Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A demora para a normalização das chuvas nas principais regiões produtoras de soja no Brasil resultará em replantio de algumas áreas em que agricultores se arriscaram a plantar com baixa umidade ou "no pó", segundo agrometeorologistas.
A irregularidade climática, que atrasa o plantio da soja, acentua ainda os riscos de um atraso no ciclo para a segunda safra, de milho ou algodão, que são semeados após a colheita da oleaginosa.
"As regiões em que mais está pegando (o clima irregular) estão localizadas no Paraná, que está realmente com problema, e algumas áreas de São Paulo. Não está chovendo direito e prejudica a germinação (da soja), e já está tendo replantio em algumas áreas...", afirmou à Reuters o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos.
Mas essa adversidade não impacta as perspectivas da safra de soja 2019/20 no maior exportador global, pois ainda haverá tempo para semear os campos dentro de boa janela climática, acrescentaram os especialistas consultados pela Reuters.
"Quem arriscou plantar logo depois do vazio sanitário, esse é quase garantido que terá de fazer o replantio. A planta germinou, mas teve calor. Quem plantou no pó, tem chance de fazer replantio", acrescentou o agrônomo Paulo Cesar Sentelhas, agrometeorologista do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), entidade que reúne pesquisadores do setor.
O replantio aumenta os custos dos produtores com sementes e combustíveis, já que o trabalho tem de ser refeito.
Dados meteorológicos publicados no terminal Eikon, da Refinitiv, apontam que algumas áreas de Paraná --Estado que está entre os principais produtores do Brasil-- estão entre as que receberam menos chuvas nos últimos 15 dias, colaborando para que o plantio avançasse para 22% da área até segunda-feira, ante 38% na mesma época de 2018.
Segundo Santos, da Rural Clima, as condições na safra 2019/20 estão muito parecidas com as registradas em 2017/18, quando o plantio também atrasou e o Brasil colheu sua última safra recorde de soja, de quase 120 milhões de toneladas, segundo os números oficiais.
Para o ciclo atual, analistas de mercado esperam a produção de mais de 120 milhões de toneladas da oleaginosa.
"Este ano pode ser perfeito (para a soja). Lembra que em 2017 também houve um atraso gigantesco e foi a melhor safra de soja do Brasil? Atrasar o plantio de soja não significa quebra de produtividade. Quem está replantando ainda tem como recuperar, é muito cedo para falar em quebra de produtividade", comentou.
Os modelos climáticos apontam que as chuvas não devem se regularizar em outubro, o que aconteceria somente a partir de novembro nas principais regiões produtoras, garantindo boa umidade para quem plantar mais tarde.
Segundo o especialista da Rural Clima, o plantio de soja no Brasil, em 5% da área até o início da semana, está atrasado ante os 10% da mesma época de 2018, mas em ritmo não muito diferente da média histórica para esta época, de 6%.
De acordo com Sentelhas, do CESB, as condições de umidade no solo nas principais regiões produtoras se mostram desfavoráveis e as previsões indicam pouca chuva no centro-sul em outubro.
Dados do Eikon apontam chuvas abaixo da média histórica na maior parte do centro-sul do Brasil até pelo menos o próximo dia 23.
Aquele produtor que pode esperar até novembro tem uma situação mais tranquila para a soja, destacou o agrometeorologista do CESB. "Se ele fizer a semeadura a partir de novembro, a previsão climática está indicando chuvas dentro da normalidade", destacou.
ATENÇÃO PARA A 2ª SAFRA?
Se para a soja um plantio mais atrasado em 2017/18 ajudou numa safra recorde durante a temporada, para o milho segunda safra --que responde por cerca de 75% da colheita brasileira do cereal-- o evento colaborou para uma quebra 17,5% ante o período anterior, já que faltou chuva para uma cultura semeada com atraso.
Mas Santos avalia que há ainda boa oportunidade para plantio de milho na segunda safra 2019/20 dentro da janela climática, que vai até março em algumas áreas do centro-sul.
A analista Daniely Santos, da consultoria Céleres, comentou que chama atenção o atraso no plantio da soja ante o ano passado nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. "Porém, apesar do começo ruim, havendo uma melhora nos níveis de precipitação nos próximos 20 dias, há chance de reversão nesse quadro. Sendo, portanto, cedo para dizermos que esse cenário comprometerá o cultivo da segunda safra", destacou ela.
Na hipótese de as chuvas não serem suficientes e o atraso se agravar, o milho segunda safra ficaria mais exposto ao risco de seca, e mesmo de geadas, no Sul, lembrou Sentelhas. Ele frisou que, numa situação extrema, produtores desistiriam da chamada "safrinha" ou fariam uma safra com menos investimentos, reduzindo aplicações de adubos e pesticidas.