Por Letícia Fucuchima e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) -Os preços do açúcar precisam se situar em patamares estruturalmente elevados, acima de 22 ou 23 centavos de dólar por libra-peso, para justificar investimentos em aumentos de capacidade de produção, avaliou a Raízen (BVMF:RAIZ4), maior empresa do setor no mundo.
"Vai demorar um tempo, a gente mesmo na Raízen só vai tomar decisão de investir mais em açúcar se a gente ver que esse horizonte está firme por mais tempo", disse o CEO da empresa, Ricardo Mussa, durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira, após reunião com investidores e analistas.
Com um aperto na oferta antes de a safra no Brasil ganhar ritmo, os preços do açúcar bruto negociados em Nova York atingiram ao final do mês passado o maior nível em mais de 11 anos, acima de 27 centavos de dólar. Nesta quarta-feira, fecharam um pouco abaixo disso, a 25,49 centavos de dólar por libra-peso, perdendo um pouco da pressão altista com a expectativa do avanço da moagem de cana no país em maio.
Mussa afirmou que o mercado mundial do adoçante está "mais apertado", uma vez que a capacidade instalada de produção está "esgotada".
Ele acrescentou que o Brasil, que costuma atuar como "regulador" do mercado, também está no limite da capacidade.
"Hoje tem um risco maior de subida de preços, porque se algum país falhar... Tem uma safra muito boa vindo para o Brasil agora, que pode ajudar no curto prazo, mas estruturalmente esse preço tem que ficar acima de 22, 23 cents", disse o executivo.
MAIOR FATIA
A Raízen estimou que o Brasil deverá ganhar participação nas exportações globais de açúcar para 48% do total transacionado na safra 2023/24, alta de quatro pontos percentuais na comparação com o ciclo anterior, à medida que o maior player mundial ganha competitividade num cenário de maior preço de equilíbrio.
Para as safras seguintes, o país que é o maior exportador global da commodity e tem o menor custo de produção entre os seus principais concorrentes, seguirá ganhando fatia, somando 53% do total (em 2026/27)
A empresa estimou o custo de produção no Brasil em 15,7 centavos de dólar por libra-peso em 2022/23, versus 20,2 centavos do principal concorrente, a Índia, enquanto o custo da Tailândia foi visto em 22,6 centavos.
"O Brasil é o mais eficiente em produção de açúcar... investimentos precisam acontecer, o novo equilíbrio de preço deve se manter até termos nova capacidade instalada", disse o vice-presidente de Trading da Raízen, Paulo Neves.
Ele salientou que estes investimentos em nova capacidade provavelmente acontecerão no Brasil, considerando a maior competitividade brasileira.
A Índia deverá ter fatia do mercado global de 3% na safra 23/24, versus 11% na safra anterior. Já a Tailândia ficará com 15%, versus 14% no mercado anterior.
A Raízen afirmou ainda que está mais conectada aos destinos finais do seu açúcar, entregando hoje 100% do produto próprio ao cliente, versus pouco mais da metade em 2022, quando uma parte ainda era vendida por meio de intermediários.
A empresa ainda reafirmou projeção de elevar a moagem de cana para cerca de 80 milhões de toneladas na temporada 2023/24, iniciada em abril.
A Raízen, que afirma estar em uma "jornada para a recuperação da produtividade agrícola", disse que esse objetivo vai ter impacto relevante de 3 bilhões de reais ao ano, com menos custos e mais produtos.
"Isso é transformacional, muda o patamar da nossa empresa", afirmou o vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen, Francis Queen, durante apresentação.
E indicou que esta estimativa considera aumento para 83 toneladas por hectare a produtividade média da cana própria da empresa na safra 2025/26, versus 70 toneladas/hectare na safra passada (2022/23).
Esses 3 bilhões de reais estão sendo capturados pela companhia "gradativamente", distribuídos metade em diminuição de custos fixos, como maquinário e logística de transporte, e outra metade em disponibilidade adicional de produtos, explicou o CFO, Carlos Moura.
"Estamos seguros que em dois anos fechamos o 'gap' e entregaremos o nosso canavial com este potencial", disse ele.
(Por Roberto Samora e Letícia Fucuchima)