Tivemos dois momentos bem distintos nesta semana que passou.
Um foi até um certo regozijo com a inflação de 2017, pelo IPCA em 2,95%, e a carta do BACEN para a Fazenda, reconhecendo os avanços nestes dois anos na “ancoragem das expectativas”. Cabe destacar que esta carta é enviada sempre para a Fazenda quando a meta não é cumprida, no centro da meta, de 4,5%, com intervalos de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Lembremos que já foram cinco cartas enviadas, quatro acima da meta, uma agora abaixo.
Mesmo assim, não deixa de ser uma importante conquista a inflação baixa. Saímos de algo em torno de 10,7% em janeiro de 2016 para 2,9% agora em dezembro, com o juro reduzido de 14,25% a 7,0%, ou seja, sem grandes traumas!
Outro foi, ao fim da quinta-feira, o downgrade na nota de crédito do Brasil, pela agência de rating Standard and Poor’s.
Tudo bem. Muitos achavam este inevitável, mas havia uma expectativa de que só ocorreria caso fracassasse a aprovação da reforma da Previdência no dia 19 de fevereiro. A partir daí, não seria surpresa a saraivada de críticas e de rebaixamentos pelas agências. Poderíamos então considerar este rebaixamento precitado? Sim e não. Pelo momento, talvez, pois ainda teremos a votação da reforma. Por outro lado, não deixou de ser um “tapa de pelica” o aviso dado pela agência aos políticos. Sim, porque boa parte do comunicado destacou os avanços da economia neste ciclo Temer, mas colocaram um aviso na porta. Ou o Congresso aprova a reforma e avança na agenda econômica, ou então, o que foi conquistado até agora será perdido. Sem dúvida.
Falando da inflação e do comunicado do BACEN, não podemos negar os avanços obtidos. O IPCA ficou um pouco abaixo do piso da meta de inflação (2,95% contra 3,0%), mas isso não foi considerado um fato negativo. A inflação mais baixa acabou saudada por proporcionar um ganho de renda para as famílias, estimulando a retomada pelo lado do consumo.
Na análise do índice, sem dúvida que o item Alimentos acabou tendo grande preponderância neste recuo, refletindo as boas condições de oferta, depois da super safra de 2017, chegando a 51,1 milhões de toneladas, 27% acima da anterior. Neste caso, “alimentos no domicílio” acabou como decisivo, depois de atingir 16,8% em agosto de 2016, terminando 2016 a 9,4% e 2017 a -4,8%. Ou seja, foi uma queda de 14,2 pontos percentuais entre fim de 2016 e de 2017, contribuindo com menos 2,4 pontos percentuais para a queda do IPCA, de 6,3% em 2016 para 2,9% em 2017. Tirando este subgrupo “alimentos no domicílio”, o IPCA teria recuado de 5,7% para 4,5%, portanto, no centro da meta.
Cabe considerar também que houve relevante desinflação no índice do IBGE ao longo de 2017 por outros motivos. Os preços dos serviços, por exemplo, depois de se manterem, na média, acima de 8% entre 2011 e 2015, foram recuando a 6,5% em 2016 e 4,5% ao fim do ano passado. Pode ter contribuído para isso o forte rescaldo da recessão em curso, derrubando a renda e o emprego das famílias. Isso, aliás, deve ser observado. A economia em recessão também deu sua contribuição ao derrubar a inflação neste período. Os preços dos bens industriais recuaram bem, de 6,2% em 2015 para 4,7% em 2016 e 1,0% no ano passado.
Por outro lado, os preços administrados se mantiveram pressionados, em especial no segundo semestre de 2017, no ano a 7,9%, contra 5,5% em 2016, com destaque para os preços dos planos de saúde, combustíveis e energia elétrica. Pelo gráfico a seguir, podemos observar este impacto nos grupos Habitação, com energia elétrica, Transportes, com combustíveis, e Saúde e Cuidados Pessoais, com os planos de saúde.
Na análise de 2017, pela ordem, o grupo Habitação registrou 6,2% com impacto de 0,9 p.p. no índice, Saúde e Cuidados Pessoais (6,5% e 0,76 p.p.) e Transportes (4,1% e 0,74 p.p.). Estes três grupos representaram 2,4 pontos percentuais do índice anual, responsáveis por 83% do total. Na direção oposta, beneficiado pela super safra no ano passado, em final de escoamento, Alimentos e Bebidas fechou em queda de 1,8%, com -0,48 p.p. de impacto para a queda do índice.
Neste início de ano algum repique é previsto no IPCA, mantendo-se em torno de 0,4% em janeiro, devido aos reajustes de água e esgoto em vários estados do Brasil e do gás no Rio de Janeiro. No primeiro trimestre é preciso atenção para os impactos sazonais de sempre como as mensalidades e o material escolar, as taxas anuais como IPTU e IPVA e os aluguéis, dentre outros.
Para o ano como um todo, seguimos prevendo o IPCA em torno de 4,0% a 4,2%, diante do retorno dos choques agrícolas, já que a safra deste ano se prevê 30% menor do que à de 2017, assim como nos permanentes reajustes dos preços administrados e possíveis impactos da taxa de câmbio. Uma boa notícia, talvez, é de que neste primeiro trimestre, a bandeira tarifária de energia deve se manter verde, dado o bom curso das chuvas de verão.
COMPORTAMENTO DO IPCA POR GRUPOS (12 MESES)