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Você é um pato? A Teoria da Ruína responde

Publicado 06.01.2025, 13:30

Warren Buffet, o grande investidor, afirma que em toda reunião sempre há um  pato. Se tentar descobrir quem é o pato e não conseguir, o pato provavelmente é  você. 

Desde a Idade Antiga, os povos pensavam mais em guerrear com seus vizinhos,  tomando-lhes toda a sua produção, cultura, civilização e até escravizando os  derrotados, em vez de produzir e melhorar a qualidade de seus produtos através  do trabalho, esforço e dedicação. Pouco importava se suas atitudes implicavam  na ruina dos demais. 

A teoria da ruína é um tópico fundamental na modelagem de risco. Onde há  incerteza e apostas, existirá a probabilidade de ruína, ou seja, falência.  

O jogo é uma atividade universal praticada por quase todos os segmentos das  sociedades, salvo aquelas que, por motivo de doutrinação ética ou moral, se  negam a admiti-lo. Mesmo esses segmentos de exclusos participam dos jogos  montados pela sociedade, mas de forma indireta ou passiva, na maioria das vezes  nem sabem como isso acontece. A despeito do pudor que se possa nutrir por  jogos, já estamos participando ou participaremos de um, estando consciente  disso, ou não. 

Todos que são atraídos para algum tipo de jogo têm o dever de conhecer as regras  desse jogo e a essência da Teoria dos Jogos. 

Joga-se pelo prazer de jogar, mas estudar mesmo, apenas uns poucos o faz. 

Dessa forma, podemos afirmar que a maioria das pessoas se presta,  involuntariamente, para fortalecer os sistemas criados pelos diversos modelos de  jogos, desconhecendo os prejuízos que isso lhes possa causar. 

Na renda variável, podemos destacar como principais agentes do mercado, o investidor no sentido conservador do termo, o hedger, aquele que busca proteção  por meio dos derivativos financeiros e o especulador, que aproveita as imperfeições do mercado, usando algum grau de alavancagem. Poderíamos considerar também todos os anteriores, se revezando e atuando em todas as  pontas, a depender das circunstâncias e de seus interesses. 

No mercado financeiro de renda variável há uma pergunta recorrente: se na alta  todos ganham, quem perde?

A teoria dos jogos pode lançar uma luz sobre essa questão, mas no que tange o  mercado financeiro, podemos admitir apenas em tese, limitando-se a certos segmentos, obviamente. 

Os tipos de jogos mais comuns são praticados no tempo instantâneo, sendo os  mesmos atemporais. Em alguns tipos de jogos é evidente que o ganho de um é  exatamente a perda do outro, porém, há os jogos mais sofisticados, que adquirem  a dimensão tempo em partidas sequenciais, sendo os ganhos de cada partida,  acumulados. O inverso se daria para as perdas. 

Imaginemos um jogo matematicamente honesto, isto é, onde a soma dos ganhos  auferidos por uns sejam exatamente iguais às perdas dos demais participantes. 

Claro que nosso modelo não tem custos de corretagem, taxas diversas, imposto  de renda sobre lucros, salários dos garçons que servem as bebidas, aluguel de  sala de jogos, ISS, ICMS, INSS, ou seja, absolutamente nada que desequilibre a  equação da soma dos ganhos ser igual à soma das perdas entre os participantes. 

Nosso modelo de jogo será por partidas até se chegar a um resultado final, mas  cada partida será do tipo cara ou coroa, de forma que em cada partida haverá um  ganhador e vários perdedores. Apesar de ser do tipo de cara ou coroa, haverá um  número múltiplo de participantes. 

Consideremos, para fácil entendimento, que criamos uma mesa redonda com 12  jogadores iniciais e que 11 desses participantes, os “patos”, entrem no jogo com  10 pedras fichas para apostas. 

O 12° participante, o “lobo”, também chamado banqueiro do jogo, entra com 50  fichas de apostas. Assim temos a quantia de 160 fichas na mesa, que será uma  constante nesse jogo. 

Cada participante poderá jogar uma ficha de cada vez, em cada partida. 

Os 12 jogadores lançam, individualmente, dois dados e somam os pontos obtidos  por cada um. Quem fizer mais pontos nos dados, ganha a mesa, isto é, 12 fichas. 

A teoria estatística nos ensina que, em eventos aleatórios e repetidos, a  frequência tende à probabilidade, quanto maior forem as repetições. (Teorema de  Gauss). 

Fica claro que a probabilidade de cada participante dessa mesa ganhar uma  rodada é de 1/12 avos. 

Caso todos os participantes dessa mesa tivessem um número elevado de fichas,  podendo encarar uma frequência azarada de perdas sem ir à lona, o jogo não teria  fim. Isso porque, com as repetições e dentro da Teoria de Gauss, uma frequência compensatória haveria de acontecer.

