Gosto da desistência de Larry Summers para presidência do Fed e da provável nomeação de Janet Yellen. Não por razões estéticas, claro – ali, nem mesmo meu amigo Conrado encararia. Yellen representa a preservação de estímulos monetários por mais tempo e intensidade.
Isso não significa falta de preocupação com o Fed. Ao contrário, acho que a reunião desta semana é o evento mais importante do semestre e pode, sim, mudar tudo.
Começo a argumentação pelo balanço do Fed. Olha o que aconteceu desde 2008:
O passivo do Banco Central norte-americano passou de US$ 800 bilhões em 2008 para simplesmente US$ 3,6 trilhões agora. O tsunami de dólares inundou o mundo de liquidez e teve como corolário a vigorosa apreciação dos ativos de risco.
Às vésperas do início da estratégia de saída do QE3, como fica? Difícil saber exatamente. Minha ideia geral é de que, condicionados às informações disponíveis, vale a pena manter-se defensivo e comprar volatilidade – note o VIX baixo para padrões históricos.
Claro que temos a chance de um Ben bonzinho, com implicações favoráveis para ativos de risco. Mas a combinação risco-retorno não parece atrativa. Toparia perder uma eventual valorização inicial em prol da entrada num segundo momento, de muito menor risco. A situação é, sim, extraordinária. E, como tal, exige medidas extraordinárias.
Em caráter excepcional, a publicação da série Ações para ficar milionário, tradicionalmente divulgada às terças-feiras, será postergada para amanhã. Hoje estamos focados em formas de se proteger e, mais do que isso, ganhar dinheiro antes que o Fed mexa com seus dólares. O Relatório Especial de hoje (http://bit.ly/1a0Hawu), da seção Quer Investir?, atende justamente a esse ponto. Portanto, exigia essa urgência em sua elaboração – afinal, precisamos agir antes de Bernanke.
Convido a todos também a assinar o produto (http://bit.ly/1elNPX1) em caráter regular – quem o fizer ainda hoje leva, na faixa, o relatório de ontem da série (“Podemos ficar mais otimistas com ações de consumo e real estate?”).
Há uma série de razões para eu estar particularmente preocupado com o Fed. Quando, há poucos meses, o Banco Central dos EUA flertou com a retirada dos estímulos, o juro do Treasury de 10 anos simplesmente explodiu. Isso tem consequências imediatas sobre portfólios de renda fixa. E vai além: o juro de longo prazo do ativo livre de risco serve de base para o apreçamento de todos os demais. Você parte do risk free e embute em cima dele um prêmio de risco.
Veja o modelo mais simples de apreçamento (CAPM):
Em bom português, o retorno esperado de um determinado ativo é equivalente à taxa livre de risco mais um componente de resposta/sensibilidade do ativo (o tal beta) ao excedente do retorno esperado do mercado frente à taxa livre de risco.
Então, se a taxa livre de risco (juro do Treasury) sobe, o retorno esperado de todos os ativos tem de subir também, o que exige, por álgebra, queda dos preços.
Para o Brasil, em particular, o problema é dobrado. Somos uma Bolsa de commodities, que tendem a sofrer com a menor oferta de dólares, e tradicionalmente mais sensível às condições de liquidez internacional.
Nestes tempos de Rock In Rio, ao menos julgando pelo último final de semana, minha diva continua sendo a Maria Bethânia e sua Tigresa: o mal é bom e o Ben cruel.