Cadeia de alimentos responde por 73,7% das emissões do país e desmatamento é principal fator, mostra estudo

Publicado 24.10.2023, 08:10
Atualizado 24.10.2023, 08:15
© Reuters. Vista de pasto em área desmatada da floresta amazônica no Pará
19/01/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - As cadeias de produção e distribuição de alimentos foram responsáveis, em 2021, por 1,8 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa do país, ou 73,7% de tudo que o Brasil emitiu naquele ano, sendo a maior parte vindo não da produção de alimentos em si, mas do desmatamento para conversão de vegetação nativa em lavouras e pastos.

Os dados, fruto de um estudo inédito patrocinado pela rede de organizações Observatório do Clima, contabilizam o desmatamento e a mudança no uso da terra, as emissões da agropecuária, como o "arroto do boi", que produz metano, o uso de energia, a produção de resíduos nos processos agrícolas e industriais.

Nessa conta, a produção de carne no país carrega o peso maior das emissões. Não pela produção de metano por parte dos animais, mas porque é na pecuária que acontece a maior parte do desmatamento para conversão em pastagens.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases emitidas em 2021 pelo sistema de produção de alimentos, 77,6% vem da produção de carne. Dessas, 70,6% da mudança no uso da terra -- ou seja, desmatamento. Outros 29,2% vem da produção em si. Os outros 0,2% vem do uso de energia e produção de resíduos.

Se fosse um país, mostra o estudo, a carne bovina brasileira seria o sétimo maior emissor de gases do mundo, à frente do Japão.

Em 2019, ano em que há dados comparativos mais recentes, o Brasil era o terceiro maior emissor no mundo de gases do efeito estufa na produção de alimentos, atrás da China e da Índia e na frente dos Estados Unidos.

Mas, ao contrário desses quatro países, onde a maior parte das emissões vem de atividades agropecuária na pré e na pós produção de alimentos, o peso das emissões no Brasil recai sobre o desmatamento. Ou seja, a recuperação e o uso de terras degradadas para plantação e criação possivelmente faria do Brasil um produtor mais limpo que seus principais concorrentes.

"Esse relatório deveria ser lido pelos representantes do agronegócio e pelo governo como um chamado à responsabilidade", disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

"Ele demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono."

O estudo mostra, por exemplo, que o investimento em recuperação e manejo de solo, com propostas que capturam carbono, já faz o país ter uma captura de carbono de 200 milhões de toneladas de CO2 por ano. Com ainda 96 milhões de hectares de terras degradadas -- que emitem carbono -- o país tem um imenso potencial de multiplicar essa captura.

O que é preciso, dizem os pesquisadores, é dar escala para políticas que incentivem tecnologias de baixas emissões para agropecuária, como plantio direto, recuperação de pastagens com níveis de degradação e implementação de sistemas integrados.

"Por exemplo, em 2021, os solos brasileiros que possuem alguma prática considerada conservacionista, como a aplicação de plantio direto, recuperação de pastagens com níveis de degradação e implementação de sistemas integrados, foram responsáveis pela remoção de 370,8 MtCO2 (toneladas de dióxido de carbono equivalente)", aponta o estudo.

Este ano, o governo brasileiro incorporou ao Plano Safra, de financiamento para a agropecuária, medidas de benefícios para produtores que incorporarem medidas de produção mais verde ou ambientalmente corretas. Quanto mais medidas o produtor adotar, mais recursos com juros menores ele terá direito.

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