Mas nossos jogadores estão limitados a 10 fichas iniciais para cada um. Nessas  condições, havendo uma frequência desastrada para um dos participantes,  digamos de 10 perdas consecutivas, este estará eliminado do jogo, sem fichas. Só  que a mesa continuará com as 160 fichas iniciais. 

Antes que um participante da mesa saia, a média é de 13,33 fichas por  participante. Após a saída do primeiro jogador, essa média sobe para 14,54 fichas  por participante e, com a saída do segundo vai para 16 e segue aumentando, já  que nenhum deles possui número de fichas elevado o suficiente para encarar uma  frequência azarada de perdas. 

Desse modelo de jogo podemos tirar algumas conclusões: 

1-a maior probabilidade de um participante sair do jogo recai sobre os que têm  menos fichas para jogar; 

2-eventualmente um participante “sortudo” pode aumentar tanto o número de  suas fichas que ele assume o lugar do banqueiro; 

3-a conclusão mais importante do jogo é que, para a média de fichas por  participantes aumentar na acumulação como um todo, faz-se necessário que as  minorias sejam levadas à ruína. 

Isso mesmo. Caso o jogo desse sempre uma nova chance das minorias  permanecerem no jogo, essa minoria teria oportunidades de reaver pelo menos  suas fichas iniciais, liquidando com o modelo de acumulação programado pelo  sistema. 

Para que o sistema tenha continuidade no seu processo de acumulação, haverá  sempre a necessidade de se substituir as vagas na mesa do jogo por novos “patos”, preferencialmente aqueles que entrem com poucas fichas. 

Agora está mais claro para os leitores o porquê que o “jogo” no mercado  financeiro provoca, de tempos em tempos, crises que levam a longos e severos  processos de baixa. 

Isso gera uma sequência de perdas que destroem as minorias, capitalizando todo  o sistema, visto que as fichas, (vamos chama-las de ações, CRYPTOS etc.)  continuam as mesmas. Mas os pequenos entregam suas fichas residuais, quando  elas valem pouco, ou quase nada. Em resumo, o jogador quase sempre tem a  desvantagem na assimetria da riqueza e também no desequilíbrio do jogo. 

Com a entrada de novos “patos”, pequenos com poucas fichas, o sistema segue prosperando em um ambiente de ganhos certos e garantidos. Como se fosse uma  sereia a cantar o caminho do paraíso, cria-se um mundo imaginário e perfeito em  que todos ganham.

Evidentemente que o número de fichas, (ações, CRYTOS, etc.) em curtos períodos  de tempo permanece as mesmas. Então, a entrada de novos “patos” trás a liquidez necessária para a saída dos antigos participantes. 

Poderia programar um aumento de fichas (subscrição) para satisfazer a um  número crescente de novos jogadores. Mas para isso se viabilizar, as empresas  teriam que fazer novas chamadas de capital, com emissão de novas ações. 

Mas isso pode ser considerado “concorrência desleal pelos banqueiros do jogo,  pois os recursos aportados pelos novos participantes iriam direto para as  empresas, não mais para comprar suas ações acumuladas em banca”. 

Eles não gostam disso e então, nesses casos, aumentam a oferta de fichas aos  melhores preços, antes que seja tarde. Pressentem a necessidade de se criar uma  nova crise. Deprimindo-se o mercado, as empresas saem do circuito de venda de  ações novas. Os pequenos participantes saem da mesa do jogo e os banqueiros  lentamente recolhem as fichas entregues por qualquer preço. 

Assim cria-se um modelo de acumulação às custas dos outros. As crises e as  euforias não são frutos do acaso. Fazem parte do modelo. 

De todo o exposto nessa temática, podemos concluir que: 

Os “patos” novatos, minoritários e inexperientes sempre sustentam os custos do  sistema. No afã por resultados rápidos, muitos são vendedores a descoberto  (vende ativos alugados) e levam “córner” (escassez na recompra). A maioria  compra opções que viram pó (perde todo o valor). E assim, sempre será para  aqueles que têm mais esperança do que recursos suficientes para suportar as  alternâncias normais do mercado! 

Quanto aos custos de intermediação do sistema, os agentes sustentam que  estão apenas defendendo o seu pão. Não é da minha conta o que cada um faz  pela sua sobrevivência. Sei que as crianças precisam ir á Disney (NYSE:DIS), o carro precisa  ser trocado, mas o padeiro também precisa ganhar o seu! Afinal, está escrito que  nem só de pão viverá o homem, mas também já foi dito que em casa que falta pão  todo mundo reclama e ninguém tem razão! Mas, que não venham mexer no meu! 

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