As recentes declarações e medidas de Donald Trump sobre a imposição de tarifas universais trouxeram preocupação aos mercados globais. O presidente dos Estados Unidos, em sua estratégia de fortalecer a indústria doméstica e angariar novos acordos, ameaça expandir medidas protecionistas que podem impactar não apenas seus vizinhos, México e Canadá, como a União Europeia e países emergentes, como o Brasil.
Embora o Brasil tenha pouca exposição direta ao mercado americano, o impacto indireto pode ser significativo. Isso porque a tarifas que os Estados Unidos colocam fazem com que o dólar se fortaleça globalmente e isso encarece os custos das importações brasileiras. Esse cenário já se desenha com a valorização do dólar frente a outras moedas, o que pode pressionar a inflação e aumentar o custo de insumos e bens importados no Brasil.
O fortalecimento do dólar é um dos efeitos mais imediatos dessas políticas. Isso ocorre porque as tarifas elevadas podem reduzir o déficit comercial dos EUA, aumentando a demanda por dólares e, consequentemente, sua valorização. Para o Brasil, que depende de importações de bens de capital, tecnologia e insumos industriais, isso representa um aumento de custos que acaba sendor repassado aos preços finais, pressionando o consumidor e dificultando a competitividade da indústria nacional.
Para os exportadores brasileiros, o impacto também não pode ser ignorado. Trump quer impor tarifas universais e, mesmo que os Estados Unidos não sejam o principal destino das exportações brasileiras — ficando atrás da China —, setores específicos podem sentir os efeitos, como o agronegócio, que só em 2024 teve embarques de US$ 12,1 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. A indústria de metais e químicos também seria afetada. Em 2022, por exemplo, o petróleo bruto representou 13,9% do total de mais de US$ 36 bi exportados. O ferro-gusa também teve participação relevante, com 4,4% das exportações, além de produtos químicos e papel celulósico, que juntos somaram 3,49%
O cenário se complica com a possibilidade de uma "guerra comercial" renovada, afetando cadeias produtivas globais. O fortalecimento do dólar, além de encarecer importações, pode atrair investimentos para os EUA, reduzindo a liquidez em mercados emergentes como o Brasil. Isso poderia gerar pressão adicional sobre o real e os ativos brasileiros. O impacto nos mercados financeiros pode incluir maior volatilidade cambial, aumento do risco-país e possíveis revisões em políticas monetárias, com o Banco Central podendo ser forçado a ajustar taxas de juros para conter a inflação importada.
Além disso, a dependência de insumos importados para setores estratégicos, como a indústria automotiva e de tecnologia, torna o Brasil vulnerável a choques de preços globais. O aumento dos custos pode levar à redução da produção, desemprego em setores específicos e menor competitividade internacional. Empresas que operam com margens apertadas podem ser forçadas a revisar estratégias, buscar novos fornecedores ou até mesmo reduzir suas operações.
Em termos de estratégia, empresas brasileiras precisam considerar o hedge cambial para mitigar riscos e revisar suas cadeias de suprimentos, buscando alternativas de mercados e fornecedores. A diversificação de mercados de exportação também é uma estratégia fundamental para reduzir a dependência de economias específicas. O governo, por sua vez, deve estar atento, adotando políticas que minimizem o impacto no comércio exterior e na indústria nacional, como acordos comerciais que ampliem o acesso a novos mercados e medidas de incentivo à inovação e competitividade.
O Brasil, mesmo não sendo um dos principais alvos diretos das tarifas de Trump, não está imune aos reflexos de uma nova onda protecionista global. A interconexão dos mercados faz com que efeitos indiretos, como o fortalecimento do dólar e o aumento do custo de importações, possam repercutir de forma significativa na economia brasileira. Monitorar esses desdobramentos e adotar uma abordagem proativa será essencial para mitigar riscos e identificar oportunidades em um cenário global cada vez mais desafiador.
É evidente que muitas das imposições de Trump não passam de blefes para conseguir acordos comerciais melhores para os Estados Unidos. No entanto, empresas e governos precisam se atentar, pois não há garantia de que essas imposições não desencadeiem uma reação global que mexa com os mercados.