Publicado originalmente em inglês em 11/11/2020
Se havia alguma dúvida quanto ao alto nível de nervosismo dos investidores com a covid-19, a resposta está na reação ao anúncio da Pfizer (NYSE:PFE) e da BioNTech (NASDAQ:BNTX) na segunda-feira, informando que os ensaios clínicos preliminares da sua vacina experimental mostraram uma eficiência de 90%. Depois disso, praticamente com a mesma velocidade com que os mercados dispararam, os rendimentos dos títulos do tesouro americano, os chamados treasuries, atingiram níveis que não eram vistos desde a aparição da pandemia em março.
Os investidores venderam treasuries, e o rendimento da nota de 10 anos superou 0,97%, cerca de 15 pontos-base acima dos 0,821% registrados no fim de sexta-feira, antes de recuar para perto de 0,96%.
O título de 30 anos também subiu 15 pb, para 1,75%.
A disparada no rendimento é efeito da sua correlação inversa com os preços. O movimento mais do que compensou a perspectiva de estímulo fiscal mais fraco após os resultados mistos na eleição americana.
Surgiram rumores de um “momento da vacina”, além de especulações sobre a disponibilidade geral do imunizante no ano que vem, o que poderia fazer o Federal Reserve revisar seu cronograma de mudança de taxa de juros.
A questão que fica é: por quanto tempo durará esse momento da vacina? Os resultados são preliminares, e o desenvolvimento da vacina ainda levará meses para ficar amplamente disponível, mesmo com um processo de aprovação acelerado. O ressurgimento de infecções pode fazer essa esperar parecer mais longa.
A probabilidade é que os treasuries continuem voláteis, já que as notícias sobre a eleição ainda agitam os mercados. O fracasso de uma “onda azul”, isto é, de uma vitória acachapante dos democratas, fez com que o rendimento do título de 10 anos afundasse de 0,90% para cerca de 0,70%, em vista de apostas otimistas de que os democratas aprovariam um estímulo de trilhões de dólares.
Uma vacina eficiente significaria uma melhora na perspectiva econômica, o que levaria os investidores a deixar de lado os treasuries em favor de ativos mais arriscados. Alguns analistas chegam a dizer que os papéis de 10 anos irão cruzar a marca de 1% e podem alcançar 1,25%, ao passo que outros se mostram mais cautelosos.
Como o número de novas infecções está atingindo recordes diários e os casos nos EUA ultrapassaram 10 milhões na segunda-feira, tudo indica que a pandemia ficará muito pior antes de uma vacina ficar disponível. Ainda não se sabe quando se dará a aprovação, e ensaios mais amplos pode expor riscos à segurança.
Mesmo que uma lei de estímulo seja aprovada antes do fim do ano em um congresso em fim de mandato, provavelmente será menor do que a metade dos US$ 2,2 trilhões buscados pelos democratas, o que pressionará o Fed a fornecer mais acomodação monetária e deprimir os rendimentos.
Tampouco é provável que o Fed abandone sua política de juros perto de zero, que, segundo muitos analistas, coloca em xeque os rendimentos dos títulos. Além da pandemia, o Fed ainda está longe de atingir sua meta de 2% para a inflação.
Os rendimentos dos títulos governamentais da zona do euro também subiram com a notícia da vacina. O rendimento do papel de 10 anos da Alemanha subiu 11 pb, para cerca de -0,505%. (A BioNTech é uma empresa alemã sediada em Mainz e que é uma das pioneiras na tecnologia de RNA mensageiro usada na vacina).
Ao mesmo tempo, os rendimentos dos títulos da Itália e de outros países periféricos se afastaram das mínimas recordes. O rendimento do papel de 10 anos da Itália subiu mais de 10 pb, para cerca de -0,72%.
A União Europeia realizou na terça-feira sua segunda emissão de títulos para apoiar seu programa de combate ao desemprego SURE. Os €8 bilhões em títulos de cinco anos e os €6 bilhões em papéis de 30 anos receberam um interesse 10 vezes maior do que a oferta após a primeira emissão de €17 bilhões no mês passado, que teve um interesse 13 vezes maior do que a oferta, a um recorde de €233 bilhões.