Dia de Maldade
“Bom dia, grupo. Hoje é sexta feira? Grande coisa: o negócio é que é o último dia útil do trimestre — e isso sim, no mercado, é dia de maldade.
Primeiro a gente disfarça: começa o dia com Bolsa no zero-a-zero com discursinho bunda-mole de noticiário ameno. Enquanto isso põe o estagiário apavorando nos fóruns dizendo pra sardinhada que todos os micos mais medonhos da Bovespa vão bombar; que é agora ou nunca.
Aí começa botando ordenzinha pra fazer o cara ganhar confiança. À medida que o fluxo vai vindo, vai puxando. No leilão de fechamento, marca pra cima — deixa o cara ir pro final de semana achando que, dessa vez, a diquinha quente valeu. Todo mundo vai fazer o mesmo, então vai dar uma porrada de volume no final do dia. Ninguém vai perceber a barbaridade que você fez, vai por mim.
E você vai pro final de semana com a cota melhor, às custas dos trouxas de sempre. Chega em casa e abre aquele vinho — não importa se tem paladar pra apreciar; o negócio é que foi caro e você tem que celebrar essa vida de magnata do mercado financeiro.
Semana que vem é de volta ao zero-a-zero; a gente entra vendendo tudo, devolvendo todo o ganho. O que importa é que a cota já marcou.”
(Baseado em histórias reais)
Brado retumbante
Como era de se esperar, começou a choradeira em torno da reoneração da folha.
Nesse contexto é de uma felicidade ímpar o timing da divulgação tanto do déficit de 26,2 bilhões de reais do governo central — pior desempenho para o segundo mês do ano em toda a série histórica — quanto do IBC-Br (“prévia do PIB”) de janeiro com queda de 0,26 por cento ante dezembro. Maus indicadores hão de ser brado retumbante o bastante para encobrir o choro estridente do empresariado.
Governo segue na luta pelos votos para aprovar a PEC da Previdência, e agora constata o desembarque de Renan Calheiros. Repito por pura alegria de viver: está longe de garantida a aprovação da Reforma, e mercado parece não estar dando a mínima para possíveis percalços neste front.
O que deu em Calheiros? O cacique sai da “base alugada” para forjar aliança com Lula visando fortalecer candidatura do filho em Alagoas — diga-me com quem andas e eu te direi quem és. Da noite para o dia, toda a turminha da estrela esquecerá que, até bem pouco tempo atrás, estavam pedindo “Fora Renan”.
Me pá bá
Em semana repleta de discursos de membros do Fed, atenção do mercado para a possibilidade de movimento mais intenso de alta de juros por parte do Tio Sam cresceu. Bons dados de atividade econômica corrente ajudam a suportar a tese de que valuations são sustentáveis mesmo sob maior custo de capital. Ah, é?
Hoje especificamente, contribui para a narrativa o fato de o sentimento do consumidor de março beirar a máxima desde 2005.
Enquanto isso, a equipe de Trump dá largada a estudos sobre comércio internacional. O objetivo é identificar práticas anticompetitivas para abordá-las posteriormente em renegociações de acordos.
Decretos que dão início ao processo foram assinados a uma semana da visita de Xi Jinping… A bom entendedor, me pá bá.
“J”de Jeitinho
A famigerada Taxa de Juros de Longo Prazo — tejotaelepê — foi reduzida de 7,25 para 7 por cento. Tradução: enquanto você está aí pagando juros de três dígitos nas linhas de crédito ao consumidor, os maiores empresários do país — não por acaso, também maiores doadores de toda campanha eleitoral que se preze — pagam uma taxa-base inferior ao nível mínimo ao qual a Dilma mandou a Selic na base do grito. O Brasil é ou não é o país da meia-entrada?
Mas eis que talvez, naquele passo vagaroso de sempre, estejamos em via de deixar de sê-lo. Digo isto porque, ato contínuo, foi anunciada a criação da TLP — que acompanhará o custo da uma NTN-B com vencimento em 5 anos. Ou seja, em teoria (eu disse em teoria) os novos financiamentos concedidos pelo BNDES terão taxa compatível com o custo de captação de recursos do banco.
A diferença entre a TJLP e a TLP é a saída do J de Jeitinho. Um verdadeiro g ol de placa — tão lindo que eu quase esqueci que agora dá pra usar o Cartão BNDES para comprar cacarecos no Submarino.
Numerologia