O Ibovespa acelerou o ritmo de alta no fim da manhã desta terça-feira, renovando máxima, coincidindo com o avanço dos índices futuros de Nova York, onde há a expectativa pela definição da eleição de meio mandato nos EUA. Internamente, o mercado acompanha as discussões em torno da transição de governo.
O índice Bovespa, que abriu em queda, mudou para alta, chegando a testar a marca dos 116 mil pontos. Isso porque há uma pressão sobre o novo governo em relação ao fiscal e quanto a um anúncio de nomes que comporão a equipe econômica do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) reafirmou, ao chegar ao Centro Cultural Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), sede do governo de transição, que alguns nomes da equipe da passagem de bastão podem sair ainda hoje.
Na véspera, a especulação de que o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles não fará parte da nova gestão como ministro da Fazenda e de despesas fora do teto de gastos levou o índice a fechar na contramão de Nova York. O Ibovespa caiu 2,38%, aos 115.342,40 pontos. Às 11h34, contudo, subia 0,59%, aos 116.020,80 pontos, ante máxima diária aos 116.086,82 pontos, com elevação de 0,65%.
Apesar da valorização, Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, pondera que o mercado segue atento ao debate em torno do fiscal do novo governo. "O político domina o cenário local. Tem a indefinição de um nome final para a Economia equipe econômica, sobretudo para a Fazenda. Isso claramente acaba não sendo positivo", avalia, completando ainda que há todas as incertezas em relação ao tamanho do gasto da PEC de Transição.
A despeito da queda do petróleo no exterior, as ações da Petrobras (BVMF:PETR4) tentam alguma recuperação, mas com instabilidade. Os investidores seguem cautelosos quanto à gestão da empresa no próximo governo e ainda sobre a medida cautelar em ação sobre dividendos da companhia.
Já a alta do minério de ferro na China estimula alta dos papéis do setor e ao próprio Ibovespa, bem como a moderada elevação das bolsas americanos. A matéria-prima negociada na bolsa de Dalian teve alta de 2,64%. Vale ON (BVMF:VALE3) avançava 2,06%.
De acordo com Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos, os principais contribuintes da aceleração do Ibovespa é o exterior, além da alta das ações ligadas a commodities metálicas. "Papéis relacionados ao consumo que eventualmente poderiam se beneficiar de uma melhor percepção política não estão se destacando, com exceção de Carrefour (BVMF:CRFB3) (alta de 2,89%), mas é algo específico", afirma Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.
O Carrefour Brasil informou hoje que iniciou os estudos para um potencial 'carve-out' de sua Unidade de Negócios Imobiliários. Segundo a varejista, a efetiva implantação do Projeto criaria uma das maiores empresas de empreendimentos imobiliários com foco no varejo da América Latina e permitiria a estruturação de uma NewCo com mais de R$ 1,5 bilhão de lucro operacional líquido (NOI, na sigla em inglês) - o Carrefour Real Estate.
Contudo, a volatilidade segue no jogo, seja porque não se tem no radar um sinal de que os temas que incomodam o mercado serão definidos tão logo, seja devido à agenda esvaziada de indicadores aqui e no exterior. Nos Estados Unidos, os investidores acompanham a eleição de meio mandato. No Brasil, a safra de balanços fica no radar, com a espera maior para a divulgações após o fechamento da B3 (BVMF:B3SA3) de Bradesco (BVMF:BBDC4), Braskem (BVMF:BRKM5) e 3R Petroleum (BVMF:RRRP3), por exemplo.
"As atenções devem continuar voltadas a fatores locais, após a piora de sentimento observada ontem diante de especulações em torno da formação do ministério do novo governo, em especial para o comando da área econômica", cita em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Nesse sentido, acrescenta o economista, a percepção de menor probabilidade da escolha recair sobre Meirelles e o surgimento do nome do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) contribuíram com a forte virada dos preços dos ativos locais.
"Com novos rumores de composição dos ministérios surgindo desde ontem, é provável que os mercados mantenham o tom negativo, ao menos até que as escolhas oficiais sejam feitas", afirma Campos Neto.
Já na seara fiscal, ele acrescenta que fica no radar a informação de que a equipe de transição aponta a necessidade de um gasto fora do teto de R$ 175 bilhões, mas que o tema ainda será negociado no Congresso.
Além disso, os investidores ficarão atentos à possibilidade de a Câmara dos Deputados acionar uma pauta-bomba engatilhada até o final do ano que pode tirar mais de R$ 100 bilhões de arrecadação do Orçamento da União, dos Estados e dos municípios em 2023.