Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado para implantação de placas solares em telhados começa a chamar a atenção do governo brasileiro, com planos do Ministério de Minas e Energia de incentivar essa modalidade e estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre como financiar instalações do tipo, que ganham cada vez mais espaço na Europa e nos Estados Unidos.
"Vemos, e isso é muito certo, um crescimento muito, muito grande da geração distribuída solar... a partir de quando tiver um mecanismo de financiamento disso para o consumidor, esse vai ser um mercado que vai explodir no Brasil, não tenho dúvida nenhuma", disse nesta segunda-feira o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, durante evento em São Paulo.
No mesmo seminário, a superintendente de infraestrutura do BNDES, Nelson Siffert, confirmou que o banco estuda oferecer apoio a esse segmento por meio do Cartão BNDES, pelo qual micro, pequenas e médias empresas têm acesso a crédito pré-aprovado do banco no valor de até 1 milhão de reais, com taxa de juros pré-fixada e parcelamento em até 48 meses.
"Imaginamos em breve colocar entre os itens financiáveis pelo Cartão BNDES o painel fotovoltaico. O que imaginamos no banco é que à medida em que essa indústria se desenvolver, você pode colocar produtos automáticos, que permitam ao pequeno comerciante, à pequena indústria, investir na geração fovotoltaica", disse Siffert a jornalistas.
Segundo o executivo, os equipamentos financiados pelo cartão precisarão cumprir com o índice de nacionalização exigido pelo BNDES, que prevê o aumento gradual do conteúdo local nos módulos solares.
"Você vai ter que desenvolver no Brasil uma indústria de prestadores de serviços que façam essa montagem utilizando painéis credenciados pelo Finame (lista de itens financiáveis pelo BNDES)... o investimento necessário para se tornar um fabricante de painel solar não é muito alto", destacou Siffert.
EMPRESAS DE OLHO NA NOVIDADE
Diversas empresas já se movimentam de olho nesse mercado. A Alsol, uma start-up apoiada pelo Grupo Algar, tem inclusive oferecido um serviço gratuito, por meio do aplicativo para celulares WhatsApp, para que qualquer pessoa possa verificar o potencial de geração solar de seu telhado.
Basta enviar uma foto da conta de energia, que a empresa faz os cálculos com base na localização, obtida pelo GPS do aplicativo, e em bancos de dados próprios sobre os níveis de irradiação solar.
"Pensamos nisso devido às dificuldades que existem até o cliente entender como isso funciona, quanto custa o kilowatt-hora... cada distribuidora tem uma conta, é um processo longo, e pensamos em um jeito de atender a necessidade do cliente em no máximo uma hora", explicou o diretor técnico da Alsol, Gustavo Malagoli.
A empresa, que já tem cerca de 80 pequenas instalações fotovoltaicas em operação, oferece o serviço em Belo Horizonte e Uberlândia, em Minas Gerais, mas a ideia é expandir a rede para todo o país ainda este ano.
"Houve um boom nas procuras desde o momento em que aconteceu o aumento extraordinário das tarifas", disse Malagoli, em referência a um reajuste de mais de 20 por cento nas contas de luz autorizado no final de fevereiro pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em meio ao intenso uso, no país, de termelétricas, cujo custo de operação é elevado.
As grandes elétricas do país também apostam no potencial da tecnologia. A EDP (SA:ENBR3) Energias do Brasil, por exemplo, pretende viabilizar instalações solares por meio da empresa de serviços EDP Grid, que recentemente comprou a empresa de conservação de energia APS para ganhar força nessa área.
"Estamos nos preparando. A EDP tem experiência muito grande em microgeração solar na Europa e na península Ibérica, toda uma expertise que queremos trazer para o Brasil, aproveitando esse potencial de mercado", disse em entrevista recente à Reuters o vice-presidente de Comercialização da EDP Brasil, Carlos Andrade.
A CPFL Brasil, empresa de serviços do Grupo CPFL, e a Renova Energia (SA:RNEW11), braço de investimentos em renováveis da mineira Cemig (SA:CMIG4) que tem como sócia a norte-americana SunEdison, também têm desenvolvido projetos de geração solar distribuída.
Segundo o Instituto Ideal, que tem como objetivo incentivar fontes limpas de energia na América Latina, a elevação das tarifas neste ano faz com que instalar placas solares já seja um bom negócio em quase 75 por cento dos Estados brasileiros.
"Nada nos mostra que isso vá se reverter. As tarifas vão continuar sendo reajustadas, enquanto os equipamentos fotovoltaicos vão seguir em curva decrescente de custo no mundo todo, o que vai tornar esse mercado bastante competitivo e atraente", disse à Reuters o presidente do Ideal, Mauro Passos.