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ENTREVISTA-Agribrasil prevê triplicar originação de grãos do país em 2018

Publicado 15.08.2018, 15:31
ENTREVISTA-Agribrasil prevê triplicar originação de grãos do país em 2018
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Por Roberto Samora e Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) - Com dois anos de operações, a originadora de soja e milho Agribrasil prevê elevar a movimentação de grãos este ano para cerca de 500 mil toneladas, ante 160 mil toneladas em 2017, com a exportação gradativamente ganhando maior peso nos negócios, disse o CEO e fundador da companhia à Reuters.

A Agribrasil, que se diferencia pela atuação no segmento de grãos especiais, opera num mercado dominado por multinacionais do agronegócio. A empresa, hoje com uma estrutura enxuta que dispensa armazéns e unidades de processamento, prevê mais que dobrar o faturamento em 2018 e, em poucos anos, projeta receita bilionária.

Com foco maior em grãos especiais, que podem ter um prêmio de até 20 por cento em relação às commodities comuns, a Agribrasil atende a um mercado de nicho, fornecendo a clientes que não usam grãos transgênicos ou a empresas que requerem produtos com determinadas característias para a fabricação de cerveja ou flocos de milho, por exemplo.

À medida que a originadora de grãos se expande, também prevê ampliar operações no tradicional segmento de commodities agrícolas --este sem qualquer prêmio--, mas que é essencial para impulsionar a empresa nos próximos anos, disse o presidente-executivo Frederico Humberg, em entrevista.

"A venda de produtos tradicionais nos dá competitividade, podemos atuar com a melhor logística, acesso a portos, hedge, nos dá acesso a linhas bancárias. Ela me dá competitividade para fazer a originação dos produtos especiais, e vice-versa", comentou Humberg, com quase 30 anos de experiência no setor, tendo atuado em várias multinacionais.

Por outro lado, aquele produto com algumas características pecualiares, o qual agricultor teria dificuldade em comercializar com algum valor adicional, encontra um canal na Agribrasil.

"Eu posso falar ao agricultor: 'podemos arrumar demanda para esta sua soja especial'", acrescentou Humberg, lembrando que essa é uma boa forma de cultivar um relacionamento comercial, oferecendo algo que as grandes tradings não teriam como fazer.

Do lado dos compradores, o executivo revela que a Agribrasil é a maior fornecedora de soja não-transgênica para a BRF (SA:BRFS3), que utiliza esta matéria-prima em sua operação de Videira, Santa Catarina.

A companhia também abastece clientes que não têm operações no Brasil, como a processadora de carne de aves norte-americana Perdue ou a francesa Invivo, ou que contam com pequena presença no país e precisam de um relacionamento local.

Com experiência de quem já foi 14 vezes para a China, o executivo, que já trabalhou em grandes companhias como Glencore (LON:GLEN), Bunge e Gavilon, conta ainda com a pujante demanda chinesa para impulsionar os negócios.

Humberg, que fala mandarim, ressaltou que há um grande potencial para ampliar vendas para processadoras de soja na China, onde há restrições à atuação de multinacionais norte-americana e os players locais são dominantes e pulverizados.

CRENÇA NA OUSADIA

O executivo disse que a estratégia da Agribrasil tem dado resultado, e os números do primeiro semestre confirmam, indicando boas perspectivas futuras.

A empresa já superou, nos primeiros seis meses de 2018, o faturamento de 85 milhões de reais registrado em todo do ano de 2017. O montante, apesar de expressivo, representa apenas o valor aproximado da carga de um navio de soja.

Para 2018, a expectativa é de que as receitas fiquem em cerca de 250 milhões de reais, com a parte de grãos especiais reduzindo participação no total do negócio, ainda que a companhia tenha ambição de se tornar líder na América Latina na originação deste tipo de produto.

Por enquanto, a empresa tem escritórios em cinco Estados brasileiros (São Paulo, Goiânia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná), além de possuir uma subsidiária na Suíça, mas há planos de expansão para Paraguai, Uruguai e Argentina.

Humberg explica que há limites na demanda de produtos especiais ou não-transgênicos, por exemplo, algo que limitaria a expansão da companhia se a empresa ficasse fora do mercado de commodities propriamente dito.

O executivo, que fundou em 2006 a Agriservice --fornecedora de serviços integrados para a comercialização de grãos, vendida para a norte-americana Gavilon anos depois--, projeta para 2019 um novo salto no faturamento para 600 milhões de reais.

Trabalhando em um segmento de receita milionária mas de margens relativamente pequenas, Humberg diz confiar que a Agribrasil atingirá suas ousadas metas, já que ele fez algo semelhante nas empresas em que fundou ou trabalhou.

No prazo de cinco anos, o plano é faturar 1,9 bilhão de reais, com o segmento de grãos especiais respondendo por 200 milhões de reais do total. Apesar do salto na receita projetada, a Agribrasil ainda seria uma companhia com uma participação mínima no mercado de grãos do país.

Nesse empreendimento, Humberg calcula que a empresa consiga seguir sem aportes de terceiros até um faturamento de 500 milhões de reais. Ele conta atualmente com outros dois sócios minoritários.

Diferentemente do que aconteceu com a Agriservice, no entanto, o executivo não pretende vender o negócio para uma companhia maior.

"Vou precisar de sócios, mas não montei a empresa para vendê-la depois."

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