Por Naveen Thukral
CINGAPURA (Reuters) - O recuo da Rússia de um acordo mediado pela ONU para exportar grãos pelo Mar Negro provavelmente afetará os embarques para países dependentes de importação, aprofundando uma crise alimentar global e provocando ganhos nos preços.
Centenas de milhares de toneladas de trigo encomendadas para entrega na África e no Oriente Médio estão em risco após a retirada da Rússia, enquanto as exportações de milho ucraniano para a Europa serão reduzidas, disseram dois traders de Cingapura.
A Rússia suspendeu neste sábado a participação no acordo de grãos da ONU por um "prazo indefinido", após o que disse ter sido um grande ataque de drone ucraniano à sua frota do Mar Negro na Crimeia.
"Se eu tiver que substituir um navio que deveria vir da Ucrânia, quais são as opções? Não muitas", disse um trader de grãos de Cingapura que fornece trigo para compradores na Ásia e no Oriente Médio.
Os contratos futuros do trigo em Chicago saltavam mais de 5% nesta segunda-feira e o milho subiu mais de 2% devido aos temores sobre a oferta.
É improvável que a Austrália, um importante fornecedor de trigo para a Ásia, seja capaz de preencher qualquer lacuna de oferta, com slots de embarque reservados até fevereiro, disseram traders.
Nenhum navio passou pelo corredor humanitário marítimo estabelecido no domingo. As Nações Unidas, a Turquia e a Ucrânia, no entanto, pressionaram pela implementação do acordo de grãos do Mar Negro e concordaram com um plano de trânsito para segunda-feira para que 16 navios avancem, apesar da retirada da Rússia.
"Temos que ver como a situação se desenrola. Não está claro se a Ucrânia continuará a enviar grãos e o que acontece com as exportações russas", disse o trader de grãos de Cingapura.
TRIGO, MILHO E ÓLEOS VEGETAIS
Os compradores asiáticos que reservam carregamentos de trigo ucraniano incluem a Indonésia, o segundo maior importador mundial do grão, embora a região normalmente dependa da Austrália e da América do Norte.
"Não temos certeza se a Rússia continuará exportando trigo ou se será seguro para navios que transportam trigo russo embarcarem do Mar Negro, mesmo que as exportações ucranianas permaneçam bloqueadas", disse um segundo trader de uma empresa internacional de Cingapura.
As exportações de milho da Ucrânia para a Europa registradas para novembro também devem ser afetadas.
"No que diz respeito à Europa, o milho é um problema maior do que o trigo, já que estamos entrando na alta temporada para o milho ucraniano em novembro", disse o segundo trader.
A decisão da Rússia deve apoiar os preços mundiais do óleo vegetal, uma vez que ameaça as exportações de óleo de girassol da Ucrânia para os principais destinos, incluindo a Índia, o maior importador de óleo comestível.
Os contratos futuros de óleo de palma da Malásia saltaram mais de 4% na segunda-feira.
(Por Naveen Thukral)