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Por Que o Petróleo Deve Continuar em Consolidação (ao Menos no Curto Prazo)

Publicado 17.09.2020, 09:40
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Publicado originalmente em inglês em 17/09/2020

Esta semana tivemos diversas perspectivas austeras para demanda no mercado petrolífero, mas os preços ignoraram esses relatórios e subiram.

Continuamos vendo o petróleo em um padrão de relativa estabilização, com os barris de Brent e o WTI girando em torno de US$ 40 cada um, com o britânico um pouco mais elevado. Grandes mudanças devem ocorrer assim que tivermos uma noção melhor do estado de recuperação econômica mundial, isto é, se ela já chegou, está estagnada ou ainda ocorrerá.

WTI Futuro - Gráfico Semanal

O mercado está esperando para se movimentar com base em grandes mudanças na demanda no curto prazo. Questões de demanda de longo prazo continuam atraindo menos atenção, mas vamos analisar o que ocorreu nesta semana e explorar as implicações para o mercado da reunião de hoje do Comitê de Monitoramento Ministerial Conjunto da Opep+.

BP muda de posição em relação à demanda

A BP (NYSE:BP) divulgou sua Perspectiva Energética de 2020 no início desta semana e ganhou as manchetes ao defender a teoria de que a demanda mundial de petróleo pode ter atingido o pico em 2019. Trata-se de uma radical mudança em relação à sua previsão em 2019, que considerava que o pico de demanda ocorreria em 2030 (que já era uma expectativa agressiva).

O importante a se compreender em relação aos cenários apresentados na Perspectiva Energética de 2020 da BP – dois deles consideram que a demanda petrolífera nunca mais ultrapassará 100 milhões de barris por dia (mbpd) – é que eles na verdade não fornecem uma previsão. Ao contrário, o relatório assume a conclusão conveniente de que uma “transição energética” está se aproximando e explica como vamos chegar lá.

Algumas das razões apresentadas no relatório são suspeitas. Por exemplo, todo cenário – mesmo a versão “conservadora” – considera que os governos continuarão aumentando sua promoção de tecnologias energéticas renováveis, ao mesmo ritmo adotado nos últimos anos.

Isso pode ser verdade se os governos destinarem fundos de estímulo para a promoção da transição energética, mas tudo indica que isso não vai acontecer, por causa dos custos já incorridos neste ano. Além disso, se o atual presidente dos EUA, Donald Trump, vencer as eleições, ele e outros políticos conservadores ao redor do mundo estarão menos inclinados a gastar com planos de transição energética.

O relatório da BP foi concebido de forma a respaldar os planos estratégicos da empresa de abandonar completamente os negócios com combustíveis fósseis – uma tendência crescente entre as petrolíferas europeias. Os investidores não devem usar as projeções da BP para embasar suas considerações sobre o futuro da demanda petrolífera, pois não são realistas.

O relatório não deve sequer ser considerado em conjunto com as previsões fornecidas pela Administração de Informações Energéticas dos EUA (IEA, na sigla em inglês), Agência Internacional de Energia (AIE), Opep e ExxonMobil (NYSE:XOM), pois se destina principalmente a investidores que estão de olho nos planos futuros da companhia e no preço das suas ações, que incluem um dispêndio de US$ 5 bilhões por ano em “tecnologias com baixo teor de carbono” e a transição para alternativas aos combustíveis fósseis, inclusive ao gás natural.

IEA e Opep revisam perspectivas

Em paralelo, tanto a IEA quanto a Opep novamente revisaram para baixo suas previsões de demanda de petróleo em 2020. A razão principal da Opep foi que a organização não considera mais que a demanda se recuperará com tanta força na Índia e outros países asiáticos.

A IEA ecoou o sentimento da Opep de que a demanda no Leste Asiático e na Índia será mais fraca do que o esperado e também considera que as viagens aéreas internacionais e o consumo de combustível de aviação continuarão frágeis em 2021. A instituição espera que a demanda mundial de petróleo atingirá apenas 91,7 mbpd e vê o consumo diminuindo durante o resto de 2020. O mercado não ficou com receio dessas duas revisões, indicando que provavelmente já estava mais cético do que ambas as organizações.

Uma região sobre a qual a Opep e a IEA podem estar equivocadas é a Ásia. Estamos vendo uma fraqueza no consumo petrolífero da China em setembro, mas isso deve ser transitório. Como discutimos nesta coluna na semana passada, a demanda chinesa tem tudo para acelerar no quarto trimestre, assim que os gargalos forem resolvidos e houver mais capacidade de armazenamento.

Também estamos vendo dados preliminares do site GasBuddy e da IHS Markit mostrando que o consumo de gasolina nos EUA vem diminuindo desde o Dia do Trabalho, celebrado há uma semana e meia. É possível que a demanda do combustível acelere com a aproximação do Dia de Ação de Graças (no fim de novembro) e os feriados de fim de ano, mas não está claro se as pessoas se sentirão confortáveis em viajar para ver os familiares em 2020.

Os preços do petróleo ficaram ao largo de todas as previsões pessimistas nesta semana. O WTI se valorizou quase 5% e atingiu US$ 40 por barril na quarta-feira, com base no relatório positivo da IEA, que mostrou que os estoques petrolíferos caíram no país na semana passada. O Brent também subiu para um pouco mais de US$ 42 por barril. Mas nenhuma das referências está conseguindo romper a consolidação de preços até que haja mudanças concretas na economia e na demanda.

Mais cortes de produção da Opep+?

O Comitê de Monitoramento Ministerial Conjunto (CMMJ) da Opep+ realizará uma reunião virtual hoje para avaliar a adesão dos seus membros às cotas e possivelmente fornecer recomendações de mudanças na política petrolífera. Alguns analistas preveem que o CMMJ recomendará mais cortes, já que os preços do petróleo ainda não entraram em tendência de alta.

A Arábia Saudita, entretanto, mesmo com sua forte ascendência sobre o grupo, não está disposta a reduzir ainda mais sua produção. Apesar da queda no consumo doméstico de óleo e gás com a chegada do clima mais frio no país, sua preocupação principal na indústria petrolífera é atender seus lucrativos contratos no Leste Asiático.

Como a Arábia Saudita provavelmente entende que a China e outras nações da região aumentarão sua demanda, é pouco provável que aceite reduções maiores na produção desta vez.

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