SÃO PAULO (Reuters) - A exportação de café verde do Brasil atingiu 3,266 milhões de sacas de 60 kg em março, queda de 5,8% na comparação com o mesmo período de 2021, influenciada por menores embarques de grãos canéforas (robusta ou conilon), que vêm tendo grande demanda local, informou nesta segunda-feira o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Os embarques de café canéfora --embora representem uma pequena parte do total exportado pelo Brasil-- tiveram impacto no total da exportação, uma vez que recuaram 64,6% em março, para 123,4 mil sacas, segundo dados do Cecafé.
Já os embarques de café arábica, que responderam por quase todo o volume, avançaram 0,7% na comparação anual, para 3,142 milhões de sacas em março.
"Com os altos níveis de preço do arábica, interna e externamente, as indústrias brasileiras fizeram um rearranjo em seus 'blends' e vêm utilizando mais conilon (robusta), cujas cotações são menos elevadas", disse o presidente do Cecafé, Nicolas Rueda.
Ele comentou que a exportação de café arábica, mesmo em plena entressafra cafeeira no Brasil, registrou o melhor resultado para o mês dos últimos cinco anos.
"Diante da menor disponibilidade de café nessa época, o ligeiro avanço observado é resultado da gradativa melhora no cenário logístico, que vem possibilitando os embarques previstos para o mês somados às cargas retidas nos meses anteriores", explicou.
"Entretanto, é imprescindível destacar que a situação logística ainda está aquém da normalidade, demandando muitos desafios aos exportadores", concluiu.
Com o desempenho do mês passado, os embarques totais no acumulado do ano safra chegam a 30,256 milhões de sacas (incluindo café industrializado), recuando 16,5% em relação ao volume exportado entre julho de 2020 e março de 2021.
Em receita, houve evolução de 29,5%, com o valor saltando para 5,901 bilhões de dólares.
O presidente do Cecafé considerou que, apesar da queda, o desempenho atual é positivo, principalmente pelos entraves que os exportadores brasileiros continuam enfrentando, como a questão de oferta de contêineres para as exportações.
"Estamos na entressafra e com uma menor oferta no ciclo atual, seguimos com gargalos logísticos e, mais recentemente, os embarques passaram a ser impactados pelo conflito na Ucrânia. Ainda assim, as remessas na temporada 2021/22 são idênticas às registradas nos mesmos nove meses da safra 2019/20, última de ciclo baixo dentro da bienalidade característica do cinturão cafeeiro do Brasil", argumentou.
O prolongamento do conflito na Ucrânia já apresenta impactos nas exportações brasileiras de café. Em março, as remessas totais para a Rússia diminuíram 19%, por exemplo.
"Mesmo sendo inimaginável vivenciarmos uma guerra e todo o seu trágico fator humano em pleno século XXI, esse cenário reflete a impossibilidade de se enviar contêineres e embarcações a esses destinos, com a paralisação dos trabalhos das agências marítimas na Rússia e o colapso na Ucrânia, além da retirada das instituições financeiras russas do sistema financeiro Swift, o que dificulta negócios com os parceiros locais", destacou o presidente do Cecafé.
A Rússia passou de sexto para o oitavo lugar no ranking dos principais importadores no primeiro trimestre. Os russos adquiriram 268.754 sacas de janeiro ao fim de março, volume que representa queda de 19,3% na comparação com o mesmo intervalo de 2021.
(Por Roberto Samora)