Após 5 anos de flexibilização monetária tudo leva a crer que o QE3 chegará ao fim em outubro, encerrando a intervenção mensal do FED americano na recompra de títulos do mercado, atualmente já reduzida a US$ 35,0 Bi.
A economia americana tem dado sinais diversos nem sempre simétricos demonstrando recuperação, em especial do emprego, e isto tem levado analistas a projetarem para o 2º semestre de 2015 as alterações mais profundas na política monetária americana, envolvendo a questão de juro que deverá ser elevado.
Contudo, o que é importante perceber é que face as mudanças nos indicadores da economia americana este tempo vem sendo encurtado, havendo a possibilidade de que as mudanças na política monetária possam vir a ocorrer antes do previsto.
Este é um fator preocupante para os países emergentes, em especial aqueles que estão com as suas contas deterioradas, pois deve acentuar a reversão de investimentos na direção do mercado americano.
Este é um aspecto relevante que deverá merecer atenção mais rigorosa por parte dos Bancos Centrais dos países emergentes.
No Brasil as perspectivas para este segundo semestre são bastante preocupantes com agravamento das incertezas e os sinais advindos da economia americana e do FED podem agregar mais pressão ao contexto cambial.
Inflação no pico da meta, tendo a ultrapassado na mais recente aferição, e embora o governo procure identificar fatos pontuais para identificar as causas, o fato concreto é que por estes ou por novos fatores não se vê possibilidade da inflação ceder do ponto que está de forma expressiva.
O crescimento, este sim, indica tendência cadente mês a mês, evidenciando ser improvável que qualquer medida por parte do governo retire o país deste marasmo, merecendo atenção o fato da renda e o crédito ter viés cada vez mais cadente, o que repercute diretamente fazendo retroagir o consumo.
O modelo que o país adotou para impulsionar o seu crescimento, oportuno quando havia uma demanda reprimida elevada e baixo acesso ao crédito, está exaurido, sendo necessário que haja investimentos relevantes por parte do governo e por parte do setor produtivo.
O governo não tem recursos e o setor produtivo não encontra motivação face ao “status quo” do país.
Resultado final, cada vez menor crescimento e menor atratividade para os investidores internos e externos em conta capital.
Há, portanto, crescentes incertezas em torno do Brasil, que sugerem que até mesmo os capitais especulativos que adentraram o país no 1º semestre passem a sair neste segundo semestre.
O fluxo cambial em junho só revelou-se positivo liquidamente em razão do resultado pontual do dia 30 positivo em US$ 974,0 M e que possibilitou que ficasse positivo em US$ 118,0 M. Contudo, na sequência da 1ª semana de julho já reverteu para um saldo liquido negativo de US$ 1,608 Bi.
No ano, até 4 de julho, o saldo do fluxo cambial aponta positivo em US$ 2,539 Bi, numero bastante irrisório para as necessidades do país que transportou do ano passado fluxo negativo de US$ 18,1 Bi suportados por posições vendidas dos bancos.
Importante destacar que este saldo positivo de US$ 2,539 Bi foi composto por US$ 2,995 Bi de fluxo comercial positivo menos US$ 456,0 M de fluxo financeiro negativo. Relevante destacar que o país registrou até o dia 4 último fluxo financeiro bruto de US$ 254,191 Bi e o saldo está negativo em US$ 456,0 M.
Por outro lado é importante observar que o saldo positivo comercial de US$ 2,995 Bi decorre das exportações de “commodities”, em especial agrícolas, tendendo a queda no 2º semestre, mas muito em consequência da expressiva redução das importações em razão da baixa atividade econômica que se revela na perspectiva de baixo crescimento do país.
Ainda se espera saída massiva de recursos especulativos do país neste 2º semestre e em período antecedente às eleições, o que exercerá pressão de alta do preço da moeda americana a partir do mercado à vista.
Os bancos vêm sustentando a liquidez com suas posições vendidas atualmente em US$ 15,3 Bi, substantivamente financiada por bancos estrangeiros, sendo a parcela do BC de tão somente US$ 2,250 Bi. É curioso que os bancos não tenham absorvido os US$ 3,5 Bi de oferta de linhas realizada pelo BC ao inicio do mês.
As importações cadentes tem trazido certo alivio para a balança comercial e para o fluxo cambial, contudo, há o risco de que na medida em que a nossa economia não se revigore, a indústria nacional reduza ainda mais a sua atividade e passe a importar mais, principalmente com o estimulo do preço do dólar baixo.
O esforço do BC em manter o real apreciado para combater a inflação tem como contrapartida a elevação do déficit em transações correntes do país, que tende a superar os US$ 80,0 Bi projetados, não alcançando, mais uma vez, volume de financiamento externo na forma de IED´s.
O ambiente prospectivo não sugere nenhum fator que possa induzir à manutenção dos parâmetros atuais de taxa da moeda americana no nosso mercado de câmbio, mesmo com atuação do BC, principalmente com oferta de “swaps cambiais”, pois a demanda deverá se acentuar no mercado à vista.