À espera de Bonner
Enquanto, lá fora, Bolsas gringas dão uma pausa ao movimento de alta, segue por aqui o sentimento de que agora vai.
Destaques ficam por conta de nomes locais. Juros têm dia ameno. Dólar segue flertando com o patamar de 3 reais, com otimismo internacional em torno de Brasil e expectativas de fluxos adicionais por conta do programa de repatriação (sobre o qual falo mais adiante).
Forbes traz matéria indicando que investir no Brasil é legal: yes, nós temos bananas. Pouco acima dos 68.100 pontos, Ibovespa está a 3,3 por cento de distância da máxima de 2010.
Quantos dias até o William Bonner noticiar que a Bolsa vai bem?
Merposa é quality
Não é segredo que estou — estamos, todos nós aqui — otimistas com as perspectivas do Novo Brasil. Recebemos com alegria os primeiros indícios do mundo real de que seguimos na direção certa, rumo à outra margem.
Mas o dever de ofício me obriga a fazer um alerta aqui:
Quando o pessoal das trading desks começa a fazer piadinhas com aas coisas estranhas que estão subindo (“Tá vendo? Merposa é quality!”); quando aquele seu primo que há três meses atrás ainda estava no CDB do Bradescão começa a dar conselhos sobre quais ações comprar; quando começam a surgir os discursos do tipo “o céu é o limite e quem não tem (muita) Bolsa é louco” … é bom ter um pouquinho de cuidado. Ainda mais quando sopesados os riscos internos e externos que, a despeito de parecerem solenemente ignorados, estão aí.
(Não sabe o que é Merposa? Procure no Google!)
E não nos deixeis cair em tentação
Estou sugerindo fugir para as colinas? Não. Estou pedindo, insistentemente, que você não caia na tentação de deixar seus planos de lado em prol de um suposto momento único no qual não faltará quem sugira que agora, só agora, você deve irall-in em risco.
“Lá vem esse barbudo chato”, talvez você tenha pensado. Insisto: resista asceticamente a essa vontade quase incontrolável de comprar o discurso de que tudo está resolvido e há pela frente um passeio livre de riscos.
Faça o de sempre, com responsabilidade, sem perder de vista que não perder importa mais do que ganhar.
Melhor cedo do que tarde demais
Na gringa, discurso de Yellen reforçou a leitura de que juros virão, preferencialmente, cedo demais a tarde demais. Indicadores positivos reforçam a tese de que economia seguirá pujante a despeito do maior custo de capital.
Trump se regojiza no Twitter da alta confiança e otimismo que o mercado vem demonstrando quanto à sua administração, “mesmo antes do anúncio da reforma tributária”.
Talvez eu seja o último a lembrar que, durante a campanha presidencial, Donald alertava para uma bolha no mercado acionário americano.
Do outro lado do Atlântico, Banco Central Europeu discute relaxar os critérios de compra de títulos visando ampliar a abrangência de seu programa de estímulos: distorções adicionais no custo de capital e volume crescente de créditos duvidosos no bolso da instituição.
Mas não se esqueça: o céu é o limite!
Pimpões
Em Brasília, estão todos pimpões — como disse a Marília em reunião dias atrás.
Aprovação pessoal de Temer é baixíssima. “E daí?”, pensam eles: economia (a real, não o videogame do mercado financeiro) dá sinais de inflexão e ambiente político melhorou.
É o momento em que as raposas mostram os dentes. Você há de lembrar que já declarei preferir um governo acuado, independentemente de sua cor.
Texto do novo programa de repatriação de recursos teve passagem-relâmpago pela Câmara e segue para o Senado, onde também deve tramitar à velocidade da luz. Pressão adicional no dólar, com expectativa de ingresso adicional de recursos — somando-se à boa janela de oportunidade para captações de recursos por empresas.
Aí eles começam a abusar: Romero Jucá tentou emplacar PEC estendendo aos integrantes da linha sucessória presidencial as prerrogativas do chefe do Executivo quanto à reposta em juízo a atos estranhos ao mandato.
Não colou. A despeito da euforia, ainda não estamos tão distraídos assim.