Baseado em que poderia o preço da moeda americana situar-se em níveis tão baixos frente ao real, já que a realidade econômica do país está amplamente deteriorada e num quadro de difícil reversão no curto/médio prazos da situação fiscal, o que emperra tudo o mais que se possa imaginar como saída, não havendo como projetar-se perspectiva de data ou mesmo de ano.
O clima político criou a mística de que tudo se solucionará com a mudança dos governantes, mas esta pode ser uma meia verdade de imediato, pois é bem possível que, desde que o Senado Federal ratifique o impeachment, tenhamos uma melhor perspectiva, mas que seguramente não afastarão do trajeto muitos espinhos antes que se tente vislumbrar flores.
Não deve haver ilusões, a degradação da economia brasileira foi muito além do pior estado imaginável e a recuperação demandará a adoção de medidas nem sempre viáveis por impedimento da política fiscal negativa, o que imporá cortes de gastos nem sempre facilmente aplicáveis sem causar fortes ruídos das áreas atingidas e aumento de impostos, até mesmo aqueles que vinham sendo combatidos.
As projeções de coesão partidária de sustentação a um novo governo surgirão fragilizadas, já que interesses precisarão ser contrariados e, certamente, surgirão descompassos, o que faz crescer a propensão à uma nova eleição como alternativa mais viável.
O governo atual revela-se incapaz de governar e prover o país de diretrizes recuperatórias, mas quem garante que um novo governo na forma que vem sendo cultivada a ideia possa ser capaz, não basta criarem-se perspectivas encima de viabilidades inexistentes e sem sustentação.
O primeiro sentimento pós-votação do impeachment pela Câmara Federal é que o mercado financeiro, adepto aberto da mudança, tenha amanhecido o dia seguinte meio estonteado sem renovar seus credos nas convicções que até então promovia propagação.
É natural, o que vem por ai parece não ser muito para solução do problema brasileiro de imediato. Caiu a ficha!
O Boletim FOCUS divulgado certamente não reúne mais projeções críveis, pois na realidade ninguém consegue estabelecer parâmetros novos quando não há base fundamentalista. Quem sabe como será a semana seguinte, o mês que vem e consegue no imaginário vislumbrar o final do ano? Certamente ninguém neste momento.
O mercado de câmbio ao longo dos últimos meses e mais intensamente ao final do trimestre foi fortemente especulado.
Saíram do país capitais financeiros líquidos da ordem de US$ 17,0 Bi e os bancos, ancorados pelas reservas cambiais brasileiras geridas pelo Banco Central do Brasil, constituíram posições vendidas (a descoberto) de US$ 30,0 Bi para prover o mercado à vista de câmbio com liquidez.
O Banco Central do Brasil permitiu um contexto de elevada liquidez no mercado de câmbio ao não promover o enxugamento concomitante com as saídas que deixavam de demandar hedge. Com isto viabilizou forte especulação que apreciou o real de forma absolutamente irreal, sendo inclusive foco de comentários de que pudesse estar beneficiando esta ou aquela empresa, o que determinou seu pronunciamento negando imediatamente.
Ficamos com a convicção de que o Banco Central do Brasil trabalhava com a hipótese de que a irrealidade do preço do câmbio tinha como fundo a questão política, por isso ficou aguardando o desenrolar dos acontecimentos aguardando um fato positivo pró governo que provocasse a reversão contundente da tendência forjada e forçada de valorização do real.
Contudo, na medida em que esta possibilidade foi se afastando o Banco Central do Brasil promoveu magnânima intervenção nunca vista e numa semana reduziu sua posição de contratos de swaps cambiais no mercado com a concomitante oferta de contratos de swaps cambiais reversos e com isto houve um corte de mais de US$ 30,0 Bi reduzindo o estoque em poder do mercado a pouco acima de US$ 70,0 Bi, mas não parou ai, continuou e pelo jeito vai continuar.
Suas ofertas de contratos de swaps cambiais reversos já estão sendo substantivamente absorvidas pelo mercado, mas não será tarefa fácil reerguer o preço da moeda estrangeira a parâmetros realistas.
Acreditamos que o mercado fará isto por si mesmo em grande parte ao observar que aquela euforia de que “tudo será diferente” vai sendo atenuada com o crescimento da convicção de que não haverá trajetória fácil e nem o mercado global alterará sua visão critica a respeito do Brasil até que todo o processo político seja superado, permanecendo Dilma ou não, e haja diretrizes que criem perspectivas de médio/longo prazo que vislumbrem o país saindo do marasmo atual e se tornando, gradativamente, atraente.
Mas não devemos desconsiderar que o quadro econômico, mesmo sem Dilma, tende ao agravamento do desemprego, queda de renda e consumo e o dólar nos patamares atuais será relevante desestimulo a indústria, investimentos e reestruturações.
Será árdua a trajetória de reconstrução da atratividade do país, não se deve achar que é só uma questão de nomes, mas na verdade será necessária coesão e atitude e as diretrizes terão uma relação causa/efeito bem mais longo do que a melhor expectativa predominante e que foi precificada intempestivamente nos ativos.
Preço da moeda estrangeira depreciada, afora outros aspectos, beneficia os especuladores, em especial em Bovespa que saem com mais dólares do país e empresas com passivos em moeda estrangeira que despendem menos para pagá-los, contudo prejudica a indústria nacional e desalinha preços da nossa economia já conturbada.
A tendência do preço do dólar é de alta, não há condições que viabilizem com sustentabilidade preço muito distante de R$ 4,00, seja pelos fluxos cadentes que poderão ser intensificados por saídas de recursos financeiros, seja pelos fluxos atuais que já sancionam preço em torno deste eixo.