Por Maximilian Heath e Daniela Desantis
BUENOS AIRES/ASSUNÇÃO (Reuters) - O setor agrícola da América do Sul, fonte de grande parte da produção mundial de alimentos, saudou o anúncio do Mercosul e da União Europeia nesta sexta-feira de um acordo de livre comércio, embora seus líderes tenham dito que também estão interessados nas letras miúdas do acordo.
O acordo foi firmado na capital uruguaia, Montevidéu, na presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e dos presidentes de Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, os quatro Estados-membros do bloco sul-americano, após 25 anos de negociações.
Agricultores e exportadores sul-americanos estão entusiasmados com o acesso irrestrito ao enorme mercado europeu. No entanto, temores de que cláusulas ambientais limitem o comércio e a oposição de alguns países da UE ao acordo freiam as expectativas.
"Qualquer abertura de mercado é favorável, acho que é uma oportunidade, mas temos que ver as letras miúdas, quais são as condições", disse Carlos Castagnani, presidente das Confederações Rurais Argentinas (CRA), uma das maiores associações agropecuárias do país, à Reuters. "Teremos que analisar o acordo ponto a ponto e trabalhar com os diferentes pontos de vista", explicou o dirigente rural da terceira maior exportadora de milho do mundo. "Temos que garantir que nossa maneira de produzir seja respeitada", disse.
Parte das diferenças entre os blocos decorre das exigências ambientais e sociais feitas pela Europa, como limites ao uso de sementes geneticamente modificadas e ao desmatamento, práticas comuns na América do Sul nas últimas décadas e ligadas ao avanço da produção agrícola.
A câmara argentina de exportadores e processadores de grãos Ciara-CEC destacou que, embora o acordo tenha sido um passo positivo para um bloco comercial que tem sofrido para fechar acordos de livre comércio, o seu impacto real não será imediato.
"O cronograma de redução de tarifas acordado com a Europa significa que os produtos do complexo de cereais e oleaginosas, especialmente produtos como óleo e biodiesel, não terão reduções significativas até o sétimo ou décimo ano", disse o presidente da Ciara-CEC, Gustavo Idígoras, à Reuters.
A Argentina é a maior exportadora mundial de óleo e farelo de soja e, há mais de uma década, a maior fornecedora mundial de biodiesel -- um setor cuja atividade foi duramente atingida por medidas protecionistas da Europa.
O documento agora precisa ser legalizado, traduzido e aprovado pelos Estados-membros e pode até ser bloqueado, com a França como seu oponente mais feroz.
Para o competitivo setor agropecuário da América do Sul, o tratado é "muito importante" em um momento em que as principais economias mundiais ameaçam se fechar, de acordo com Pedro Galli, chefe da Associação Rural do Paraguai, um dos principais exportadores globais de soja.
No entanto, Héctor Cristaldo, presidente da União de Grêmios da Produção, principal associação de produtores de soja do Paraguai, explicou que "estamos esperando o texto primeiro para aprofundar a análise, é um passo que foi dado, mas... os parlamentos têm de aprová-lo, é um processo complexo"
(Reportagem de Maximilian Heath e Daniela Desantis)