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Indústria pede mais prazo para Brasil importar arroz sem tarifa, cita logística e clima

Publicado 26.11.2020, 16:51
© Reuters. Prateleiras com arroz em supermercado no Rio de Janeiro (RJ)
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Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - Indústrias de arroz formalizaram um pedido ao governo brasileiro solicitando a extensão do prazo de uma cota que permite que o país importe o cereal de fora do Mercosul sem tarifa, em uma medida que poderia beneficiar principalmente os Estados Unidos.

O pedido foi feito após problemas de logística para a entrega de produtos adquiridos na Índia, conforme representantes do setor ouvidos pela Reuters, que citaram que a indústria ainda lida com alta dos preços.

Um conjunto de fatores que culminaram em recordes de preços internos do arroz levou o Ministério da Economia, em setembro, a zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) para uma cota de 400 mil toneladas até 31 de dezembro. Agora, o sindicato da indústria de arroz de Minas Gerais (Sindarroz/MG) tenta prorrogar este prazo para 28 de fevereiro.

"Tivemos falta de contêiner na Índia, porque a demanda aumentou muito e as tradings que nós negociamos também subiram os preços dos contêineres", disse o presidente do sindicato, Jorge Tadeu Meirelles.

Ele afirmou que, das 25 mil toneladas negociadas com o mercado indiano, somente 8 mil chegaram ao Estado, e o produto passa por um deslocamento que demora em torno de 65 dias para atracar nos portos brasileiros, o que excederia a data limite para a cota.

"Também levamos em consideração que a safra nacional pode ter problemas (por seca), e no Paraguai (fornecedor do Brasil) há relatos de produtores fazendo replantio por conta do clima", justificou.

Diante deste cenário, Meirelles disse que o sindicato fez uma carta que passou pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), com o apoio do governo estadual, e foi direcionada à Câmara de Comércio Exterior (Camex) e ao Ministério da Agricultura.

Temas referentes a alterações tarifárias dependem de deliberação do Comitê Executivo de Gestão da Camex (Gecex). A próxima reunião ordinária do Comitê, conforme o site da Camex, está prevista para ocorrer no dia 16 de dezembro.

Procurado, o Ministério da Economia afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que devido ao regimento interno não pode fazer comentários antes de análises do Gecex e de eventual publicação pela Camex. A pasta destacou, no entanto, que o tema poderá ser pautado caso algum dos membros do comitê solicite sua inclusão.

Já o Ministério da Agricultura informou à Reuters que não recebeu a demanda do setor industrial.

A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) disse, sem detalhar, que as unidades de Minas Gerais não fazem parte de seus associados e, dentre as companhias vinculadas à entidade, não foi recebida nenhuma demanda para prorrogação do prazo de isenção da TEC.

"Tem entidades comentando de pedir uma prorrogação das cotas, não é o nosso caso", disse a diretora-executiva da Abiarroz, Andressa Silva.

Ele acrescentou que a estimativa da associação para o volume de produto negociado fora do Mercosul, pela cota, continua em torno de 200 mil toneladas, semelhante ao projetado à Reuters no fim de setembro.

Os Estados Unidos continuam figurando como principal fornecedor, seguido pela Índia e Tailândia. O cereal da Guiana também foi adquirido, porém, há relatos de problemas no desembarque por expurgo. Em condição de anonimato, uma fonte afirmou que foram encontrados insetos em lotes do país sul-americano.

NEGÓCIOS E PREÇOS

Em outubro, as importações de arroz cresceram 114% para o produto sem casca, ante igual período de 2019, mas não houve influência da cota. Segundo o Ministério da Economia, os principais fornecedores foram Uruguai, Paraguai e Argentina, países que já são isentos da tarifa de embarque.

Neste mês, até a terceira semana, dados da Secretaria de Comércio Exterior indicam que a média de importação do produto com casca disparou 291% ante novembro de 2019, para 2.169 toneladas por dia. Para o arroz sem casca, as compras saltaram 146,8%, para 4.928 toneladas diárias.

O entrada destes produtos ainda não representou quedas significativas para os preços do cereal no Brasil, mas funcionaram como um "teto" limitando maiores altas, avaliou o analista da consultoria Safras & Mercado Gabriel Viana.

O indicador do arroz em casca Esalq/Senar-RS terminou a quarta-feira cotado em 102,65 reais por saca de 50kg, valor ainda próximo do pico de 2020, de 106,34 reais, registrado em outubro --o valor também é um recorde histórico.

"Calculamos que o arroz dos Estados Unidos chega ao Brasil por 109 reais por saca sem TEC. Com a TEC, seriam 123 reais. Já o produto do Mercosul tem custado entre 112 e 115 reais por saca, isso significa que o norte-americano é a atual alternativa mais competitiva", afirmou Viana.

Sobre a safra, ele disse que ainda não foram confirmadas perdas decorrentes da seca no Rio Grande do Sul, principal produtor do país, mas existe a possibilidade pois o nível de água nas barragens de irrigação está baixo.

"O clima em períodos de La Niña costuma ajudar o desenvolvimento do cereal, mas a longa estiagem dos últimos meses deixou os reservatórios baixos e poderá faltar água no fim do ciclo", acrescentou o meteorologista da Somar Celso Oliveira.

© Reuters. Prateleiras com arroz em supermercado no Rio de Janeiro (RJ)

Segundo ele, o estado de atenção vale tanto para o Sul do Brasil quanto para o Mercosul, pois a previsão é de chuva abaixo da média também no Uruguai, Paraguai e Argentina nos próximos meses.

(Por Nayara Figueiredo; edição de Roberto Samora)

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