Por Ana Mano e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A trading brasileira Lotus Grains & Oilseeds, que nasceu em 2017 com a proposta de originar grãos sem a pesada estrutura das operadoras tradicionais, está em busca de um sócio estratégico na Ásia ou Europa, disse um executivo à Reuters nesta sexta-feira.
Com sede no Brasil, maior exportador de soja do mundo, a Lotus não possui armazéns ou instalações portuárias, ao contrário das grandes empresas do setor, um modelo que pretende driblar as apertadas margens em negociação de commodities agrícolas.
"Não preciso assumir compromissos com prestadores de serviços (ferroviários ou portuários), consigo arbitrar melhor, aproveitar melhores as oportunidades", disse o presidente-executivo e fundador da empresa, Thiago Piccinin, em entrevista.
A ideia, acrescentou o CEO, é vender uma participação minoritária na companhia. Com um parceiro internacional de peso, a Lotus gozaria de mais credibilidade para operar em um mercado em que há muitos negócios entre as próprias tradings, além de garantir que existe demanda para os grãos que pretende originar.
Em poucos meses de operação, a Lotus comprou 30 mil toneladas de soja e pretende expandir para até 4 milhões de toneladas anuais de grãos, inclusive milho, em até seis anos, disse Piccinin.
"A proposta não é competir com as grandes tradings, é operar onde elas não conseguem estar", comentou ele, lembrando que a meta futura de originação da Lotus é bem pequena perto do total que o Brasil exporta de soja e milho, atualmente em torno de 100 milhões de toneladas ao ano.
O executivo, que trabalhou na Nidera e na Archer Daniels Midland (ADM), passou duas semanas na China em outubro passado, conversando com possíveis parceiros. Ele revelou que espera fechar o acordo em algum momento em 2019.
O CEO se recusou a falar sobre com quem negocia, pois as conversas não são vinculantes e permanecem confidenciais. O potencial investidor deve ser uma trading, que normalmente opera também unidades de processamento.
Piccinin disse que toda a soja originada pela empresa neste ano foi vendida no mercado doméstico, onde as margens de esmagamento da oleaginosa se tornaram atraentes depois que uma seca causou a quebra da safra na Argentina, afetando o processamento naquele país. A Argentina é o maior exportador de farelo de soja do mundo.
Mas o foco principal da Lotus deve ser mesmo a exportação de soja e milho, por meio de originação de pequenos volumes, beneficiando-se da sua estrutura "asset light".
"Quanto maior o lote originado, maior o custo", disse ele, acrescentando ainda que, como não tem a necessidade de estar no mercado todos os dias, até pelas baixas metas de originação, a empresa consegue aproveitar também momentos em que o frete está mais baixo para realizar bons negócios.
Operar em um nicho de mercado marca uma mudança em relação a um modelo baseado em grandes volumes de granéis, em uma época em que os operadores tradicionais de grãos estão lutando para recuperar margens após colheitas abundantes mundo afora.
Piccinin disse que uma estrutura com muitos ativos e funcionários significa um custo de originação de grãos de 6 a 7 dólares por tonelada de soja, enquanto o objetivo da Lotus é mantê-lo em 1 dólar por tonelada.
A empresa projeta receita bruta de 1,2 bilhão de dólares quando atingir a meta de 4 milhões de toneladas, sendo 2,5 milhões de soja e 1,5 milhão de milho, disse o executivo.
A empresa já conta com escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Sinop (MT)e Novo Progresso, este último município situado no Pará, que integra um novo corredor de exportações pelo Norte do país.