Certa vez, durante uma discussão sobre política monetária, um crítico acusou o economista John Maynard Keynes (1883-1946) de mudar de opinião e ouviu a resposta: “When the facts change, I change my mind. What do you do Sir?” (Quando os fatos mudam, eu mudo minha opinião. O que o senhor faz?, em tradução livre). Ainda que haja controvérsia sobre a autoria, a frase é espetacular para ilustrar a natureza contingente das opiniões.
Diante do choque de oferta decorrente da alta do petróleo, a equipe econômica da Kilima revisou o cenário de inflação de 5,7% para 6,3% e nível terminal de Selic de 12,75% para 13% e, agora, vemos a necessidade de uma nova alta 150 bps na reunião de 16 de março.
Em fevereiro, o cenário de referência do Banco Central projetava uma inflação de 5,4% para 2022, o que era compatível com uma redução do ritmo de elevação da taxa Selic, conforme sinalizado.
Contudo, o cenário de inflação mudou após a invasão da Ucrânia e as sanções sobre a Rússia. As novas projeções apontam um IPCA em torno de 1% em março e abril. Assim, em termos relativos, um aperto de 150 bps não vai produzir nem sequer o mesmo efeito do que os 100 bps produziriam no cenário esperado pelo Copom quando a sinalização foi feita.
Na prática, isso significa que a “surpresa inflacionária” corrói o aperto real que o BCB pretendia produzir em um cenário de inflação mais alta. Por isso, entendemos ser preferível renunciar à sinalização de desaceleração e manter o ritmo de aperto em 150 bps.
Outra razão para atacar imediatamente o choque de oferta é o horizonte de convergência, se o objetivo for ancorar o IPCA de 2023 perto da meta, é preciso conter os efeitos secundários do choque de preços de energia e commodities tempestivamente.
Assim, a despeito do comunicado do Copom de fevereiro ter dito que “o Comitê antevê (...) a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, o texto já tinha uma cláusula de escape ao lembrar que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução (...) do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.
Acreditamos que as consequências econômicas da guerra configurem uma mudança relevante dos fatos e esperamos que o COPOM adapte sua reação de acordo com isso. O que você faria?