Estou de volta depois de uma semana de “folga” aqui da tônica.
E confesso senhores e senhoras que quanto mais eu leio e busco informações acerca do mercado no momento atual, mais e mais eu encontro gráficos, conceitos, teorias e pensamentos que indicam que estamos num pico, bolha, ou exagero – ou como queiram chamar – uma vez que os mercados norte-americanos se encontram em suas máximas – a dinâmica do Brasil está um pouco diferente. Vou dividir aqui com vocês alguns acerca do mercado americano que, como vocês sabem, acaba por dar a direção do resto do mundo. Mas, como bom libriano que sou, também vou tentar balancear isso com outros argumentos que sugerem o contrário…bora lá?
EMBRACE THE BUBBLE?
O último dado de confiança do consumidor norte-americano não foi lá essas coisas… Esse é um indicador importante, que normalmente possui relação com os preços dos ativos no mercado e o desempenho da economia. Olha que interessante o gráfico abaixo que aborda essa relação. Na linha verde escura, a relação entre preços dos ativos na bolsa e o PIB americano. As altas recentes jogaram essa relação para máximas de mais de 20 anos! Na linha cinza, há o indicador de confiança do consumidor americano. Vejam que normalmente eles andam juntos, e que no atual momento houve uma total ruptura disso. Então, em tese, para que o gráfico permaneça válido, ou teremos uma inflexão muito forte da confiança dos agentes, ou uma realização nos mercados.
Outra coisa que chamou atenção foi o fato das atuais altas casarem com um momento de relativa “paz” nos mercados. Normal. Seria estranho se fosse diferente. O problema é que normalmente isso não dura muito. O gráfico abaixo compara o Nasdaq e a volatilidade do Nasdaq. Ele não fornece um histórico tão longo assim, mas mostra que nos últimos dois anos essa “paz” medida por um baixo nível de volatilidade (VIX) tende a ter um fim, em média de 3 a 4 meses. E, quando o VIX salta, o mercado realiza. Estamos nos aproximando do quarto mês.
Para quem me acompanha aqui sabe que eu volta e meia uso esse indicador/gráfico/índice. O Fear and Greed Index da CNN chegou na região da chamada “Ganância Extrema”, ou seja, em tese seria hora de sair fora do mercado!
Sob o ponto de vista de múltiplos, então, nem se fala. Estamos bem acima da média histórica da relação P/E que o S&P historicamente negociou.
Esse negócio varia bastante dependendo de como você calcula (qual lucro usa ou ajuste contábil que faz), mas você pode procurar diferentes fontes e vai verificar que, na maioria delas, as principais empresas de tecnologia negociam a múltiplos ainda mais altos, na média bem acima de 30x! Google (NASDAQ:GOOGL) 37x, Microsoft (NASDAQ:MSFT) 40x, Facebook 37x, Amazon (NASDAQ:AMZN) 131x, Netflix (NASDAQ:NFLX) 93x, Tesla (NASDAQ:TSLA) 227x. Abaixo os múltiplos foward (projetados) calculados pelo Yardeni Research.
E, após as altas recentes, o dividend yield do S&P também minguou, voltando aqueles níveis historicamente baixos…
Outra coisa que chama atenção é a relação entre a demanda por PUTs e CALLs. Gráfico abaixo mostra como a relação deteriorou com o mercado enxergando cada vez mais apenas um lado. Afinal, para que comprar proteção se o mercado só sobe, não é mesmo? Rs
E para quem gosta dos búzios, ops, digo gráficos, o S&P está lá numa resistência. E os mais entendidos no assunto poderiam ainda acrescentar que se encontra numa região sobrecomprada e bem acima das médias móveis.
DON’T STOP…BELIEVING
Como disse, existem vários argumentos que indicam os exageros. Defender o oposto não é algo tão simples, mas mesmo assim deixe-me tentar.
Falei do Fear and Greed Index acima, mas é importante lembrar que não existe indicador infalível e é possível que o mercado avance ainda mais no terreno da “extrema ganância”, como vimos em 2017 e 2018, ou ainda ao final em 2019. Em outras palavras,esse negócio pode seguir subindo e acelerando ainda mais para níveis de “ganância” ainda mais extrema por meses.
Falei do baixo Dividend Yield do S&P, mas, num cenário de juros baixos ou zero, que foi reafirmado essa semana no discurso do presidente do Fed, um yield de 1,7% acaba sendo maior do que o yield dos treasuries de 10 anos, por exemplo – atualmente em 0.74%.
E, se você considera o Earnings Yield do S&P, ou seja, considerando que ao comprar uma ação você receba não só os dividendos, mas que seja de fato dono do lucro todo da empresa, o investimento em bolsa seria ainda mais justificável mesmo depois das altas atuais. O earnings yield nada mais é do que o inverso do P/E.
Lá em cima eu disse que o P/E atual do S&P estaria em 23.6 usando o gráfico da Merril Lynch.
1/23.6 = 0.0426 = 4,26%
Comparado a taxa atual de juros de 0.25% ou mesmo a embutida na curva de 10 anos, os 4.25% ao ano parecem ser um retorno lindo, não é mesmo? Em outras palavras, o retorno embutido nos lucros das empresas do S&P hoje seria umas 4x maiores que o investimento num ativo considerado livre de risco (bond do governo americano). O Ycharts calcula isso…só para ilustrar:
Não obstante, qual o múltiplo justo considerando uma taxa de desconto muito baixa e uma empresa que cresce lucros a 2 dígitos? A fórmula “dá pau”, rs. Me refiro a isso aqui ó:
Pensa numa empresa que cresce lucros a 10%. Se o cost of equity for 7% ou 8%, o resultado se torna negativo e sem sentido. Isso ajuda a entender porque a avaliação de múltiplos não se encaixa tão bem para empresas de crescimento como as de tecnologia.
E, para acabar, essa alta toda do S&P mascara uma realidade: o fato de que existe um universo gigantesco de ações que ainda acumulam fortes perdas no ano. Ou seja, o fato de investir na máxima do mercado não necessariamente indica que você vai investir na máxima da ação! Na verdade, mais de 60% do índice ainda acumula perdas no ano…(fonte)
E O BRASIL?
No Brasil a dinâmica tem sido um pouco diferente, com o mercado ainda longe das máximas... aproximadamente 17% pra ser mais exato.
E com um belo atraso ante o mercado americano (linha preta) e demais emergentes (linha vermelha). Se fosse Fórmula 1, definitivamente seríamos o Rubinho (ps: brincadeira infame com esse cara que foi um baita piloto e é uma grade pessoa)!
Mesmo assim, alguns sinais chamam atenção. Em meio a uma situação econômica ainda adversa, vemos uma chuva de IPOs! Cada dia surge mais uma empresa querendo abrir capital na bolsa! Tem tantas que o MoneyTimes criou inclusive uma página só para isso, com contagem regressiva e tudo mais!
A sacada do site foi muito boa, mas me deixa de sobrancelha em pé…
E não poderia deixar de falar da capa da Veja. Tradicionalmente, as capas da Exame eram um bom preditor de perigo. Mas, como mudaram de comando, talvez o pessoal lá tenha se ligado que o tema já tinha virado certa “chacota” de mercado. Então, por ora, não tivemos nenhuma capa da Exame. Mesmo assim a Veja nos deu um sinal, hein…
MÚSICA
E pra nós que estamos comprados e vivendo esse mercado só nos resta cantar….
Don’t stop believin’
Hold on to that feeling
Era isso.
Aquele Abs.