Ao longo dos últimos dois meses, temos trazido alguns assuntos muito importantes para a economia dos Estados Unidos e, consequentemente, para os seus investimentos — mesmo que você ainda não invista fora do Brasil, o que acontece na maior economia do mundo acaba respingando por aqui.
Dentre os grandes eventos, podemos ressaltar a quebra de bancos nos Estados Unidos, indicadores econômicos mostrando que a economia do país pode estar de fato desacelerando e o setor imobiliário comercial com indicações de problemas.
Mas hoje vou abordar um tema que pode ser maior do que tudo isso junto: o teto da dívida americana.
Você pode já ter se familiarizado com esse termo “teto”, visto que aqui no Brasil estamos passando por uma discussão política a respeito do tema, mas do lado dos gastos do governo. Nos Estados Unidos, não é tão diferente, porém a discussão fica em torno do teto da dívida do governo.
O teto da dívida americana voltou a atenção dos investidores depois que o governo dos EUA atingiu seu limite legal de endividamento no início deste ano. Embora existam medidas que o governo pode tomar para continuar pagando suas obrigações, elas só podem se estender por um tempo limitado.
A menos que os políticos cheguem a um acordo, seja em aumentar, suspender ou mesmo eliminar o limite de endividamento do país, o governo poderá ficar sem dinheiro para pagar suas contas muito em breve.
Não há uma data precisa sobre quando isso pode acontecer, tudo depende do quão rápido o governo está emitindo dívida para custear seus gastos e também quão forte, ou não, a arrecadação vai indo. As melhores estimativas dos bancos gringos apontam para meados de junho como o limite para o governo americano chegar a um acordo sobre isso.
Uma eventual falha por parte dos políticos em chegar a um acordo teria consequências econômicas graves, incluindo o risco de que o governo dos EUA não pague sua dívida — o famoso calote —, o que seria catastrófico para o país e para o mundo.
As finanças de um governo
Todo mundo tem contas a pagar (nossos queridos boletos), e o governo federal não está fora dessa.
O governo gera sua receita por meio de vários impostos e usa esse dinheiro para pagar tudo, desde previdência social, saúde, gastos militares, educação e outras prioridades estabelecidas pelo Congresso.
Quando o governo arrecada receita suficiente para cobrir seus gastos, ele gera um superávit orçamentário. Por outro lado, quando não arrecada receita suficiente para cobrir suas obrigações, incorre em déficit orçamentário.
Nas últimas duas décadas, o governo dos Estados Unidos teve um déficit orçamentário. Apenas no ano fiscal de 2022, o governo dos EUA gastou cerca de US$ 1,4 trilhão a mais do que arrecadou.
Para cobrir essa diferença entre o que entra (impostos pagos pelas pessoas e empresas) e o que sai (gastos do governo), o Departamento do Tesouro dos EUA está autorizado a cobrir o déficit (despesas maiores do que as receitas) por meio da emissão de novas dívidas.
A quantia cumulativa de dinheiro que o governo tomou emprestado ao longo do tempo é chamada de dívida nacional. A dívida nacional dos EUA explodiu nos últimos 20 anos, passando de US$ 6,4 trilhões em 2003 para US$ 31,4 trilhões hoje, algo como 130% do PIB do país.
O teto da dívida, sua história e implicações
As origens do teto da dívida remontam a 1917, quando os EUA estavam no meio da Primeira Guerra Mundial. A lei foi inicialmente criada para simplificar o processo de emissão de dívida para financiar a guerra.
Em 1939, o Congresso estabeleceu um limite de dívida, que foi aumentado ou suspenso ao longo dos anos. Desde a década de 1960, o teto da dívida foi aumentado 78 vezes. O objetivo do teto da dívida é estabelecer um montante máximo de dívida que o governo dos EUA pode ter em aberto. Uma vez atingido o limite, o governo federal não pode aumentar o valor da dívida pendente até que o Congresso autorize um novo limite de dívida ou o suspenda por um período de tempo.
Aumentar ou suspender o teto da dívida tem sido, historicamente, algo corriqueiro, pois os políticos preferem um acordo, dado que deixar os Estados Unidos entrarem em default (calote) não parece ser uma boa ideia.
No entanto, nos últimos anos, o debate político a respeito do tema ganhou corpo. O pior confronto político, que colocou os EUA à beira da inadimplência, ocorreu em 2011. O gráfico abaixo mostra como o Índice S&P500 se comportou.
O pior momento foi quando a agência de risco Standard & Poors rebaixou o rating (nota) da dívida americana de AAA (mais seguro possível) para AA+ em 5 de agosto de 2011 (uma sexta-feira, depois do fechamento do mercado). O fato ficou conhecido como a Segunda-feira Negra. As bolsas de valores desabaram na segunda-feira, com os índices caindo cerca de -7%.
Confrontos anteriores sobre limites de dívida normalmente ocorrem quando há um democrata na Casa Branca e os republicanos controlam o Congresso.
O impasse atual
O governo americano sabe que o assunto precisa ser resolvido e declarações de ambos os partidos — democratas e republicanos — já foram feitas ao longo dos últimos meses a respeito do tema, mas um consenso entre as partes ainda está longe de ser atingido.
O governo dos EUA está em uma trajetória fiscal insustentável, com dívidas e gastos crescendo em ritmo alarmante. Os republicanos, que hoje possuem maioria na Câmara, já deixaram claro que pretendem pressionar a atual administração (o presidente Joe Biden, do partido Democrata) por ajustes no orçamento em troca de um aumento no limite da dívida.
A Casa Branca, por outro lado, se recusa a negociar, pois quer aprovar um “aumento limpo” no teto da dívida, ou seja, o presidente Biden não quer amarrar um aumento do limite da dívida ao processo orçamentário em curso.
Com nenhuma das partes mostrando alguma boa vontade em negociar, parece provável que teremos outro confronto nos próximos meses.
Isso é bastante importante porque, à medida que nos aproximamos do dia X — momento em que o governo dos EUA ficará oficialmente sem dinheiro —, o mercado poderá reagir negativamente, assim como aconteceu em 2011.
O que fazer?
Não há muito o que fazer em relação a isso. A decisão é meramente política e muito provavelmente, aos 45 do segundo tempo, os políticos vão chegar a um acordo para elevar o teto da dívida, pois o contrário seria catastrófico para o mundo todo.
Enquanto isso, podemos tentar diversificar nossos investimentos investindo em boas empresas, ou mesmo buscando algum instrumento financeiro que ofereça algum tipo de proteção.
Recentemente, adicionamos dois ativos à carteira do Nord Global que possuem esse papel de proteção, caso o mercado entre em uma espiral negativa.