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Visão do Estrategista: O Significado dos Resultados das Big Techs e Decisão do Fed

Publicado 02.08.2021, 12:05
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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AS BIG TECHS…

Semana passada comentei que teríamos dias intensos em termos de resultados corporativos. As maiores empresas da bolsa americana – Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34), Alphabet (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL34) (dona do Google), Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) e Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) – conhecidas como Big Techs divulgaram seus números.

CONFIRA: Calendário de Balanços do Investing.com

Tais empresas juntas respondem por aproximadamente 23% do índice americano e somam mais de US$ 9 trilhões de valor de mercado, logo, é normal que roubem a cena quando divulgam seus resultados. Em linhas gerais e de forma bem resumida, podemos dizer que o Google foi a big tech que apresentou o melhor resultado; a Amazon a maior decepção; Apple e Microsoft bateram as estimativas mas não trouxeram grandes perspectivas para frente; e o Facebook apesar de resultados melhores que o esperado apontou para um cenário mais complexo olhando os próximos meses.

Para o investidor, acho importante ressaltar que todas essas empresas que citei bateram as estimativas de mercado e reportaram resultados robustos com crescimento de receitas, lucros e tudo mais. Quando digo que Amazon decepcionou me refiro as expectativas de mercado. No curto prazo essas “decepções” em um ou outro resultado acabam pesando sobre a ação, mas ressalto que para o longo prazo o que importa de fato é a consistência de seus resultados, os quais, a meu ver, seguiu sendo a tônica nesse semestre.

AGREGANDO….

De forma agregada, até agora o que temos é: 91% das 275 empresas do S&P 500 que divulgaram resultados até agora bateram as estimativas do mercado apresentando um crescimento de lucros de 86%; e 88% delas bateram as estimativas de receitas, com um crescimento médio de 24% de receitas. Outra forma de ver essa robustez dos resultados é através da evolução da margem de lucro das empresas. De acordo com a Factset, a margem de lucro líquido agregada das empresas do S&P 500 que divulgaram seus resultados foi de 12,4%, número maior que a média dos últimos 5 anos de cerca de 10%. Confirmando-se essa margem de lucro, essa será a segunda maior margem de lucro líquido relatada pelo índice desde que a FactSet começou a monitorar essa métrica em 2008, atrás apenas do trimestre anterior.

Gráfico: Lucro líquido das empresas S&P 500 - 3T16-2T21

Fonte do Gráfico: FactSet

EU FALO TUDO QUE ELA GOSTA DE ESCUTAR…

Fora os resultados tivemos, mais uma vez a autoridade monetária americana mantendo os juros inalterados e com um discurso bastante “dovish” na expressão do mercado, ou seja, que aponta mais para os riscos da economia não crescer e com uma postura mais flexível em termos de política monetária.

Na última quarta-feira (28), Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, afirmou que, apesar de a economia americana estar avançando rumo a suas metas, ainda existe um longo caminho até o banco central ajustar suas políticas expansionistas. Ele afirmou: “Nós temos algum caminho a percorrer no que diz respeito ao mercado de trabalho (…) Acho que ainda estamos um pouco distantes de ter progresso substancial. Eu gostaria de ver alguns números fortes de emprego”.

Vídeo: Powell concede entrevista e explica próximos passos da política monetária

O mercado gosta desse discurso: juros baixos, compra de títulos, liquidez abundante. Powell falou novamente aquilo que o mercado queria escutar. Como cantava o Charlie Brown:

“Eu falo tudo que ela gosta de escutar…deve ser por isso que ela vem me procurar”

Discurso de Powell jogou juros americanos para baixo, em especial a curva de 10 anos, que atingiu a mínima de 1,23% na sexta-feira. Seu discurso também influenciou o dólar, que se desvalorizou frente a outras moedas e gerou um salto no ouro.

Entre altas e baixas as bolsas americanas encerraram a semana praticamente estáveis.

DIAGNÓSTICO CORRETO?

Mas, além de falar o que o mercado quer escutar, talvez o diagnóstico do Federal Reserve esteja correto.

LEIA MAIS: Grande Mídia Engrossa Coro de Inflação Temporária nos EUA

Digo isso porque um dia depois tivemos o dado de PIB do segundo trimestre nos EUA. Apesar do forte crescimento de 6,5% no segundo trimestre do ano, a verdade é que o número surpreendeu negativamente, dado que a expectativa era de um crescimento de 8,5%.

O dado mais fraco se deveu a menores exportações, um consumo do governo mais fraco, bem como como um arrefecimento no mercado imobiliário. Por outro lado, o gasto dos consumidores e os investimentos das empresas seguiu forte, o que é bastante saudável para economia. Questão é que de uma forma agregada, os últimos números da economia americana têm decepcionado – o gráfico abaixo do Citi Economic Surprise ajuda a mostrar isso.

Índice de Supresa Econômica dos EUA; fonte: Citi

Portanto, a retirada de estímulos muito prematura poderia jogar por água abaixo a recuperação percebida pela economia americana. Esse é um risco não desprezível, o qual o Fed tem estado de olho.

O BARATO QUE SAI CARO E O CARO QUE SAI BARATO…

Indo pro mercado, apesar do receio com a desaceleração da economia, a verdade é que o mundo tem ido aos EUA. Matéria recente do Wall Street Journal fala disso:

“Investidores em todo o mundo canalizaram mais de US$ 900 bilhões para fundos mútuos e negociados em bolsa domiciliados nos EUA, em uma base líquida, durante o primeiro semestre do ano, de acordo com dados compilados pela Refinitiv Lipper.” Não por acaso o diferencial de performance entre os mercados americanos e o resto do mundo veio abrindo, mesmo com muitos defendendo a ideia de que o mercado americano se encontra caro relativamente (negociando a um múltiplo de lucros maior que o resto do mundo).

Gráfico: Comparação entre mercados EUA e resto do mundo

Casos como o que aconteceu na China ajudam a explicar essa preferência pelo mercado americano. A intervenção estatal em diferentes segmentos de seus mercados afugentou investidores e segundo algumas estimativas gerou perdas de US$ 1 trilhão de dólares. E esse não é um fato isolado, regularmente vemos ou ouvimos casos de intervenções de mercados que são nocivas a atração do capital externo, nós como brasileiros entendemos bem disso, não é mesmo?

Portanto, o respeito a instituições de mercado tem um preço. Se muitos acham o mercado americano é bom lembrá-los que muitas vezes o barato sai caro e o caro é que sai barato.

Era isso pessoal, aquele abraço!!!

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