) tiveram um aumento de +45,23 por cento em 2021.
Por que isso é relevante?
De forma simplificada, o grande diferencial do Grupo Madero são as opções de carnes premium. É óbvio que eles têm outras formas de agregar valor aos seus clientes, como sanduíches gourmets com pão crocante assado “na hora” e ingredientes frescos e naturais, segundo o próprio restaurante, mas por ora vamos só falar da carne.
Como o Madero tem a carne bovina como carro-chefe do cardápio, e os preços das carnes voltaram a subir no Brasil, o grupo não deve ter conseguido repassar 100 por cento do aumento de custos aos consumidores, tendo em vista que essa medida desestimularia o consumo diante do cenário atual.
O ambiente interno segue preocupante, com juros altos, inflação elevada e taxa de desemprego nas alturas em meio à escalada dos preços das commodities. Com isso, o Madero está vindo a mercado com uma oferta para levantar 500 milhões de reais em certificados de recebíveis agrícolas (CRA) para comprar produtos in natura de produtores rurais – afinal de contas, precisam continuar com o atendimento –, mas a grande relevância da operação será alongar o prazo da dívida, que vem apertando a empresa.
O endividamento da hamburgueria está concentrado no BTG Pactual (SA:BPAC11), Bradesco (SA:BBDC4), Itaú (SA:ITUB4) e Banco do Brasil (SA:BBAS3) (via UBS BB) — inclusive, os quatro bancos estão coordenando a oferta de CRAs. Cerca de metade das dívidas vence em julho.