Por Geoffrey Smith
Investing.com – O surpreendente corte de produção anunciado por nove membros da aliança Opep+, no fim de semana, pode ter como foco a ação de vendedores a descoberto, de acordo com os analistas do UBS.
Giovanni Staunovo, estrategista de commodities do UBS, declarou, em uma nota enviada aos clientes do banco, que era possível que o corte surpresa tivesse como objetivo “limpar” posições vendidas no mercado futuro e de opções nas últimas semanas.
O petróleo futuro geralmente registra viés comprador, que atingiu um recorde de 734.000 contratos em 2017 e, desde então, vem diminuindo constantemente, com oscilações significativas no curto prazo. A perspectiva de enfraquecimento da economia global, devido aos aumentos sucessivos das taxas de juros em todo o mundo desenvolvido e na maioria dos países emergentes nos últimos dois anos, havia levado essa posição líquida comprada à mínima de 10 anos de 154.300 no final de março, com cada vez mais players financeiros apostando que os preços do produto cairiam.
O mercado futuro do petróleo saltou com a notícia, mas corrigia levemente na sessão de hoje. Às 12h de Brasília, o barril do WTI, referência nos EUA, recuava 0,25%, cotado a US$ 80,22, enquanto o barril de Brent, referência mundial e para a Petrobras, se desvalorizava 0,40%, a US$ 84,59.
A mudança em relação às compras líquidas já havia provocado críticas dos ministros da Opep nos últimos meses, para quem os mercados futuros estavam desconectados da realidade, em razão da pouca capacidade ociosa.
Eles apontaram para as expectativas de um grande aumento na demanda chinesa este ano, a qual provavelmente superará qualquer queda na demanda dos mercados desenvolvidos. Tanto a Opep quanto a Agência Internacional de Energia (AIE) consideram que o mercado físico passará de uma condição de boa oferta no curto prazo para um déficit substancial até o final de 2023.
"Cortes voluntários na produção não são novidade, mas a escala desta rodada é sem precedentes", declarou Staunovo. "A Arábia Saudita e os outros membros da Opep+ continuam exercendo influência no sentimento do mercado".
Os cortes anunciados no fim de semana farão com que Opep, em conjunto com a Rússia e outros importantes exportadores de petróleo, retirem do mercado o volume de 1,66 milhão de barris por dia. Staunovo estimou que a redução real no fornecimento é mais provável que seja de cerca de 1 milhão de barris por dia, dado que a Opep já estava produzindo abaixo de seu nível-alvo.
O estrategista observou ainda que os cortes podem ter sido uma reação ao governo Biden, que desistiu dos planos de reabastecer a Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA, em uma aparente tentativa de baixar os preços e amenizar a alta inflação no país.
“Os preços mais altos devem dissuadir os produtores de shale oil nos EUA a cortar investimentos”, concluiu Staunovo.