O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana em alta de 54 pontos no vencimento maio/2014, encerrando cotado a 17.20 centavos de dólar por libra-peso, quase 12 dólares por tonelada de valorização. Mas não é nada para entusiasmar muito pois o mercado futuro negociou pouco volume na semana: segunda, terça e sexta tiveram volumes médios de 55 mil contratos, com pelo menos 40% desse volume representado com operações de spread.
As previsões de safra de cana para o Centro-Sul continuam pululando aqui e ali. A Canaplan divulgou sua safra estimada em 540 milhões de toneladas, de longe a mais baixa até agora apresentada. A UNICA se coloca em 580 milhões de toneladas, um número bem mais próximo da média do mercado. De qualquer forma, como se sabe, é sempre prematuro discutir as tecnicalidades que cada entidade usa para fazer sua previsão. Algumas usinas ficaram surpresas com o bom rendimento das primeiras canas moídas.
Embora haja consenso de que os preços devam ser melhores no segundo semestre em função da possibilidade de confirmação de uma moagem mais modesta, da redução do superávit mundial, da menor disponibilidade de açúcar para o mercado externo devido a demanda firme de etanol no mercado interno e da possível chega do El-Niño, algumas empresas acreditam que o açúcar em NY pode chegar a 25 centavos de dólar por libra-peso! Acredito ser muito mais uma ilusão do que qualquer embasamento fundamental.
O fato concreto é que dado o custo de produção de açúcar, hoje estimado pelo modelo da Archer Consulting como sendo em média R$ 35.6798 por saca posto usina, a menos que vejamos um fenômeno climático de real envergadura, NY terá como grande resistência, independentemente do valor em centavos de dólar por libra-peso que estiver negociando, a paridade em reais por tonelada próxima de 950/1.000 reais. O fechamento de sexta-feira, por exemplo, mostra 885 reais por tonelada FOB, muito baixo comparativamente à média do ano passado. Se fixarmos o dólar em 2.3000 estamos falando de NY entre 18 e 19 centavos de dólar por libra-peso para esta safra 2014/2015. Repetindo: se tivermos El Niño e isso causar atrasos ou interrupções de moagem devido às chuvas que acompanham esse fenômeno, a alta pode ser bem maior. Se as usinas hoje trabalham no limite de sua capacidade de moagem, cada dia de interrupção é aproximadamente 2.5 milhões de tonelada de cana que deixam de ser moídas.
Uma vez mais dando inequívoca demonstração de que não conhece o funcionamento do setor sucroalcooleiro, o Ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou durante a semana que esse não é o momento para aumentar a mistura de etanol anidro à gasolina, dos 25% atuais para 27.5% cogitados. Quando vejo o Ministro na TV imediatamente aperto a tecla SAP para tentar entender sua peculiar linha de raciocínio. Diz ele que esse momento em que o etanol aumenta sua produção (sic) imagino que deve ser por um processo de biogênese não é hora de aumentar a mistura. Estamos começando a safra e vai reduzir os preço do etanol. Apertei a tecla SAP. Então, vamos lá, agora que começou a safra e temos mais oferta do produto e consequentemente preços mais baixos, não é momento de aumentar a mistura? Difícil entender a lógica desse brilhante genovês.
Limitemo-nos, então, à matemática. Usando como base o fechamento do petróleo em NY na sexta-feira a 100.61 dólares por barril e o dólar encerrado na semana cotado a 2.2430 reais, o valor de equilíbrio da gasolina hoje preço na bomba seria de R$ 3,176 por litro. Com a mistura aumentando para 27.5%, esse preço de equilíbrio cairia para R$ 3,133 por litro. O aumento na mistura criaria uma demanda adicional de 1.1 bilhão de litros e uma redução no preço base da gasolina C de R$ 0.0430 por litro. Para um consumo anual de quase 42 bilhões de litros essa diferença representa uma economia de R$ 1,8 bilhão por ano, que deixariam de sangrar o caixa da estatal do petróleo. Mas para o ministro, a conta deve ser outra.
Muito cuidado com o que se lê na internet. Essa semana correu pelo mercado que o usineiro Maurilio Biagi Filho promovera um jantar em sua casa, dia 7 de abril, para 250 empresários do agronegócio, com a presença de Lula e que um empresário que participava do jantar criou um clima de constrangimento criticando o ex-presidente e essa situação fez o usineiro recuar do convite que recebera para fazer parte da chapa para o governo estadual nas eleições para governador. Nada disso aconteceu. O jantar foi dia 14 de fevereiro num hotel em Ribeirão. A recusa de Maurílio deveu-se a três fatores: não saber dizer o que não pensa (condição essencial para participar da vida política), à pressão da família e à sua saúde. Simples assim.