Retrato de hoje
Enquanto escrevo, nossa bolsa opera próxima ao zero-a-zero. Nomes de mercado local e externo se alternam entre principais altas e baixas em mais um dia de negociação fraca.
Maior agitação se vê no mercado de juros, com quedas significativas de taxas ao longo de toda a curva em reação ao IPCA-15, divulgado nesta manhã, que veio significativamente abaixo do esperado.
Lá fora, Dow Jones a pouquíssimos pontos de distância dos 20 mil em dia de volume relativamente fraco. Na Europa, preocupações em torno de bancos (detalhes no M5M PRO) ocupam o noticiário e se traduzem em queda moderada.
“Retrato” do amanhã
Todos os bancos estão otimistas com o mercado americano para o ano que vem. Os estrategistas não somente são unânimes em afirmar que o S&P500 continuará subindo em 2017 como apresentam, entre si, a menor dispersão de expectativas para o nível final do índice em uma década.
O valor dessas previsões é zero. São chutes grosseiros que envolvem duas premissas extremamente forçadas: a primeira é que todas as expectativas do mercado convergirão para as suas; a segunda, é que isso tem data marcada para acontecer: em 31/12/2017, todos alcançarão a iluminação.
Isso me remete às “projeções para o Ibovespa”. Já vi serem feitas de três formas:
Primeiro você tenta uma metodologia “bottom-up”, de baixo para cima: projeta os preços-alvo de todas as empresas do índice e mede a quanto o termômetro da bolsa iria se todas as suas expectativas se concretizassem.
Aí você vê o número, fica com vergonha da aparente absurdidade que ele representa — e deixa todo aquele trabalho de lado.
Então você estima o Preço/Lucro do Ibovespa, e tenta adivinhar (chute descarado) quão distante daquela média o índice efetivamente ficará, a depender do nível de percepção de risco que dominará o mercado no ano vindouro.
Só que esse número também não lhe satisfaz.
Então você deixa todo o ferramental de lado e diz que vai subir 30 por cento. Trinta é o número mágico: alto o suficiente para defender que o mercado é atrativo, mas não o bastante para fazê-lo parecer maluco na entrevista para o jornal.
E há quem leve a sério.
Tiro no pé
Este M5M errou, ontem, ao assumir como dado que faltaria quórum na Câmara para votar o socorro aos Estados: não só votaram, como praticamente eliminaram do texto as contrapartidas exigidas pelo Governo Federal para estender a mão aos governadores perdulários.
Fazenda reagiu: mesmo que Temer não apresente vetos ao texto, enfatizaram que a situação de cada Estado merecerá análise individual e que o enquadramento no plano de recuperação continuará condicionado a contrapartidas.
Fazenda retrucou. Mesmo que Temer não vete o texto tal qual passou na Câmara — coisas da República —, situação dos Estados será vista caso a caso e contrapartidas serão, sim, exigidas.
Tenho para mim que a votação na Câmara foi um enorme tiro no pé para os governadores , que não poderão se voltar a seus respectivos grupos de pressão e se dizerem “de mãos atadas”.
A ver.
Uma recomendação inusitada
Por falar em tiro…
Vocês hão de lembrar que, algumas semanas atrás, este M5M recorreu a algumas séries de TV como referência para traduzir em formas inteligíveis alguns conceitos que habitam este terreno baldio que chamo de cabeça.
Em resposta, um leitor mandou um email cujo trecho reproduzo:
Em agradecimento às sugestões de investimento, segue uma recomendação de série um pouco inusitada. Esteja preparado para fortes emoções, muitas horas perdidas e, possivelmente, ser levado para o mau caminho — apesar de algo me dizer que você sempre curtiu games…
— Fernando B.
Intuição é fogo. Sim! Muitas horas da minha adolescência (vamos fazer de conta que já passou a fase…) foram dedicadas a games. E sim, grande parte com jogos de tiro em primeira pessoa.
(Convenhamos: de lá para cá, a coisa melhorou um pouquinho)
Aproveito o gancho para abordar um tema que é recorrente nos e-mails que recebemos por aqui.
Atirador de elite
Imagine que você um(a) atirador(a) de elite no alto de uma montanha, com visão de alvos a diversas distâncias diferentes: 500 metros, 750, 1 quilômetro, 1,5 e 2 quilômetros.
Você pega seu rifle sniper e ajusta a mira para o primeiro… prende a respiração e dispara. Na cabeça!
No segundo, a 750, a você dá uma leve tremida na hora de atirar. Como a distância ainda é relativamente pequena, ainda atinge o alvo com diferença de poucos centímetros em relação a onde você esperava.
O mesmo tremor, em um disparo contra o alvo a um quilômetro e meio de distância, significaria errar em, possivelmente, mais de um metro. Se cair um morteiro no instante em que você puxa o gatilho contra o alvo a 2 quilômetros, já sabe.
Não espirre agora.
E você com isso?
“Ok, barbudo, e eu (e o meu dinheiro) com isso? O M5M não é uma newsletter de investimentos?” — você deve estar pensando. Calma!
Agora vamos olhar para a sua carteira de renda fixa. Aquela NTN-B Principal 2035 é o alvo distante 2 quilômetros. Os desvios são, obviamente, as oscilações de expectativas decorrentes de cada novo fato que surge no mercado.
Explica-se, assim, a volatilidade dos títulos longos. Os vencimentos mais longínquos respondem de maneira mais expressiva aos solavancos do curto prazo. E, em maior ou menor medida, isso é inerente à sua natureza.
É por conta disso que manda a prudência que você, humano (e, portanto, vulnerável em maior ou menor medida ao julgamento da marcação a mercado) suavize a volatilidade da sua carteira de renda fixa distribuindo seus recursos em diferentes prazos.
Ok, e quanto colocar nos diferentes vencimentos? Quanto risco correr?
Para ajudá-lo nesse planejamento, você conta com nossa sniper de plantão, Marília Fontes, à frente do implacável Empiricus Renda Fixa.
Planejamento, disciplina e pontaria é com ela.