Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizará na quinta e sexta-feira da semana que vem leilões de contratos de opções de venda de arroz para produtores brasileiros, em movimento que busca incentivar um aumento da produção, enquanto pode também resultar na formação de estoques públicos do alimento básico.
Para a iniciativa, no caso de produtores exercerem o direito dos contratos eventualmente adquiridos em leilão, a Conab poderia comprar até 500 mil toneladas, contando com um orçamento de cerca de 1 bilhão de reais, confirmou a estatal, em comunicado na véspera, detalhando a data dos leilões.
Agricultores do Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do Brasil e o Estado com mais contratos à disposição, mostraram-se céticos recentemente sobre o programa de opções, afirmando que os preços sinalizados pela Conab para a compra estão abaixo do mercado neste momento.
Apesar de acumular uma queda de mais de 10% neste mês, o preço do arroz gaúcho está acima de 100 reais por saca de 50 kg. De outro lado, o preço de exercício estipulado para os contratos está próximo de 90 reais por saca.
Caso persista o valor de mercado atual até a data de exercício, não haveria incentivo para vendas ao governo, e o produtor realizaria o negócio no mercado.
Mas a Conab afirmou, após ser procurada pela Reuters, que a safra brasileira deverá crescer 14% em 2024/25 na comparação com o ciclo anterior, para 12 milhões de toneladas, o que indica preços mais baixos na época do exercício dos contratos, no segundo semestre do ano que vem.
"Apesar de atualmente os preços estarem cotados em patamar superior, destaca-se que este momento é de entressafra. Logo, com a expectativa de significativo incremento produtivo no país, há tendência de queda das cotações ao produtor para o ano de 2025", disse a Conab, buscando afastar dúvidas sobre a atração de interesse no programa.
A definição dos leilões ocorre com o plantio de arroz no Rio Grande do Sul -- que responde por cerca de 70% da safra nacional -- já próximo de ser finalizado, segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Mas a Conab destacou que o setor já estava ciente de que o governo faria leilões de contratos de opções desde setembro, no início da janela do plantio gaúcho, o que teria ajudado a estimular um aumento de área plantada de quase 10% no Estado, segundo dados da estatal.
O programa de contratos de opções, contudo, vai ser oferecido também para produtores em outros Estados, além do Rio Grande do Sul. Serão contemplados Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins, à medida que o governo quer incentivar outras áreas produtoras.
A Conab vai leiloar, ao todo, 23.272 contratos de 27 toneladas cada, sendo a maior parte para o Rio Grande do Sul (9.259), seguido por Santa Catarina, com 4.444 contratos, e Mato Grosso, com 2.688.
A Conab reforçou que esta é mais uma iniciativa do governo federal para a formação de estoques públicos, política que foi retomada no ano passado por meio de Aquisições do Governo Federal (AGF) de milho, e neste ano, por meio das operações de AGF de trigo.
Com a formação dos estoques, o governo afirma que tem condições de agir em momentos de escassez de alimentos e alta de preços, vendendo o produto no mercado.
(Por Roberto Samora)