O mercado futuro de açúcar em NY fechou em baixa pela décima primeira semana em seguida, para desespero dos traders, que tentavam sobreviver à semana do jantar do açúcar ocorrido em NY, sob um clima de preocupação e desânimo. O vencimento julho de 2018 encerrou a sexta-feira cotado a 11.22 centavos de dólar por libra-peso representa uma queda de 29 pontos (pouco mais de 6 dólares por tonelada) em relação ao fechamento anterior.
Para quem esteve presente nos eventos da semana, a tônica foi bem baixista, coroada pela previsão de um analista que disse ser possível que o mercado de açúcar em NY negociasse 8 centavos de dólar por libra-peso tendo em vista o superávit mundial, a enorme produção na Tailândia, os estoques se formando na Índia e, caro leitor ou leitora, adicione mais o que lhe vier na cabeça pois o mundo parece que acabou. Só que não.
O atraso na efetivação dos hedges de venda por algumas das usinas, tendo inclusive uma parte desse volume ainda referente à safra 2017/2018 que foi sendo rolada ad infinitum na esperança de dias melhores, e a piora na percepção da trajetória do real em relação à moeda americana em função do cenário externo, e também da saída de investidores estrangeiros, pressionaram ainda mais as cotações do açúcar. O fechamento do dólar na sexta-feira a R$ 3.6010 coloca o açúcar em NY a equivalentes 928 reais por tonelada, muito próximo de quando NY estava 100 pontos melhor há seis semanas atrás com o dólar cotado a R$ 3.3300.
As usinas que tem endividamento em dólar e, portanto, não pensam em reais por tonelada, foram de certa forma atropeladas por aquelas que se orientam pela liquidação em reais. É fácil espalhar o pânico nesses momentos. Outra coisa que ajudou as cotações a caírem (sem contar o famigerado e desgastado superávit) é a massiva quantidade de operações de fences feitas para proteger as usinas contra a queda de preços. Como se sabe, elas consistem na compra de uma put (opção de venda) abaixo do nível de mercado combinada com a venda de uma call (opção de compra) acima do nível de mercado, dando um mínimo de remuneração caso o mercado colapse em troca uma remuneração máxima em caso do mercado subir.
Além desses pontos acima observados, uma grande quantidade de calls (opções de compra) foi vendida pelas usinas ou em seus nomes para adicionar valor no preço final da fixação. Ocorre que com a queda do mercado, essas calls acabaram virando pó (não sendo exercidas) fazendo com que aqueles que haviam vendido as opções objetivando serem exercidos e adicionarem valor, se viram sem o hedge apesar de embolsarem o prêmio vendido. No entanto, precisaram vender futuros para efetivamente fixarem seus contratos. Mais pressão.
O sentimento baixista é tão amplo que o canal de TV da Bloomberg começou uma matéria sobre o açúcar na semana passada com a manchete: “Açúcar! Se você é um trader, certamente você está vendendo”.
A pergunta que todos fazem é se o mercado já caiu o bastante. Difícil responder, pois não se sabe – por exemplo – quantas usinas foram, estão sendo ou serão afetadas pelas operações de balcão com acumuladores. Essas operações fixam uma quantidade diária de lotes dependendo do intervalo de preços negociado em determinado dia. Caso o mercado esteja abaixo do nível acordado entre as partes, não existe fixação nenhuma. Assim, como me confidenciou um trader que está metido até o pescoço nesse tipo de operação, o percentual efetivo de volume fixado foi muito menor do que ele esperava (menos de 30%). Portanto, ele terá que recorrer ao mercado fixando seus contratos vendendo futuro.
Acumuladores são ótimos para mercados que oscilam dentro de um intervalo limitado de preços. Mercados com forte tendência, para cima ou para baixo são um desastre para esse tipo de estrutura. Quando caem muito, você fica sem hedge. Quando sobe muito, você está vendido em dobro. Não existe almoço de graça. E nada substitui uma competente gestão de risco em que você é o dono da estratégia e você pode mudá-la quando achar conveniente.
Apesar das nuvens pesadas por sobre o mercado, alguns pontos merecem ser repetidos aqui. Os postos já estão vendendo etanol abaixo de 65% da paridade. O consumidor demora a perceber isso, mas a vantagem hoje chega a ser de R$ 1,5000 por litro (vi hoje um posto com gasolina a R$ 4.1900 e etanol a R$ 2.6900). Isso vai provocar um aumento espetacular no consumo de etanol e na constante diminuição do mix açucareiro. Ainda podemos ter incertezas em relação ao clima tanto no Centro-Sul como na Índia. O conflito no Oriente Médio pode elevar ainda mais o preço do petróleo e o real pode ainda ter outros picos de alta. Oito centavos? Alguém se habilita?